sexta-feira, 14 de junho de 2013

Deco leva gancho de 30 dias, mas está livre para atuar pelo Fluminense

Flagrado em exame antidoping durante o Campeonato Carioca, meia estava suspenso preventivamente desde 8 de maio e já cumpriu a punição

Por Rafael Cavalieri* Rio de Janeiro
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Deco está livre. Desde abril o camisa 20 do Fluminense convivia com as incertezas por ter sido flagrado no antidoping por uso de substâncias indevidas. O exame de urina realizado no dia 30 de março, depois de o Tricolor encarar o Boavista, pelo Campeonato Carioca, apontou a presença de Hidroclorotiazida, um diurético que combate a hipertensão arterial, e Carboxi-Tamoxifeno (metabólico do tamoxifeno), encontrada em medicamentos contra câncer de mama. Mas nesta sexta-feira veio o alívio. Julgado pelo Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ), em sessão que durou quase quatro horas, por unanimidade (cinco votos) ele pegou 30 dias de gancho, já cumpridos (estava sob suspensão preventiva desde 8 de maio).
Após o julgamento, Deco não se mostrou plenamente satisfeito.
- De maneira alguma vou discordar de uma comissão tão qualificada e esclarecida como essa. Mas isso não significa que tenha concordado. Ao meu ver, foi injusto. Poderia ter tido a absolvição. A gente fica com a ideia de que hoje no Brasil as coisas funcionam e que nada representa risco, mas a gente descobre desta maneira que pode estar sujeito a uma situação dessas. Queria a absolvição porque sei da minha inocência. Mas o mais importante agora é que posso voltar  a jogar bola - disse o meia.
Deco ao lado do advogado julgamento Marcos Motta  (Foto: Rafael Cavalieri)Deco ao lado do advogado Marcos Motta no julgamento (Foto: Rafael Cavalieri)
O jogador, de 35 anos, lamentou ainda ter ficado fora em momentos cruciais para o Fluminense na Taça Libertadores.
- Como disse no julgamento, o resultado não apaga o que aconteceu. Agora é terminar a minha carreira com dignidade em um clube que sempre me apoiou esteve ao meu lado. Infelizmente, como disse, não pude ajudar o Fluminense a buscar o título da Libertadores, que era o grande sonho do clube e meu também. Isso foi tirado, mas a história não acabou. O tempo hoje é suficiente para colocar tudo no lugar - finalizou.
De maneira alguma vou discordar de uma comissão tão qualificada e esclarecida como essa. Mas isso não significa que tenha concordado. Ao meu ver, foi injusto. Poderia ter tido a absolvição"
Deco
O diretor executivo de futebol do Fluminense, Rodrigo Caetano, comemorou a decisão.
- A gente sempre esteve confiante, e o resultado retrata isso. Agora tenho certeza de que ele vai poder voltar a atuar conosco e está confirmado na viagem para Orlando - disse Caetano, referindo-se à intertemporada que o Tricolor vai fazer nos Estados Unidos (o grupo embarca neste sábado).
Quatro horas no tribunal
O julgamento foi longo e arrastado. Após as considerações iniciais, Deco sentou no banco dos réus para responder a uma série de perguntas feitas pelos auditores e pelos seus próprios advogados. Após as respostas, o presidente da mesa, Eduardo Abreu Biondi, repetia as declarações para o escrivão. Em uma das primeiras explanações, Eduardo citou a palavra medicamento. Ele foi interompido pela defesa e pelo próprio Deco para substituir por vitamina, que era o que ele utilizava desde 2010.
A todo instante, o apoiador, com a voz pausada e fala limpa, deixou claro que sua preocupação maior não era o tempo parado ou os jogos que perdeu desde que foi suspenso de maneira preventiva. O que mais o incomodava era a possibilidade de manchar a carreira que conta com passagens por grandes clubes e títulos internacionais.
O nome de Carlos Alberto também foi bastante citado pela defesa. As substâncias presentes no exame de Deco eram as mesmas que apareceram no exame do meia do Vasco, e que recentemente foi absolvido em julgamento no mesmo TJD-RJ. Em sua defesa, o atleta alegou que os remédios comprados em uma farmácia de manipulação foram contaminados. O mesmo caso do tricolor, que estudou processar a farmácia e foi chamado de mentiroso pelo advogado do estabelecimento, Nélio Andrade.
