quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Gasparzinho diz ter sido preterido no TUF e revela 'trato' para voltar ao UFC

Lutador pretende deixar brincadeiras de lado e reclama que Vitor Belfort e
Luiz Dórea teriam 'privilegiado' no reality os atletas que eram próximos a eles

Por Ivan Raupp Rio de Janeiro
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Anistávio Medeiros, mais conhecido como Gasparzinho, não se sagrou campeão do TUF Brasil nem ganhou o desejado contrato com o UFC, mas foi uma das figuras mais marcantes da primeira versão brasileira do reality show de MMA. Com seu jeito brincalhão e descontraído, proporcionou muitas risadas ao público, ao passo que também irritou muita gente dentro da casa. Lá, ele caiu nas quartas de final na polêmica luta contra o amigo Rony Jason. E no UFC 147, em Belo Horizonte, foi finalizado pelo desafeto Rodrigo Damm, o que resultou em sua dispensa do Ultimate. Sem atuar desde então, o potiguar revelou que tem uma espécie de trato com a organização para retornar ao octógono mais famoso do mundo.
gasparzinho mma  (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)Gasparzinho brinca com um boneco de treino da Team Nogueira (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
- Minha equipe está vendo o melhor caminho para eu chegar ao UFC de novo. Fui demitido do UFC após a derrota (para Rodrigo Damm), mas com proposta para voltar. O UFC mandou um e-mail para a Team Nogueira pedindo que eu fizesse e vencesse mais três lutas para voltar ao octógono. Então, pretendo fazer um bom trabalho para continuar vencendo e voltar. Estou treinando muito boxe, muito jiu-jítsu, e vou chegar lá se Deus quiser - disse ao SPORTV.COM após um dia de treino na academia onde treina, a Team Nogueira, no Rio de Janeiro.
Passados alguns meses após o TUF, Gasparzinho falou abertamente sobre o programa e se disse preterido pelos treinadores da equipe verde, da qual fazia parte, no caso Vitor Belfort, o treinador principal, e Luiz Dórea, o técnico assistente de boxe. Ele alega que ambos "protegiam" os atletas com quem já tinham uma relação, Cezar Mutante e Hugo Wolverine, respectivamente.
gasparzinho mma  (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)Bom humor (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)
- Eles jamais iriam colocar o Wolverine para fazer a primeira luta contra o Jason. Jamais iriam colocar o Rodrigo Damm para lutar contra o Wolverine. Está entendendo? Eles já sabiam tudo que iriam fazer para os mais privilegiados chegarem lá. Acho que era para ter havido um lado mais profissional por parte deles, de ter visto todos os atletas com o mesmo olhar - declarou.
Gasparzinho afirmou ainda que se sentiu pré-julgado por causa de seu comportamento descontraído e que amadureceu bastante durante o período na casa. Perto de se tornar um pai de família - seu primeiro filho, Vinícius, nasce em janeiro -, ele garantiu que vai deixar as brincadeiras um pouco de lado, mas não resistiu à câmera da reportagem e saiu tirando fotos pela academia. O lutador tinha duelo marcado no "Nordeste Fight" para o último dia 15, contra Iramar Frota, mas o evento foi adiado para o fim de outubro. A seguir, leia a entrevista na íntegra:
SPORTV.COM: Como está sua vida pós-TUF Brasil?
GASPARZINHO: Mudou em relação às oportunidades. Estou tendo mais oportunidades de lutar eventos fora do país. Minha equipe está vendo o melhor caminho para eu chegar ao UFC de novo. Fui demitido do UFC após a derrota (para Rodrigo Damm), mas com proposta para voltar. O UFC mandou um e-mail para a Team Nogueira pedindo que eu fizesse e vencesse mais três lutas para voltar ao octógono. Então, pretendo fazer um bom trabalho para continuar vencendo e voltar. Estou treinando muito boxe, muito jiu-jítsu, e vou chegar lá se Deus quiser.
Então, o UFC me mandou isso, mas eu só acredito vendo (risos). Não quero enfrentar qualquer alma cansada. Quero fazer três lutas nos melhores eventos e contra os melhores lutadores"
Gasparzinho, sobre o acordo para voltar ao UFC
Em quanto tempo acha que consegue essas três vitórias que o UFC pediu?
