domingo, 21 de agosto de 2011

Em busca de paz, Abel fecha a ferida tricolor: 'Muricy tinha o direito de sair'

Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, técnico fala abertamente sobre a saída do antecessor e diz que ainda vai tentar salvar o ano do Fluminense

Por Cahê Mota e Edgard Maciel de Sá Rio de Janeiro

O jeito Abelão de ser já é bem conhecido nas Laranjeiras. Sem papas na língua na maioria das vezes, o treinador chegou ao Fluminense em junho como uma espécie de salvador da pátria, para tentar reerguer um campeão brasileiro com problemas extracampo. Pouco mais de dois meses depois, Abel Carlos da Silva Braga, de 58 anos, ainda tenta dar ao time a regularidade capaz de fazer o torcedor sonhar novamente. E nem mesmo o protesto isolado de alguns tricolores, como o episódio da pichação no muro da sede social, parece abalar o comandante e também para-raios do Tricolor, como ele mesmo se define.
No entanto, para seguir em frente, é preciso resolver o passado. Nesta entrevista, Abel fecha a ferida chamada Muricy Ramalho. Se em sua apresentação oficial o treinador não quis entrar muito no assunto e até alfinetou o antecessor, dizendo condenar as críticas públicas à estrutura do Fluminense, agora Abel se coloca no outro lado da história e defende aquele que chama de um grande amigo.
- Por que o treinador também não pode sair? Ele pode não estar contente e querer seguir a vida em outro lugar. Não posso fazer esse julgamento. Muricy é muito meu amigo. Ele já ganhou vários Brasileiros e conseguiu outro aqui nas Laranjeiras, título esse que o clube não conquistava havia 26 anos. Vai falar o que dele? O torcedor ficou chateado porque ele foi embora, e não pelo que ele falou. Muricy tinha o direito de sair.
Em quase uma hora de entrevista no parquinho das Laranjeiras, Abel disse que a pressão por resultados deixa o futebol mais feio e favorece jogadores sem talento, que já aproveita novamente o prazer de morar no Rio e no Leblon e que o planejamento da temporada 2012 já começou. Mas faz uma promessa aos torcedores do Fluminense:
- Nós vamos tentar ainda salvar o ano.
Até agora, qual foi a maior dificuldade desde o seu retorno ao Brasil?
Vim para um desafio. O que me era colocado é que as coisas não estavam boas e o ambiente também não. Com três, quatro dias conquistei os jogadores pela minha forma de ser, de lidar, muito olho no olho, muita verdade. Sem sacanagem, sem nada. Hoje o grupo está excepcional. Estou maravilhado. Mas acho que eles sentiram muito no início a nova filosofia de trabalho. Agora o condicionamento físico está muito bom, tanto que nossas grandes atuações têm sido sempre no segundo tempo. Só que, para o nível de jogadores que temos, tínhamos de ganhar e convencer. É claro que entre jogar bem e perder, prefiro jogar mal e ganhar. Mas acho que temos possibilidade, pelos nomes que temos, pelos laterais que temos, de jogar mais e ganhar mais. Esse está sendo o meu maior desafio. Sobre o futebol brasileiro, eu já comentava dos Emirados Árabes, porque acompanhávamos direto as partidas. Falávamos: "Que velocidade!". E olha que lá o futebol é muito rápido também. Mas no Brasil deixou de existir aquela pegada só no Sul do país. Hoje ela está por todo lado, em Minas, Rio, São Paulo, Nordeste... Ao mesmo tempo, acho que as equipes estão jogando menos, e essa não é a escola do nosso futebol, que realmente é de espetáculo. Recentemente vimos apenas um, quando se enfrentaram as duas equipes que têm os melhores jogadores do país: Santos e Flamengo. Fora isso, você vê bons jogos, mas não nenhum que te encha os olhos.
Recentemente vimos apenas
um (espetáculo), quando se enfrentaram as equipes que têm
os melhores jogadores: Santos e Flamengo. Fora isso, você vê
bons jogos, mas não nenhum
que te encha os olhos"
Abel Braga
Acha que isso acontece pela forma como são formados os times ou os atletas?
