sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Neymar reabre história encerrada por Ronaldinho no Vicente Calderón

Do banco, Messi aplaudiu último gol de R10 pelo Barcelona, em 2008, no mesmo estádio em que contemplou o primeiro oficial de Neymar no clube

Por Cláudia Garcia Madri, Espanha
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Um cruzamento de Xavi e uma bicicleta perfeita de Ronaldinho Gaúcho. Do banco, Messi aplaudia de pé, ao lado de Deco, enquanto o atual camisa 10 do Atlético-MG comemorava no gramado. Mal sabiam que aquele seria o último gol do craque brasileiro pelo Barcelona. O dia: 1º de março de 2008. O palco: Vicente Calderón. O rival: Atlético de Madri. Na última quarta-feira, no mesmo estádio, contra o mesmo time e sob o olhar atento da mesma testemunha no banco - Messi saiu machucado no intervalo - Neymar marcou seu primeiro gol oficial pelo Barça, que garantiu o empate de 1 a 1. Um gol que pode ser decisivo para os catalães no jogo da volta da Supercopa da Espanha, semana que vem no Camp  Nou. Um gol que abre oficialmente a nova era de uma estrela brasileira no Barcelona, depois da triste saída de Ronaldinho Gaúcho.
- Espero que seja o primeiro de muitos - afirmou o camisa 11.
ronaldinho gaucho Atletico Madrid x Barcelona 2008 (Foto: Getty Images)Ronaldinho corre para comemorar o golaço de bicicleta em 2008: último gol pelo Barça (Foto: Getty Images)
'Sem Messi', Barça sofre no primeiro tempo
Do banco, Neymar assistiu, atento e tranquilo, ao primeiro tempo desastroso de seu time. Ao contrário do que aconteceu no jogo do Campeonato Espanhol contra o Levante (7 a 0), Neymar não parecia desiludido com sua condição de suplente, mas sim motivado para brigar pela vaga.
O brasileiro acompanhou inclusive o aquecimento dos titulares e disputou alegremente uma roda de bobo com os outros reservas. Durante os 15 minutos da brincadeira, Neymar brincou, riu, fez malabarismos e se empenhou em roubar a bola dos companheiros sempre que estava no meio.
O jogo começou, e nos primeiros minutos, o Barcelona sofreu com a rapidez e a pressão asfixiante do meio-campo do Atlético de Madri. O técnico Tata Martino assistia de pé aos contra-ataques rápidos do adversário, que se colocou em vantagem numa bonita jogada concretizada por David Villa aos 11 minutos.
O ex-culé, que mal cumprimentou Messi antes do jogo, era o protagonista da partida até a entrada de Neymar. Villa conseguiu a tão desejada vingança do argentino e dos dirigentes que o deixaram sair para contratar o brasileiro.
Mais tarde Neymar viria a justificar essa troca. No primeiro tempo, o Barcelona continuava sem encontrar soluções. O time voltou a ressentir a "ausência" de Lionel Messi, que estava em campo, mas pouco participativo por uma lesão muscular na coxa esquerda. E quando Messi está ausente, o Barça se arrisca a perder e a passar vergonha. Porém, Neymar voltou a mostrar que pode dividir protagonismo e responsabilidade com o argentino.
Neymar e Tata Martino Barcelona (Foto: Agência Reuters)Neymar ganha chance de Martino no segundo tempo e evita derrota do Barcelona (Foto: Agência Reuters)
Entrada triunfante
A situação se vislumbrava cada vez mais complicada para os culés. Tata Martino encolhia os ombros, mas não olhava na direção de Neymar. Messi foi substituído por Fàbregas no intervalo, mas o ex-meia do Arsenal pouco mudou o rumo do jogo. O treinador argentino entendeu que não podia esperar mais e mandou Neymar aquecer. O preparador físico do time acompanhou o craque junto da linha lateral e explicou ao brasileiro que era necessário acelerar seu aquecimento.
Até que aos 13 minutos, Neymar foi chamado para entrar. O ex-santista tinha mais de 30 minutos pela frente para tentar deixar sua marca num jogo que poderia ter sido catastrófico para os catalães.
Neymar aquecimento Barcelona (Foto: AFP)Mais uma vez, Neymar começa a partida no banco
de reservas do time catalão (Foto: AFP)
Saiu Pedro, Neymar se benzeu, como de habitual, ao som de uma vaia gigante em uníssono que o Vicente Calderón lhe dedicou. Os fervorosos torcedores do segundo clube da capital já tinham vaiado Messi e repetiram a prática com o brasileiro, que já se assumiu como segundo ídolo do time.
Um gesto que não amedrontou Neymar. O brasileiro entrou em campo decidido a dar um passe decisivo na briga pela titularidade e não falhou nas poucas chances que teve. O camisa 11 esteve ativo nos primeiros minutos, pedindo bola e se movimentando rapidamente pela lateral esquerda do campo, onde manteve um duelo aceso com o lateral-direito do Atlético, Juanfran.
No entanto, Neymar pouco tocou na bola, porque o Atlético continuava atacando, apesar de o Barcelona mostrar mais capacidade para chegar ao gol adversário do que no primeiro tempo. Aos 16, Neymar voou de cabeça conseguiu para evitar que a bola saísse pela lateral num lance que parecia impossível de chegar. Mostrou boa capacidade de elevação que viria a colocar em prática minutos mais tarde.