Não quero só chegar, fazer três lutas e ir para o UFC. Se eu quiser, faço três lutas amanhã e vou para o UFC. Olha o caso do Ronnys Torres. Foi prometido a ele fazer quatro lutas. Ele já está na 12ª luta, e o UFC ainda não se manifestou. E ele só lutou contra atleta duro. Já era para estar lá. Então, o UFC me mandou isso, mas eu só acredito vendo (risos). Não quero enfrentar qualquer alma cansada. Quero fazer três lutas nos melhores eventos e contra os melhores lutadores. E não vou focar em prol só do UFC. Vou continuar trabalhando normal. Tenho o MMA hoje em dia como meu trabalho, como minha fonte de renda. Se eu estiver lutando evento aqui no Brasil e ganhando mais do que no UFC prefiro estar lutando aqui.
Ficou chateado com a saída do Ultimate?
Não. É o meu trabalho, né? Quando vou lutar, entro com o psicológico preparado para todas as situações. Sei que, se não estivesse preparado, aquilo iria me deixar muito magoado, muito triste. Tem gente que para de vez de lutar. Eu fui bem preparado e foi uma coisa normal. Tudo que sobe desce. Do jeito que entra, tem que sair. E assim a vida vai.
rodrigo damm anistavio gasparzinho ufc 147 mma (Foto: Getty Images)Gasparzinho é finalizado por Rodrigo Damm no UFC 147, no dia 23 de junho (Foto: Getty Images)
O fato de você ter perdido para o Damm, seu desafeto na casa, deu um gosto ainda mais amargo à derrota?
Não. Não tenho nada contra aquele cara. Ele é um atleta normal, só não gosto muito da personalidade e do jeito dele. É um cara... Não quero nem falar sobre ele. Ele apenas acertou uma mão dura, do mesmo jeito que eu poderia ter acertado nele. Eu iria finalizá-lo do mesmo jeito.
Nota da redação: no UFC 147, Gasparzinho levou um direto de Rodrigo Damm e cambaleou. O lutador capixaba sentiu o bom momento, foi para cima e finalizou o oponente com um mata-leão.
Você falou que foi chamado para fazer lutas internacionais. Pode adiantar alguma?
Agora não posso. A Team Nogueira está analisando isso, mas coisas boas estão por vir aí. Evento grande. Graças a Deus essa minha aparição na casa abriu as portas para mim. Para quem lutava por mixaria no Nordeste... Não estou ganhando muito mais, mas dá para viver tranquilo. Vou ser pai agora do meu primeiro filho, Vinícius, minha noiva está grávida. Minha vida daqui para frente vai ser só para o meu filho e minha mulher. Quando eu chegar em Natal vou marcar meu casamento. Não quero ter mais a vida de adolescente que está lutando. Agora vou ser um pai de família. Antigamente eu ganhava dinheiro em uma luta e comprava roupa, celular, ia para uma festa. Hoje em dia o que eu penso em ganhar é só em prol da minha família.
Esse meu jeito brincalhão poderia vingar se fosse fora do Brasil, mas aqui não vinga tanto. Muita gente lá na casa achava que eu não levava a sério pelo fato de estar sempre brincando"
Ao dizer que pretende ficar menos brincalhão
Esse novo comportamento vai tirar um pouco do seu lado humorístico?
Eu creio que tira sim. A vida que vivi no TUF, apesar de eu não ter ganhado, foi boa para mim porque eu amadureci muito na vida, na parte de lidar com dinheiro, com amizades falsas. Esse meu jeito brincalhão poderia vingar se fosse fora do Brasil, mas aqui não vinga tanto. Muita gente lá na casa achava que eu não levava a sério pelo fato de estar sempre brincando. É meu jeito mesmo, mas na hora de lutar não sou assim. Pretendo mudar um pouco, ficar um pouco mais sério, não ficar brincando tanto com a galera. Muita gente no Brasil não gosta de brincar, mas minha família gosta. Aqui na Team Nogueira poucos gostam, o Wagner Caldeirão, o Fábio Maldonado, e agora vou aprender a dosar isso aí.
Você considera isso um pré-julgamento?
Exatamente. No TUF isso aconteceu muito comigo, pelo fato de eu brincar muito. A galera achava que eu estava ali para brincar, para aventura, e não levava a sério. Eu estava ali para lutar mesmo, para levar a parada a sério. Mas aquele é meu jeito, é a minha vida. Teve desonestidade comigo em termos de casar as lutas, de a galera não olhar para todos os atletas com um olhar só.
Jason Gasparzinho TUF Brasil (Foto: Divulgação - TUF Brasil)Gasparzinho leva uma chave de braço de Rony
Jason no TUF Brasil (Foto: Divulgação - TUF Brasil)
Você acha que foi preterido no TUF?
Claro, com certeza. Lá tinha o Hugo Wolverine, que treina com o Luiz Dórea; o Cezar Mutante, que treina com o Vitor (Belfort); O Daniel Sarafian, que já era conhecido e casca-grossa. Serginho Moraes também era conhecido. Ali eu era um zé ninguém na frente de muitos atletas. Ele nunca olhou para todos com o mesmo olhar. Jamais queria botar o Hugo Wolverine para fazer a primeira luta.
