sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Xodó, pequeno índio Carlinhos tenta entender a dor: ''Só sinto a Chape''

Mascote da equipe catarinense é amuleto na cidade e símbolo de reconstrução

Por Chapecó, SC
Crianca Torcedor da Chape (Foto: infoesporte)Carlinhos não entende o luto estampado no símbolo da Chapecoense(Foto: infoesporte)
Antes mesmo de nascer, Carlinhos já dava indícios que a Arena Condá seria seu reduto preferido. Sua mãe, Maria Antonia, estava grávida de nove meses quando quase entrou em trabalho de parto na arquibancada do estádio. Puro carisma e com um olhar doce, o xodó local sempre foi mais que um mascote. É uma personagem capaz de cativar até mesmo um torcedor adversário, além de uma espécie de amuleto para a equipe catarinense. 

Agora, em tempos de tristeza e luto, é mais um retrato de uma Chapecoense que precisa olhar para frente. Sem os heróis do gramado, a presença de Carlinhos se torna mais do que nunca um alento.  Ao ser questionado sobre o que sente, emociona.
- Eu não sinto nada. Só sinto a Chape - diz o indiozinho, antes de sair correndo para brincar.

Carlinhos está sendo um menino corajoso. Acostumado a frequentar o estádio desde os 15 dias de vida e a desfilar seu carisma fantasiado de índio condá antes dos jogos, desta vez, precisou cruzar o gramado do estádio em dia de luto. Se assustou, naturalmente, e chorou. Mas, afinal, quem não chorou?

É muito difícil para o menino entender o que acontece. É muita informação ao mesmo tempo. Carlinhos oscila da emoção ao ouvir a mãe falar do goleiro Danilo, seu jogador preferido, e da vontade de simplesmente brincar no seu gramado. O índio da Chape não entende direito o que é o símbolo de luto. A faixa preta presa em seu uniforme verde incomoda. Chorando pede para a mãe tirar.
índio Condá Chapecoense mascote (Foto: MARCELO D. SANTS/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)Carlinhos de índio condá em homenagem (Foto: MARCELO D. SANTS/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO)

A mãe Maria Antonia tenta dosar a quantidade de emoções. O receio é pelo que ainda estar por vir. Existe muita preocupação sobre como o menino símbolo do time irá lidar com a chegada do velório no gramado que se tornou sua passarela. Ele também participará da cerimônia deste sábado.

- A gente não está escondendo nada dele. Como ele vai perguntando, a gente vai explicando. Vamos ver quando chegarem (os corpos). 

Carlinhos é amuleto
O pai do pequeno índio de Chapecó é Alessandro Garcia. Torcedor apaixonado, é presidente e fundador de uma torcida. Ele pegou um cocar que tinha em casa, em referência ao mascote do clube, e colocou na cabeça do garoto.     
- Perguntei se ele queria ir assim para o estádio. Aquele piazinho (menino) pequeno. Com aquele cocarzão na cabeça. Liguei para o Madruga, o mascote do índio maior. Desde então, não parou mais - conta o pai.
Mãe e índio Condá Chapecoense (Foto: Amanda Kestelman)Pequeno Carlinhos com a mãe (Foto: Amanda Kestelman)
- A coisa ganhou uma proporção que não imaginávamos. A gente aqui do Interior não sabia nem o que era Instagram (risos). Aí o repórter me ligou e falou que meu filho estava no Instagram da Fifa com mais de 25 mil curtidas. Aí eu perguntei para ele: o que é isso?! (risos) Aí ele me explicou mais ou menos. Dali tomou uma proporção. 

O repórter que procurou o pai de Carlinhos na ocasião era Laíon Espíndula. Companheiro do GloboEsporte.com que, cobrindo a Chapecoense, morreu no voo que ia para a Colômbia. As lembranças mais recentes na memória ainda pouco recheada do menino talvez só façam sentido adiante. Que a pureza de quem mistura o choro com a vontade de brincar dê força para que o time que tem adoração pelo menino, se erga novamente. 

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