Os advogados de Deco argumentaram que enviaram para um laboratório da Universidade Federal Fluminense (UFF) uma amostra do mesmo lote das vitaminas que Deco tomava na época em que foi flagrado no antidoping. A análise apontou a presença das substâncias proibidas na vitamina.
A gente sempre esteve confiante, e o resultado retrata isso. Agora tenho certeza de que ele vai poder voltar a atuar conosco e está confirmado na viagem para Orlando (local da intertemporada do Fluminense nos EUA)"
Rodrigo Caetano, diretor executivo de futebol do Fluminense
Em seguida, o cardiologista e nutrólogo particular de Deco, Sérgio Puppin, fez uma explanação mostrando a importância de se receitar complementos vitamínicos para atletas de ponta. O médico admitiu que foi ele próprio quem recomendou a farmácia e disse que após este episódio rompeu a parceria. A segunda testemunha de defesa foi a biquímica Luciana Figueiredo, que falou sobre riscos de contaminação e confirmou que as amostras analisadas pelo laboratório da UFF estavam contaminadas.
As considerações finais da Promotoria foram duras. Caroline Nogueira pediu em discurso breve para os auditores lembrarem de que os jogadores precisam ser exemplo para a sociedade. Já os advogados de defesa ressaltaram a carreira longa e vitoriosa de Deco e lembraram que uma condenação fatalmente encerraria esta trajetória com uma mancha e que os auditores precisavam levar isso e todos os pontos levantados em consideração.
Deco contratou uma equipe particular para defendê-lo no caso, de um escritório que não presta serviços ao Fluminense, o que chegou a causar mal-estar no clube. Entre os responsáveis está o advogado Marcelo Franklin, que ajudou o nadador Cesar Cielo a escapar da acusação de doping com apenas uma advertência em 2011.
Deco ganha cafuné da esposa no julgamento (Foto: Rafael Cavalieri)Deco ganha cafuné da esposa durante o julgamento (Foto: Rafael Cavalieri)
E o risco era grande. A punição poderia chegar a dois anos, o que encurtaria a carreira do jogador de 35 anos, que não descartou pendurar as chuteiras após o fim de seu contrato com o Fluminense, em dezembro. Apesar da possibilidade de gancho, Deco já havia sido relacionado na delegação tricolor que viaja no sábado para uma intertemporada em Orlando, nos Estados Unidos. Há a expectativa de que ele trabalhe com bola nesse período.
Muitas pausas, pedidos e até certa ironia
O julgamento foi repleto de curiosidades. Antes do início, um celular tocou o hino do Flamengo e gerou risadas. Com poucos minutos aconteceu a primeira parada. O auditor Antônio Correa pediu para ir ao banheiro e fez alguns presentes no plenário sorrirem. Ao perceber, ironizou e disse que a necessidade fora causada por uma vitamina fabricada em farmácia de manipulação.
A segunda pausa ocorreu em função de um problema técnico no computador do tribunal. Sorrindo, o presidente Eduardo Biondi aproveitou a presença do presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, Rubens Lopes, para pedir um novo aparelho.
- Vou fazer aqui o pedido. Estamos precisando, presidente (risos) - brincou Eduardo, que ainda escutou o médico particular de Deco, Sérgio Puppin, também ironizar dizendo que faltava nutrientes ao computador.
Após sair do banco dos réus, Deco acompanhou o julgamento ao lado da esposa, Ana Paula, e do advogado Marcos Motta. A dupla conversava ao pé de ouvido o tempo todo. Quando não estava falando com o advogado, Deco se virava para a esposa. Eles chegaram a dar um beijo rápido. Já durante o intervalo mais longo, após o depoimento das testemunhas, Deco se manteve sentado e ganhou cafuné. O alívio e o sorriso, ausentes desde que entrou, vieram após a sentença final. Deco está livre.
* Colaborou Thiago Benevenutte, estagiário

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