Nos lances de ataque do Atlético de Madri, o brasileiro permanecia perto do gol contrário, como jogador mais avançado do Barcelona. Os companheiros o procuravam sempre que era preciso colocar rapidamente a bola na área. E foi de um lance caricato do jogo que surgiu o gol. Aos 20, o craque caiu sozinho de forma espetaclar, durante um lance dividido com Juanfran na lateral. O jogador do Atlético deu risada no momento da queda de Neymar que ficou protestando, mas o Barça recuperou a bola e muito rapidamente, o camisa 11 se levantou, ultrapassou Juanfran na sua corrida e apareceu como um raio em cima do gol de Thibaut Cortois. Do outro lado, estava Daniel Alves que observou a inteligente movimentação de Neymar e cruzou para o lado do amigo. Num lance 100% brasileiro, o ex-craque do Santos cabeceou para o fundo do gol, balançou a rede e correu para festejar de braços abertos na direção do lateral. Após alguns momentos de euforia, Neymar vibrou primeiro com seus companheiros, os reservas que faziam aquecimento e depois o treinador.
O Vicente Calderón fez silêncio, e pela primeira vez na noite se escutaram os gritos dos torcedores do Barcelona. O momento era de Neymar. Do banco de reservas, Messi aplaudia, assim como tinha feito no último gol de Ronaldinho no mesmo estádio.
Messi Atlético de Madri e Barcelona (Foto: Agência EFE)Com dores na coxa esquerda, Messi deixa a partida no intervalo da Supercopa (Foto: Agência EFE)
Gols importantes de cabeça
As coincidências do primeiro gol oficial de Neymar com a camisa do Barça não ficam por aqui. No final do encontro, o camisa 11 reconheceu que não marca muitas vezes de cabeça, mas, quando marca, são gols importantes. O craque mencionou indiretamente o seu primeiro gol pelo Santos que também foi de cabeça, em 15 de março de 2009, no Pacaembu, contra o Mogi Mirim (vitória de 3 a 0). O astro da seleção brasileira também começou seu percurso com a amarelinha anotando um gol de cabeça em um amistoso contra os Estados Unidos em 2010. Neymar já tinha marcado pelo Barcelona em dois amistosos, contra as seleções de Tailândia e Malásia, mas o gol frente ao Atlético de Madri foi o primeiro oficial e logo na disputa de seu primeiro título.
Neymar Brasil 2010 (Foto: Agência Reuters)Neymar e Robinho contra os EUA em 2010: gol
de cabeça pela Seleção (Foto: Agência Reuters)
Um gol que pode, definitivamente, abrir caminho para o lugar de Neymar no time que enfrentará o Málaga no domingo e receberá o Atlético de Madri na próxima quarta-feira no Camp Nou. Graças ao gol do brasileiro, ao Barcelona, um empate 0 a 0 será suficiente para levar o título.
- Feliz pelo gol, mas o mais importante é a vitória do time. Estou contente por ter ajudado a minha equipe. Era um jogo difícil, o Atlético de Madri é uma grande equipe, com grandes jogadores e trabalhou muito bem a pressão. Foi um jogo emocionante, o próximo jogo é em Camp Nou e temos de ser campeões - concluiu Neymar, sem disfarçar sua enorme felicidade pelo protagonismo.
O craque, porém, não terminou seu discurso sem deixar os habituais elogios a Messi, que nem foi lembrado pelos jornalistas.
- Foi uma pena não ter jogado com o Messi, porque ele é o melhor, e todos querem jogar com ele - repetiu o brasileiro (uma frase que para a maioria dos jornalistas espanhóis já se tornou cansativa).
Consagração de Neymar
Após o gol do craque, o Vicente Calderón não voltou a ser o mesmo, o jogo abrandou visivelmente o ritmo e os coros das arquibancadas eram mais suaves. Os dois times se mostraram um pouco cansados na etapa final, mas Neymar continuou se movimentando, levantava o braço pedindo bola e aos 26 do segundo tempo até se atreveu em se aproximar num momento de cobrança de falta perto do gol do Atlético de Madri. Porém, Xavi e Iniesta pegaram na bola e Neymar regressou para a área.
Poucos minutos depois, novamente na frente do gol, o camisa 11 podia ter chutado, mas não foi egoísta e ofereceu a bola a Sanchez, que chutou em cima da zaga. O brasileiro se animou e ainda tentou algumas fintas em cima de Juanfran e Miranda mas não teve muito sucesso. Na hora da marcação, Neymar voltou a falhar e viu o segundo cartão amarelo em seu segundo jogo oficial. Cinco minutos antes do final do encontro, o ex-santista cometeu falta sobre Gabi numa disputa de bola e o juiz o puniu.
Os árbitros espanhóis dão a entender que Neymar não vai ter vida fácil nos gramados ibéricos. Além de facilitarem algumas faltas dos adversários sobre o craque – que chegou à Espanha com fama de cair com facilidade – os juízes não vão perdoar as marcações faltosas do brasileiro.
Neymar aquecimento Barcelona (Foto: AFP)Neymar se diverte em roda de bobo com jogadores reservas no aquecimento (Foto: AFP)

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