terça-feira, 12 de maio de 2015

Donas de três dos quatro cinturões, brasileiras dominam o Invicta FC

Campeã no fim de abril, a lutadora de 24 anos Livinha Souza se junta a Hérica Tibúrcio e Cris Cyborg no quadro de campeãs do maior evento de MMA feminino

Por Rio de Janeiro
Três cinturões em quatro categorias. No Invicta FC, maior evento de MMA feminino do mundo, o Brasil reina quase que absoluto. Além de Cris Cyborg, campeã peso-pena e figurinha carimbada no MMA feminino, a nova geração também brilha: Hérica Tibúrcio conquistou o título peso-átomo em dezembro de 2014 e, no dia 24 de abril deste ano, foi a vez de Lívia Renata Souza sagrar-se campeã na divisão peso-palha.
Katja Kankaanpaa x Livia Renata Souza  (Foto: Scott Hirano/Divulgação)Lívia Renata Souza conquistou o título do Invicta com uma finalização no 4º round sobre Katja Kankaanpaa (Foto: Scott Hirano/Divulgação)
Contra a finlandesa Katja Kankaanpaa, considerada favorita no combate, Livinha precisou de muita raça para definir a luta no quarto round. Mais cansada que a adversária, segundo ela por conta da estratégia na perda de peso, a brasileira conseguiu encaixar um belo triângulo no minuto final do assalto. Ela conta que, quando pegou a posição, sabia que era "questão de vida ou morte", e que seguraria até o último segundo se fosse preciso.
- Enfrentei uma das melhores grapplers do mundo, que já venceu diversas meninas, inclusive brasileiras, além de ser a campeã. Ela valorizou a luta o tempo todo, não iria vender barato. Minha estratégia era tentar ser mais rápida que ela nos golpes, entrar, bater e sair. Mas, depois que ela fez bastante força comigo na grade, acabei me desgastando um pouco, ainda mais por estar muito leve na luta. Subi no ringue com apenas 2kg a mais do que pesei. Eu a senti mais forte, com mais volume e explosão muscular. Só que eu fui dosando o gás. Quando a peguei no triângulo, sabia que ali era vida ou morte, e que iria segurar até o último segundo. Essa é uma posição bem forte minha e, graças a Deus, consegui encaixar.
O caminho comum para atletas que se destacam no Invicta, como Livinha, é ir competir no UFC, maior organização de MMA do mundo. Cláudia Gadelha, brasileira mais bem posicionada no ranking peso-palha do Ultimate, é uma das que percorreram essa estrada. Com apenas uma derrota em 13 lutas, sendo essa uma decisão duvidosa frente a atual campeã da divisão, Joanna Jedrzejczyk, Claudinha acredita que o Invicta serve como porta de entrada para a carreira internacional das lutadoras, e afirma que o nível de competitividade do evento não é tão inferior ao do UFC:
Cláudia Gadelha UFC (Foto: Ivan Raupp)Com apenas uma derrota, Cláudia Gadelha é atualmente a segunda colocada no ranking peso-palha do Ultimate (Foto: Ivan Raupp)
- Eu acho que essas meninas são promessas para o MMA no futuro. Eu já lutei com a Hérica, e ela é super talentosa, muito esforçada. Torço muito para ela, e para a Livinha também. Estão chegando aí para ficar. Não vejo o nível do Invicta sendo muito inferior ao do Ultimate. Vejo como o começo da carreira de muitas meninas. Nem digo começo, até porque quem chega lá já tem uma bagagem grande em eventos nacionais. Mas, internacionalmente falando, é um início.
Lívia Renata Souza, no entanto, prefere não pensar no UFC por agora. A lutadora quer aproveitar o cinturão e continuar mantendo a paciência que a levou ao título. Para ela, ainda não é momento de pensar em sair do Invicta, visto que lutou apenas umas vez no evento, em um ano e meio de contrato. 
- O UFC é um grande sonho, mas tudo tem o seu tempo. Se surgir a oportunidade, não descarto. Até porque os eventos são parceiros, então eu acho que as coisas vão acontecer naturalmente - diz.
Natural de Araraquara, interior de São Paulo, a atleta revela que passou por dificuldades no caminho do título. Ela conta que largou a faculdade de fisioterapia para se dedicar ao sonho de se tornar campeã mundial. Diretamente "das ruas do gueto", como costuma colocar em postagens nas redes sociais, a lutadora de 24 anos começou nas artes marciais ainda criança, e acompanhou o crescimento do MMA feminino de perto.
Herica Tiburcio, INVICTA FC MMA (Foto: Divulgação)Herica Tiburcio é campeã peso-palha do Invicta FC desde dezembro de 2014, quando bateu Michelle Waterson (Foto: Divulgação)
- Treino judô desde os seis anos, sempre para competir. Trocava as brincadeiras de criança pelos treinos. As dificuldades foram enormes. Aqui no Brasil, no começo, não havia muitos eventos, muitas atletas e muitas divisões de peso. Graças a Deus o UFC abriu as portas, houve o "boom" e a gente acabou entrando nessa leva. Renunciei a várias coisas pela minha carreira, mas foram dificuldades que, no fim, valeram a pena. Sempre morei no meu bairro, zona oeste de Araraquara. Lugar humilde, de pessoas humildes, mas a galera é bem tranquila e lá é ótimo de morar. Sempre tive amigos por lá e o pessoal torce muito por mim. Esse reconhecimento é muito importante - conta.
Com 25 anos, Hérica Tibúrcio também integra esta nova leva do MMA feminino brasileiro. A atleta conquistou o cinturão peso-átomo do Invicta, categoria inexistente no UFC, em dezembro do ano passado sobre Michelle Waterson, e vê com ótimos olhos o recente título da conterrânea. Quanto ao futuro das brasileiras na modalidade, ela é otimista.
- Eu acho excelente. O Brasil está mostrando cada vez mais como somos fortes. É o terceiro cinturão brasileiro, fico muito feliz pela vitória da Lívia. Se Deus quiser outras vão entrar e trarão mais vitórias pro Brasil - prevê.
* Sob orientação de Marcelo Russio

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