sexta-feira, 14 de junho de 2013

Japão esbanja disciplina e, sem ‘chinelo’, treina ao som de ‘bravo’

Adversário da Seleção na estreia da Copa das Confederações fecha treinos antes da partida, mescla idiomas e tradutor revela comportamentos

Por Fabrício Marques e Janir Júnior Brasília, DF
O futebol tem uma linguagem universal, mas com suas particularidades. Ainda mais quando se trata da seleção do Japão. Em dois dias em solo brasileiro para a disputa da Copa das Confederações, as já conhecidas disciplina e organização orientais ficaram ainda mais evidentes. Nos treinos do adversário de estreia do Brasil, nada de “chinelinhos”, mas sim gritos de “bravo” que dão um tom italiano na mescla com japonês. Brincadeiras só na hora certa, na tradicional roda de bobo que rompe as fronteiras do Brasil. O espírito coletivo envolve o time e todo staff da delegação. E o tradutor ganha ainda mais importância em um grupo em que poucos dominam o inglês.
Logo no primeiro treino, pequenos detalhes chamaram a atenção. Mesmo vindos de uma viagem de 14 horas de Doha a Brasília, os jogadores realizaram uma atividade de uma hora, sem o conhecido “migué”, sem dribles nos exercícios. E, depois de realizarem uma longa série de alongamento, nada de deixarem os tapetes e bolas de Pilates para auxiliares recolherem: todos guardam seu material antes de darem prosseguimento ao treinamento.
Honda Japão (Foto: Fabricio Marques)Voltando de lesão, Honda não se poupou dos treinamentos no Japão (Foto: Fabricio Marques)
Em um dos cantos do campo, trabalho intenso para os goleiros comandado por Maurizio Guido que, assim como o técnico Alberto Zaccheroni, é italiano. Entre gritos em alto e bom som que lembram ordens de aulas de artes marciais, Guido também usa o italiano para incentivar os jogadores.
- Bravo, bravo! – gritava o preparador de goleiros.
São raros os jogadores que falam bem o inglês, casos de Yoshida, que joga no Southampton, da Inglaterra e Kagawa, do Manchester United. O vocabulário da maioria na língua inglesa se resume a “it’s good”, “yes” e “no”.
Para os jornalistas brasileiros, acompanhar um treino do Japão é uma difícil experiência de tentar decifrar o idioma. Julio Cesar Caruso é o tradutor que acompanhará a delegação japonesa em todos os deslocamentos durante a Copa das Confederações. Ele é o responsável por fazer o meio-campo entre as perguntas da imprensa e as respostas.
Treino Seleção do Japão (Foto: Fabricio Marques)Alberto Zaccheroni, técnico do Japão, dá o tom italiano da seleção  (Foto: Fabricio Marques)
Julio Cesar morou no Japão, é professor de japonês e sabe ler e escrever com ideogramas. Ele revela alguns hábitos e postura dos jogadores japoneses.
- Eles são muito gente boa, profissionais e pontuais com horários. No primeiro dia, a princípio, o treino seria fechado, mas eles decidiram abrir. Explica a diferença entre as culturas. Alguns jogadores que foram passear próximo ao hotel aqui em me perguntaram se era perigoso. Todos são muito disciplinados – afirmou o tradutor.
O Japão disputou quatro Copas. E em todas teve um jogador brasileiro no elenco: Wagner Lopes (França-1998), Alessandro Santos (Coreia do Sul/Japão-2002 e Alemanha-2006) e Túlio Tanaka (África do Sul-2010), além de Zico como treinador em 2006. Agora com o italiano Alberto Zaccheroni, a seleção japonesa não tem nenhum brasileiro na delegação.
Funcionário de Yuto Nagatomo, o paraibano Weki Soares acompanha o jogador no Brasil e também presta serviços para o lateral da seleção japonesa e do Inter de Milão, na Itália. Tendo convivido com jogadores de diversas nacionalidades, ele aponta as principais características dos japoneses:
- O profissionalismo é impressionante. Assim como o respeito.  Eles respeitam até o ar que respiram.
Zaccheroni abre apenas 15 minutos de treino
Nesta quinta, Okazaki e Yoshida concederam entrevistas para a imprensa brasileira. O primeiro mostrou ter aprendido português ao dizer que estava cansado; o segundo, falou bom dia.
Nesta sexta-feira, assim como fizera na véspera, o técnico Zaccheroni só permitiu que jornalistas acompanhassem 15 minutos do treino. Dois treinos foram fechados para não dar pistas para o Brasil.
Antes da atividade, Kagawa saiu para passear pelas ruas de Brasília. De chinelos, o jogador do Manchester United era mais reconhecido por estar com o uniforme da seleção japonesa. Para um curioso que perguntou quem ele era, respondeu com bom humor, dando o nome de outro jogador. Depois, dobrou as mangas da camisa para aproveitar o sol da Capital Federal. Neste sábado, será a vez de tentar enxergar um horizonte mais longe. Bem além da terra do sol nascente.
homenagem de torcedores pelo aniversário do Honda, Japão (Foto: Fabricio Marques)Torcedores brasileiros homenagearam Honda, o aniversariante, no treino do Japão (Foto: Fabricio Marques)

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