quarta-feira, 23 de março de 2016

Claudinha Gadelha: "Joanna tenta ser como o McGregor, só que ela é burra"

Brasileira, que projeta abrir academia nos Estados Unidos, revela detalhes da briga com adversária no TUF e garante que luta virou pessoal: "Ela é muito desrespeitosa"

Por Rio de Janeiro
Cláudia Gadelha até se segura, mas é difícil para ela quando se trata de falar sobre sua arquirrival Joanna Jedrzejczyk. Especialmente após seis semanas de convivência direta durante a gravação do TUF 23, que teve as pesos-palhas como treinadoras das duas equipes. A brasileira chegou a evitar contar os palavrões que desferiu contra a campeã da divisão até 52kg do Ultimate em uma discussão que tiveram, mas deixou clara sua irritação com a postura da polonesa, que, de acordo com ela, chegou a desrespeitar até os treinadores do Time Gadelha, como o técnico de boxe Zeilton Nenzão, que não fala inglês.
Claudia Gadelha UFC MMA (Foto: Raphael Marinho)Claudia Gadelha disse que Joanna tenta imitar McGregor, "mas é burra" (Foto: Raphael Marinho)
Quando questionada se Jedrzejczyk seria para ela o que Conor McGregor se tornou para José Aldo, Claudinha disse que a lutadora até tenta imitar o irlandês, mas explicou que existe uma diferença fundamental entre eles na sua opinião.
- O McGregor é muito inteligente. Ele sabe o que fala. Se ele te falar uma coisa e você responder, ele vai saber revidar. E a Joanna é burra - afirmou, em entrevista exclusiva ao Combate.com.
Entre outros assuntos, Gadelha disse que não pretende ser treinadora de mais nenhuma edição do TUF, afirmou que o confronto com Joanna, marcado para o dia 8 de julho, em Las Vegas (EUA), no TUF 23 Finale, se tornou algo pessoal e ainda revelou que gostaria de fazer uma briga sem regras contra a polonesa para poder lutar "na emoção".
Confira a entrevista completa:
Combate.com: Vocês se desentenderam na coletiva do UFC. Como foi passar por aquela situação? O que ela falou para você?
Cláudia Gadelha: Não faço a mínima ideia. Eu não sei o que ela falou para mim. Simplesmente ignorei ela a temporada toda e não era ali que ia olhar para a cara dela e olhar para ela. Durante a temporada toda ela tentava me provocar e entrar na minha mente. Acho que eu entrei na dela. Ela sempre falava alguma coisa e se perdia nas respostas. Ela falou que tinha dia que ela estava legal comigo e dia que ela estava me tratando mal. Mas, na verdade, não foi isso. Ela começou a temporada tentando entrar na minha mente o tempo todo, só que eu revidava e quando eu revidava ela ficava calada, não sabia o que responder. Então ela simplesmente ficou calada. Vocês vão ver durante a temporada que ela ficava o tempo inteiro enchendo o meu saco, o tempo inteiro tentando falar alguma coisa, tentando fazer o trash talk. Só que ela não se dava bem e foi parando no meio da temporada e foi ficando mais calada.
Joanna Jedrzejczyk coletiva UFC (Foto: Jason Silva)Joanna Jedrzejczyk provocou Claudia Gadelha em coletiva promovida pelo UFC (Foto: Jason Silva)
Parece que ela falou "cala a boca" na coletiva, em português. Deu para ouvir
Acho que ela aprendeu uns dois dias antes porque ela já estava falando isso para mim uns dois dias antes. Ela estava falando "cala a boca" porque não tem o que falar. Toda vez que ela tentava falar alguma coisa para mim eu respondia e ela ficava sem falar. Ela aprendeu a falar o "cala a boca" e ficou nessa. Quando eu falava alguma coisa ela começava "cala a boca, cala a boca", mas não saiu disso.
Dana White falou que vocês saíram na mão, mas que não foi filmado. Pode contar como foi?
O UFC ficou muito ligado para a gente não ficar sozinha uma com a outra porque sabiam que ia dar m***. Toda vez que a gente se cruzava dava uma m***. Toda vez que a gente se cruzava a gente brigava por algum motivo. Por várias vezes a gente quase saiu na porrada, mas sempre tinha alguém por perto. No último dia a gente estava assinando camisas, luvas e tudo que tinha que fazer para terminar a temporada, e as câmeras estavam desligadas. Aí a Joanna estava voltando do banheiro, e eu estava indo para o banheiro. A gente se esbarrou e ficou cara a cara uma com a outra dentro da academia. A gente começou a se encarar, passamos uma pela outra, mas continuamos nos encarando. Ela mostrou o dedo do meio, e eu respondi (em inglês) de uma maneira que ela