Acho que é fundamentalmente pela pressão que se tem hoje no futebol brasileiro por resultados. Ninguém mais quer jogador lento, que marca com o olho... Sempre opta por um atacante que ajuda na marcação. Uma série de detalhes começa a ser priorizada. Quanto mais ajuda você tem dos homens da frente, facilita a vida dos marcadores do meio. Se o meio está sendo ajudado, a defesa ganha. Gosto de futebol bem jogado. Fui um jogador mediano, mas sei que o Fluminense pode fazer mais, e não falo só da regularidade de resultados... Poucos times hoje têm dois laterais da qualidade dos nossos. Quem enfrenta o Fluminense tem uma preocupação grande com os laterais. Temos também atacantes que fazem a diferença. Agora é claro que sem Deco, Conca, Fred... O adversário cresce. O Sobis ainda não encontrou seu melhor momento, mas apareceu o Lanzini, que já leva preocupação, assim como o Rafael Moura. Futebol é isso. Se você entra em campo e o outro time não te respeita, complica.
Até quando dá para continuar sonhando com o título?
Sonhar ainda dá. É só pegar o exemplo do Grêmio no ano passado, que estava na zona do rebaixamento no primeiro turno e terminou na Libertadores. Ainda temos um jogo a menos. No ano passado, Fluminense e Corinthians tiveram um segundo turno bem abaixo do primeiro. Isso pode se repetir em 2011. Estou contando assim: a cada nove pontos, temos de conquistar 66%. O anormal até agora é Flamengo e Corinthians estarem com essa pontuação. Mas daqui a pouco eles caem. Se continuarmos com nosso planejamento de duas vitórias a cada três jogos, poderemos ver em breve se vai dar para chegar ou não. Não quero falar muito para meus jogadores sobre título. Primeiro temos de ir degrau por degrau. Não adianta pular do primeiro para o décimo. Primeiro temos de chegar na zona da Libertadores.
Até que ponto esse jogo a menos é determinante para as pretensões do Fluminense no Brasileiro?
Não adianta pensar nisso. Temos de encarar o Vasco primeiro. Um time que está jogando bem, já está na Libertadores, e faz um rodízio muito bom. A equipe não sente as mudanças. Contra o Avaí não jogou bem e venceu. Está com sorte de time campeão. A bola bate e sobra para alguém marcar. Vamos esperar, não adianta pensar. O confronto diante do Santos pode se tornar muito mais complicado se não vencermos o Vasco.
Abel Fluminense (Foto: Site Oficial do Fluminense)Abel nos tempos de jogador, nas Laranjeiras
(Foto: Site Oficial do Fluminense)
Causa preocupação que esse reencontro do Fluminense com o Muricy ganhe proporções maiores do que o jogo em si?
Não. A torcida ficou chateada porque o Muricy saiu. Se o treinador é mandado embora, o que pode acontecer a qualquer momento, ninguém fala nada. Todo técnico entra no clube com o cargo à disposição. Eu não tenho multa rescisória. Se for mandado embora amanhã, só vou querer receber pelos dias que trabalhei, pois não trabalho de graça. Mais nada. Por que o treinador também não pode sair? Ele pode não estar contente e querer seguir a vida em outro lugar. Não posso fazer esse julgamento. Muricy é muito meu amigo. Já ganhou vários Brasileiros e conseguiu outro aqui nas Laranjeiras, título esse que o clube não conquistava havia 26 anos. Vai falar o que dele? O torcedor ficou chateado porque ele foi embora, e não pelo que ele falou. Muricy tinha o direito de sair. Ele e nós. Se não estava feliz, ia continuar para quê? Só o clube tem esse direito? Não pode ser assim. Acho que o torcedor ficou chateado porque perdeu um grande treinador. Jogar contra o Santos já é complicado pelo time que eles têm. Com o Muricy comandando, fica mais difícil ainda.
Diferentemente do primeiro turno, você poderá disputar o segundo inteiro. Já traça uma meta de pontos?
Empate no Brasileiro não vale nada. É melhor em três jogos ter uma vitória do que três empates. Podem até falar que o time não perdeu e tal. Mas, se o Corinthians não vira para cima do Atlético-MG, eles teriam apenas duas vitórias a mais do que o Fluminense. Temos oito e eles tinham dez. Acho que, se mantivermos o aproveitamento de 66% a cada nove pontos, vamos chegar bem. Não é normal os líderes manterem esse aproveitamento atual. O Vasco está bem, mas já está na Libertadores. Santos também. O Internacional vai subir na tabela, tem equipe para brigar. E nós vamos tentar entrar no bolo com Botafogo, Palmeiras, São Paulo...
Antes de chegar, você foi informado de a situação não estava muito boa. Acha que resolveu rápido pela sua postura ou falava-se muito mais do que realmente era?