Ele quem?
O Luiz Dórea, o Vitor. Eles jamais iriam colocar o Wolverine para fazer a primeira luta contra o (Rony) Jason. Jamais iriam colocar o Rodrigo Damm para lutar contra o Wolverine. Está entendendo? Eles já sabiam tudo que iriam fazer para os mais privilegiados chegarem lá. Acho que era para ter havido um lado mais profissional por parte deles, de ter visto todos os atletas com o mesmo olhar.
E o casamento da sua luta contra o Jason, que é seu amigo? Ainda lamenta isso?
Isso é passado, mas aconteceu. Poderia ter sido evitado. Entrei lá sabendo que poderia lutar contra qualquer um, inclusive o Jason. Só que fui um pouco inocente no proceder da casa. Cheguei até a falar: "Se tiver que lutar contra o Jason, eu luto. Até porque conheço o jogo dele e sei como ele é".
O Jason ficou mais triste porque ele se sentiu responsável por ter me tirado o mesmo sonho que
ele tem. É ruim tirar o sonho de qualquer pessoa, de um amigo então... E meu sonho foi tirado
por um amigo"
Relembrando a polêmica luta contra Rony Jason
O Vitor disse que você pediu ao Gilbert Durinho, um dos treinadores assistentes, para lutar contra o Jason.
Nunca falei isso: "Eu quero lutar contra o Jason". Está doido! Jamais! Eu iria fazer a primeira luta da casa. O Vitor falou: "Galera, quem vai fazer a primeira luta da casa vai ser quem estiver no menor peso". E quem estava no menor peso éramos eu e o Pepey. Pepey bateu 69kg, e eu bati 68,3kg. Aí falei: "Pepey, sou eu que vou lutar". Aí no dia escolheram o Pepey. Fiquei calado. Aproveitei que estava com o joelho e o pé machucados, da luta que fiz para entrar na casa. Depois comecei a perceber que tinha gente escolhendo luta. Ali no TUF é um jogo também. É um jogo de atletas e treinadores, mas eu não sabia disso. Achei que iria chegar lá, eles seriam honestos, e as coisas iriam fluir. Mas tem um jogo muito forte lá dentro. Quando percebi já estava no final. Só tínhamos na minha categoria eu, Wolverine, Jason e Vina, e pedi para lutar contra o Vina. Só que, quando pedi, eles já estavam cogitando de eu lutar contra o Jason. Até cheguei no Jason e falei: "Acho que a luta vai ser entre nós dois". Eles não disseram que eu iria lutar contra o Jason, mas começaram a me dar dicas do jogo dele para se houvesse essa luta. Se eles tivessem dito mais cedo, eu teria me manifestado. Quando fui ver, mandaram o Wolverine para o Vina, e automaticamente me casaram contra o Jason. Falei: "Pqp". Fiquei com raiva, saí do tatame. O Jason chorou, e a gente se abraçou lá. Cheguei para o Jason e falei: "Vamos lutar mesmo para acabar com essa angústia. Quem ganhar ganhou". Ele ficou mais triste porque se sentiu responsável por ter me tirado o mesmo sonho que ele tem. É ruim tirar o sonho de qualquer pessoa, de um amigo então... E meu sonho foi tirado por um amigo. Mas foi bom. Continuo treinando. Amadureci, abri meus olhos para a covardia.
Gasparzinho TUF Brasil (Foto: Divulgação - TUF Brasil)Gasparzinho na entrada para encarar Jason, com Durinho e Belfort ao fundo (Foto: Divulgação - TUF Brasil)
O TUF mudou sua vida no sentido financeiro?
Não. O TUF não é um reality show Big Brother, em que se ganha milhões. Mas a gente ganhou um cachezinho por semana. O prêmio mesmo é o contrato (com o UFC) de três lutas. Eu pude agora dar entrada em um carrinho para mim, minha noiva comprou um apartamento.
gasparzinho mma  (Foto: Ivan Raupp / Globoesporte.com)A moça que trabalha na cozinha da academia é
alvo do lutador (Foto: Gasparzinho / Team Nogueira)
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Você pretende morar em Natal?
Minha vida é em Natal. Se eu tiver condições de morar no Rio de Janeiro, eu moro. Mas para mim dinheiro não compra felicidade. E a minha felicidade é estar ao lado da minha família, dos meus irmãos. Estão todos lá. Só venho ao Rio para me preparar uns 20 dias antes das lutas, porque aqui é onde tudo acontece. Natal é bom para se viver, só com a família mesmo.

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