sexta-feira, 14 de junho de 2013

O campeão gentil: para Del Bosque, Brasil é mais favorito que a Espanha

Técnico da Fúria, em entrevista exclusiva, elogia seleção brasileira, fala sobre estrutura que encontrou no país e defende estilo de jogo da Fúria

Por Pedro Bassan, Marcel Lins, Alexandre Alliatti e Victor Canedo Recife
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É engraçado que Vicente del Bosque seja o comandante de uma seleção tão lotada de astros com fama quase hollywoodiana – ou talvez até mais. Aos 62 anos, ele parece a contraposição máxima aos tempos de futebol midiático, de superexposição dos craques. Tem jeitão de avô do interior. Fala com simplicidade, com voz mansa. Cumprimenta todo mundo. Caminha devagar. Por vezes, parece fora do lugar. Mas não está. Ali é o habitat natural dele. E a prova está na coleção de títulos que o treinador carrega, primeiro pelo Real Madrid, depois pela Espanha. O homem que levou a Fúria a sua primeira conquista mundial agora busca uma inédita Copa das Confederações. Mas ele próprio vê sua equipe abaixo de outra na luta pela taça. Abaixo do Brasil...
Em entrevista exclusiva nesta sexta-feira, no hotel onde a Espanha está concentrada no Recife, Del Bosque encheu a bola da seleção brasileira. Destacou a presença de Felipão, observou que existe uma nova geração de talentos no país, sublinhou que percebe uma mescla de experiência e juventude. E, acima de tudo, lembrou que o Brasil joga em casa – e que o apoio à equipe pode ser decisivo.
Vicente Del Bosque treino espanha (Foto: AFP)Extremamente simples, Del Bosque parece fora de lugar em uma seleção tão midiática. Mas já coleciona títulos, como a Copa do Mundo de 2010 e a Eurocopa de 2012 (Foto: AFP)
Para o técnico da Fúria, estar no Brasil já um ano antes da Copa do Mundo é uma vantagem. Ele também defendeu o estilo de jogo de sua equipe. E lembrou que foi assim que a Espanha ganhou duas Eurocopas e uma Copa do Mundo.
Confira abaixo a entrevista com Vicente del Bosque. No domingo, ele comanda a Espanha contra o Uruguai, às 19h, na Arena Pernambuco, na estreia das duas equipes na Copa das Confederações.
O que o senhor pensa de estar no Brasil, um país tão forte no futebol e que parece tão especial para quem ama o esporte?
Estou encantado de vir disputar a Copa das Confederações. Queremos nos preparar da melhor forma possível para 2014, se merecermos estar aqui.
É uma vantagem estar aqui um ano antes do Mundial?
Acho que sim, que é conveniente. O mesmo aconteceu em 2009, antes de irmos ao Mundial. Tivemos a oportunidade de ir à África do Sul para a Copa das Confederações. Creio que serviu para nos aclimatarmos, conhecer todos os detalhes que depois encontraríamos no Mundial.
E o que o senhor acha desta competição? Qual a importância da Copa das Confederações?
Bem, penso que temos sete grandes seleções, se descartarmos o Taiti, que já tem todo o mérito de estar aqui. Quatro foram campeãs do mundo. O Brasil foi cinco vezes. O Uruguai, duas. A Itália, quatro. E nós também fomos recentemente. Também podemos acrescentar o México, recente ganhador de Olimpíada, a Nigéria, campeã na África, e o Japão, sempre muito complicado. Isso mostra a envergadura do campeonato.
Como vê o momento da seleção brasileira?
Há uma boa geração de jovens jogadores, que fizeram também uma boa Olimpíada. Há uma boa mescla. E está nas melhores mãos, as do atual treinador.
Vicente del Bosque treino Seleção Espanha (Foto: EFE)Del Bosque e seus atletas: confiança no estilo de
jogo da equipe espanhola (Foto: EFE)
Muitos críticos dizem que alguns dos principais jogadores da Espanha estão ficando um pouco velhos, que a idade está aumentando. Isso é um problema?
Não. A verdade é que temos um plantel de futuro e, claro, alguns que já estão na fronteira dos 30 anos, mas que têm muito pela frente, e eu confio que praticamente todos eles podem chegar ao Mundial de 2014, caso nos classifiquemos. Foi uma temporada muito intensa para os espanhóis, especialmente para Real Madrid e Barcelona.

O senhor recebeu muitas críticas, especialmente na Eurocopa, antes de ganhá-la, sobre o estilo de jogo da Espanha, que seria um pouco chato. Isso lhe fez pensar em mudar algo?
Viemos assim desde a Eurocopa de 2008. Praticamente não mudou nada. Claro, mudaram alguns ou outros jogadores, porque é a lei do futebol, mas como estilo, de 2008 a hoje, pouco mudou. Creio que as coisas não saíram mal com esse estilo de jogo.
Victor Valdés, em entrevista coletiva, tratou Casillas como capitão. Eles disputam posição. É um problema Casillas não ter jogado tanto no Real Madrid?
É um problema para ele, claro. Ele estava acostumado a jogar praticamente desde que chegou ao Real Madrid, exceto um ou outro episódio. O normal sempre foi ter muita continuidade. Essa linha se alterou nos últimos meses. Bem, mas aqui está, e está sendo um modelo de comportamento.
E já decidiu qual deles vai jogar?
Não, ainda não. Temos tempo para isso.
Vicente del Bosque treino espanha (Foto: AP)Del Bosque em treino no Recife: sem reclamações
com a estrutura (Foto: AP)
E o que está achando do Brasil? O que já conhecia do país?
Viemos aqui em 2000, para o Mundial de Clubes, com o Real Madrid. É um país futeboleiro, com admiração pelo que cerca o futebol, e que nos recebeu com enorme carinho por onde vamos. Estamos muito contentes. Não temos nenhum problema. E tenho certeza de que essa Copa das Confederações vai ser um êxito e que, no futuro, a Copa do Mundo de 2014 também vai ser.
Até agora, a estrutura que recebeu a Espanha foi boa?
Bem, não tenho muito do que me queixar. Devemos contemplar as diferentes oportunidades que nos são oferecidas e ser generosos com todo mundo. Queremos ficar cômodos e ter bons campos. O resto não tem muita importância.
Qual a força da seleção brasileira?
O Brasil tem individualidades muito boas. Alguns são veteranos, outros são mais jovens. É uma boa seleção. Jogamos aqui, e pela tradição que tem o Brasil, pelo passado e pelo presente, é normal que vocês sejam os máximos favoritos para ganhar a Copa das Confederações.
O Brasil? Mais do que a Espanha?
Bom, veremos no campo. Mas em princípio, com seu público, com o apoio de todo mundo, com a emoção de jogar em seu país, com tudo que representa o futebol aqui, é natural que sejam favoritos.

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