Falava-se muito mais do que era. Nessa semana eu li uma declaração muito feliz do Marcos Assunção, dizendo que os jogadores podem se dar bem, mas não precisam ser amigos fora de campo. Eu, por exemplo, gosto de restaurantes e teatros. Por isso vou sair com quem gosta das mesmas coisas. Antes da minha chegada, também aconteceram muitos comentários de jogadores em cima de declarações de outros jogadores. Gente reclamando que não estava jogando... Peraí, não joga um, mas joga o outro. Por que tem de ser Fulano e não Sicrano? Passei isso para eles, e a situação se amenizou. Hoje não vemos ninguém falando bobagem, o que chega até a ser uma deselegância, dependendo da frase. Todo gol é precedido de uma falha. Imagina se a cada derrota eu falar que A ou B foi o culpado? Como vai ser? O treinador tem de assumir a responsabilidade sempre. Eu faço isso e vou continuar fazendo. Sou um para-raios mesmo. O respeito precisa ser recíproco, e cobro dos meus jogadores.
Pode reparar: eu chego ao
clube, entro no gramado, falo
com todos e olho para o Cristo Redentor. Aquela vista é linda demais. O Fluminense é um
lugar privilegiado"
Abel Braga
Como tirar do Fred o melhor que ele pode apresentar? Tem conversado com ele?
Fred é fora de série. E o Mano Menezes sabe disso. Tanto que já colocou que no Brasil o nosso camisa 9 é o único com determinadas características. Fred está precisando aumentar a força física, que caiu um pouco. Está lutando muito, fazendo academia e tal. Não pense que ele não quer. Ele quer e está muito perto de acontecer. Fred está trabalhando, querendo, com cara boa. O problema ficou para trás. Vai fazer esforço suplementar para voltar a ter uma sequência boa.
Com a boa fase do Rafael Moura, já pensa em um ataque com três jogadores ou o Sobis pode sair por não estar rendendo o esperado?
Não é que ele não está rendendo, mas ainda não chegou ao nível que a gente quer. No Internacional, o Sobis vinha jogando com um problema clínico na patela que o incomodava muito. Ainda estava voltando de cirurgia no joelho, que gera problemas musculares. Ele não conseguiu ter a sequência desejada. Depois veio a questão do contrato e tal. Ficou mais de um mês sem jogar. Agora, está buscando e readquirindo o melhor ritmo. E o mais importante: sem sentir nada. Sobis está sem problemas clínicos e fisicamente forte. Só falta aquele empurrãozinho de decidir uma partida para ser o jogador que conhecemos. Por enquanto, estamos pagando o preço. Não só nós, como ele também. Sinceramente? Não sei se jogaria com três atacantes. Mas vou procurar ajudar sempre o Sobis. E isso não significa dizer que ele será titular sempre. Às vezes, começar no banco e marcar o gol da vitória são coisas que ajudam a readquirir a confiança. Ele é decisivo e temos a esperança de que mostre isso em breve.
Após não cair em 2009 e ser campeão brasileiro em 2010, o Fluminense tem sentido a mudança de gestão? Isso tem atrapalhado a deslanchada da equipe?
Foram muitos problemas. Mudança de treinador, o tempo que fiquei para chegar, mudança de gestão, na assessoria, na forma de treinamento, na preparação física, parte técnica e tática... Isso tudo atrapalha. Acho que as coisas estão caminhando muito bem. Hoje eu sinto o futebol blindado. Cada um procurando fazer a sua parte sem interferência, e o presidente cuidando do clube como um todo. Claro que participa também do futebol, mas é um departamento que fica muito mais a cargo do Sandrão e do Marcelo, com a ajuda do Celso. Já estamos começando a planejar o ano que vem para que não haja mudanças. Além disso, teve muita coisa a ver com tudo aquilo que era destaque no Fluminense. Conca começou o ano totalmente diferente por causa da cirurgia no joelho, tanto que os dois melhores jogos dele no ano foram os dois últimos comigo e no clube. Fiquei três jogos falando para ele parar de se preocupar com a marcação. Problemas com o Deco. Problemas com dois jogadores que poderiam estar nos ajudando muito: Araújo e Matheus Carvalho. Fred buscando essa sequência. O próprio Mariano, que só subiu agora a acredito que tenha atingido o nível do ano passado. Carlinhos começou o ano sem jogar. Tem também a lesão do Leandro Euzébio. Se você parar para pensar, é muita coisa junta. E com nomes principais do elenco. Daqui a pouco você olha para o lado e um não está rendendo, o outro saiu, esse machucou, esse também... Já dei treino com 20 jogadores e apenas um atacante para ficar no banco. É muito pouco.
mosaico abel braga fluminense (Foto: Editoria de Arte/Globoesporte.com)
Acha que, depois de todas as turbulências de 2011, o que vier neste ano é lucro? O pensamento já está voltado para o planejamento de 2012?
Nós vamos tentar ainda salvar o ano. Tentar, pelo menos, nós vamos. Os jogadores estão tentando muito. Ninguém pode dizer que falta luta. Estamos jogando com muita raça. Agora vamos tentar dar um salto de qualidade, na pontuação, na classificação. Na concepção nossa, é pouco o que estamos fazendo. Todos querem ajudar, fazer mais. Este ano tem sido atípico, diferente. E não tenha dúvidas de que isso tem a ver com as duas temporadas anteriores. Não ter sido rebaixado em 2009 foi uma coisa que até me faltam palavras para dizer o que representa. Loucura total. Depois veio o título. É normal dar uma relaxada. Mas aí falam que o Fluminense tem um grupo muito bom. Sim, temos. Mas é preciso olhar os jogadores que estão sem condições de jogo. Normalmente os principais jogadores estão fora. Ainda levo muito fé no Deco, no Fred.... Nunca tinha visto um atacante tomar tanta porrada em 90 minutos como o Fred contra o Palmeiras. E ele não afrouxava nunca. Só levando porrada nas costas, no joelho. Assim como o admiro, acho que o Araújo ainda pode nos ajudar muito. Ele chama gol. Eu o acompanhei dois anos na Copa da Ásia. Só consegui empatar uma vez com o time dele e perdi todas as outras. Joga muito, é rato de área. Só que ia jogar contra o Corinthians e sentiu na véspera. Depois estava quase voltando e se machucou no coletivo. Daí voltou bem e sentiu na primeira bola contra o Grêmio. E mesmo assim ele bagunçou enquanto esteve em campo.
O que ainda espera do Deco? Tem esperança de que ele possa fazer a diferença?
Espero que ele primeiro se recupere e tenha uma sequência. Vai ser o ideal para todos. Essa situação o incomoda muito. Deco é um cara de bem, profissional, se cuida, mas está passando por um momento difícil. Vamos ver se dessa vez preparamos a volta dele um pouco melhor. Nem que precise levar mais tempo, para que não voltem a acontecer esses problemas. Sabemos que ele precisa ser tratado de forma diferenciada, como também com o Fred. Até mesmo evitar alguns treinamentos. Deco merece um cuidado maior nesse retorno, é um jogador que quer muito brilhar no Fluminense. Vem ao clube de manhã, à tarde. Acho que semana que vem ele já vai começar a ir para o campo. Mas eu mesmo vou falar com a preparação física. É preciso trabalhar bem com ele para que o jogador consiga esquecer todas as lesões que já teve. Contra o Atlético-MG, ele saiu no intervalo. Quinta foi folga, no sábado teve dois toques, no domingo ele estava suspenso. Acabou sentindo (lesão) no coletivo de segunda. Ou seja, só teve um treino forte e ele sentiu. Não é falta de vontade. Ele quer muito.
Já penso em aposentadoria, sim. Não quero ir muito longe, não. Cinco anos é o máximo. Amo minha família e adoro viajar"
Abel Braga
E quais os seus planos para o Martinuccio?
Ele já colocou para mim que joga como segundo atacante, flutuando. Gosta de jogar por trás do atacante. Não gosta de voltar muito porque fica sem força para chegar à área. Parece-me mais um meia ofensivo, de tocar, mexer, ocupar espaço... Tem características totalmente diferentes das do Lanzini. Vamos esperar o momento certo. De repente o Lanzini pode ter chamado mais atenção nos treinamentos pelo lado atrevido. Precisava disso. Eu tenho o toque de bola com o Souza, com o Marquinho. Vamos esperar um pouquinho ele se soltar também, se adaptar mais.
O nível de exigência da torcida é maior por tudo o que eles viveram nos últimos anos?
Seria mais fácil o torcedor explicar. Eles normalmente têm pouca paciência, querem ver o time sempre bem, ganhando. Perguntaram isso em uma coletiva recente, e concordo: o momento dos outros rivais também atrapalha. Volto a dizer: não me abalo com nada. Assim como não me abalo com a crítica e com a pichação, também não me envaideço com o elogio e com o aplauso. Meu comportamento é o mesmo, ganhando ou perdendo. E eu respeito o torcedor. Se tiver paciência ou não tiver, se for ou não ao estádio. Contra o Figueirense, foram poucos torcedores, mas os que estavam lá incentivaram. Foi legal. O jogador prefere ter a torcida do lado, mas quem joga em time grande tem de saber que precisa ganhar, mesmo com a torcida reclamando. O pessoal só gosta de escutar aplauso e não vaia. O Flamengo ganhou o Carioca e teve pressão sobre o Ronaldinho. Agora estão jogando bem. Mas, até pouco tempo, mesmo invictos no Brasileiro, a torcida não estava totalmente feliz.
Dá para medir o ganho que seu trabalho terá quando o CT estiver pronto?
O Fluminense nunca teve um centro de treinamento. E olha que estamos falando de um clube centenário. Não dá para medir a diferença. Será uma coisa fantástica. Acho até que você pode fazer das Laranjeiras o local do treino na véspera do jogo, recreativo, para manter a relação com o torcedor. Mas poder trabalhar o time que vai jogar sem dar pistas ao adversário é muito bom. Nas Laranjeiras não dá. Às vezes, eu até consigo enganar, colocando o jogador entre os resevas para defender a bola parada, por exemplo. Tem jogos que eu deixo até os próprios jogadores em dúvida. Isso porque eles conversam com os adversários e podem acabar soltando alguma informação. É complicado.
Na sua apresentação, o departamento de marketing do clube e você mesmo reforçaram muito a sua ligação com o Fluminense, com lembranças do passado. Já conseguiu saborear isso?
Desde que cheguei, essa foi a primeira vez que consegui passar da portaria (para fazer as fotos da matéria). Dá para acreditar? Nem na portaria eu tinha ido. Não tinha passado no bar do Fidélis. Hoje vi a FluBoutique. O salão de cabeleireiro, que mudou de lugar. O clube está mais bonito. Até o campo está bem melhor do que quando eu cheguei. Pedi para descompactar, furar duas vezes, jogar grama de inverno. Pode reparar: eu chego ao clube, entro no gramado, falo com todos e olho para o Cristo Redentor. Aquela vista é linda demais. O Fluminense é um lugar privilegiado. Essa arquitetura colonial da fachada é muito bonita. Parece até com aqueles museus de Petrópolis, dos tempos de Dom Pedro.
Você estava longe do Rio havia seis anos. Já conseguiu aproveitar a cidade?
Já consegui ir duas ou três vezes ao teatro. Vi aquela peça, "A confissão", no Teatro Leblon. Estou para ver também o "Violinista no Telhado". Fora os vários restaurantes, como Artigiano, Anna, Antiquarius, Gero, Porcão, Quadrifoglio. Saio com os amigos e a família para jantar e volto. Mas futebol vicia, né? Não gosto de ver jogo em estádio, até porque temos um observador para isso, mas chego a ir mais cedo ao restaurante para não perder a rodada. Até continuo indo ao Bracarense, mas agora frequento mais o Chico e Alaíde. O Leblon é sagrado, e isso tem um preço muito grande. Amo o bairro e continuo dando minhas caminhadas na orla. Mas me custou muito essa palavra que dei ao Fluminense e o clube ter me esperado. Sabia que ia assumir um trabalho sem ter férias. É bem puxado. Aqui tem a cobrança, a busca pela regularidade, mas sei que uma hora tudo vai se encaixar, os lesionados vão voltar... Fora isso, o departamento de futebol é bem organizado. Temos uma boa assessoria, uma sala de musculação que vai ser até melhorada, uma sala de fisiologia extraordinária, com um dos melhores profissionais do Brasil, que é o Maurício Negri. Só me preocupo com o campo. Nos Emirados Árabes, o problema era muito maior. Eu tinha de resolver tudo. Falar com o Sheik, ver por que meu jogador sumiu por dois dias... Sair de lá e não ter férias é loucura. Tem dia que mal consigo dormir.
A espera de três meses por você e o prestigio inabalado com a diretoria mesmo após alguns resultados negativos mostram uma mudança de filosofia no Fluminense?
Acho que tem de ser assim mesmo. Já está provado que mudar de treinador toda hora não adianta nada. Eu espero é poder corresponder a confiança. Com conduta e dedicação, vou corresponder sempre. Mas quero com resultados e títulos também.
Por quanto tempo mais você será treinador?
Já penso em aposentadoria, sim. Não quero ir muito longe, não. Cinco anos é o máximo. Amo minha família e adoro viajar. Não dá para descrever a alegria que sinto quando estou jantando com minha mulher e meus filhos. Foi duro demais ficar sem eles nos Emirados Árabes. Estar no Rio de Janeiro, no Leblon e no Fluminense... Não posso querer mais nada. Só os resultados mesmo.

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