ficou muito chateada. Respondi de uma maneira que ela arregalou o olhão assim e disse "O quê?!". Ela estava com uma garrafa na mão, jogou a garrafa em mim, eu esquivei e a garrafa passou. Só que ela ficou mais p*** ainda porque a garrafa não pegou em mim. Ela falou: "Você quer brigar?". E eu disse "Quero! Vem!" Ela estava a uns cinco metros de distância, veio em minha direção e eu fiquei parada. Mas quando ela chegou perto não fez nada. Eu dei um empurrão nela, ela deu um empurrão em mim, e eu dei um chute nela. Aí seguraram ela e ela ficou daquele jeito "Não me segura não!", mas indo para trás como se fosse "Me segura, mas não me segura" (risos).
Então foi 10 a 9 Claudinha?
Eu não posso falar muitas coisas da temporada. O que eu posso falar é que a Joanna é uma pessoa que eu nunca vou querer ficar por perto. Ela é muito desrespeitosa. Não só desrespeitou a mim, mas também meus treinadores e os próprios companheiros de equipe. No fim, ela quis se fazer de boazinha e mostrar que ela não era a pessoa que ela é, que ela estava fazendo só um jogo, fazendo uma atriz no jogo. Mas acho que isso não vai tirar a mancha que ela fez na carreira, porque ficou bem feio. Chegou a desrespeitar o meu treinador de boxe, queria até bater no cara. Era o Zeilton Nenzão. O meu treinador de jiu-jítsu, Ronaldinho, também discutiu com ela. Ela ficava o tempo inteiro querendo arrumar confusão com a gente e sempre se dava mal.
Claudia Gadelha UFC MMA (Foto: Raphael Marinho)Claudia Gadelha revelou como foi confusão com Joanna após as gravações do TUF 23 (Foto: Raphael Marinho)
Ela é o seu Conor McGregor?
Acho que é uma tentativa do McGregor. O McGregor é muito inteligente. Ele sabe o que fala. Se ele te falar uma coisa e você responder, ele vai saber revidar. E a Joanna é burra. Do mesmo jeito que ela luta, ela é pessoalmente. A personalidade dela é do mesmo jeito que ela luta. Se você vai para cima dela igual a um leão, era vira um gatinho. E no trash talk também foi assim. Quando ela vinha igual a um leão, e eu ia igual a um leão para cima dela, ela virava uma gatinha e não falava nada.
Por conta de toda essa animosidade entre vocês, essa luta deixou de ser só uma luta e virou algo pessoal também?
Virou uma questão pessoal, mas isso não vai me atrapalhar na hora da luta em relação a seguir a estratégia, seguir o plano da luta. Tenho raiva dela, mas sei que a raiva apaga a luz do raciocínio. Na hora da luta, vou esquecer tudo o que aconteceu entre a gente e vou lutar com a cabeça. Não vou lutar com a emoção, vou lutar com a razão. Tenho um problema muito pessoal com ela, que nunca tive antes com ninguém. Cresci na filosofia do jiu-jítsu, em que você aprende a respeitar o seu adversário. Aprende a respeitar seus mestres, as pessoas que estão ao seu redor e a gente acaba sendo referência para as crianças e para as pessoas que têm a gente como espelho. Respeito todo mundo. Não só porque sei que tem pessoas que se espelham em mim, mas também por toda a filosofia que aprendi dentro do esporte, por respeitar os mais velhos e respeitar os mestres também. Sou muito respeitosa, e a Joanna é uma pessoa muito desrespeitosa. O simples fato de ela desrespeitar os treinadores me incomodou muito. É um choque de filosofia. Ela quebrou a filosofia que eu cresci dentro das artes marciais. Tenho um problema muito pessoal com ela. Gostaria muito de sair na porrada com ela não só dentro do octógono, mas também na rua. Porque dentro do octógono vou lutar com a razão. Mas gostaria de sair na porrada com ela na emoção mesmo, sem nada (risos). Porque a mulher é um saco, não dá para aturar.
Como foi a convivência com os outros treinadores dela
Fiz até amizade com um dos treinadores dela, que é o Daniel Wojrin, que falava português, super gente boa. A gente trocava a maior ideia. Sempre cumprimentei os treinadores dela, apesar de serem todos fechados. O cara da Polônia, o treinador principal dela, é bem fechado, mas no final já estava se soltando, e eu sempre, com muito respeito, cumprimentei os treinadores todos os dias. Já a Joanna eu não fazia questão de cumprimentar nenhuma vez.
Muitas vezes existe uma rivalidade grande antes da luta, mas, quando acaba, fica tudo bem, os lutadores se cumprimentam e o clima fica mais amistoso. Como acha que vai se com vocês quando acabar a luta? As coisas vão ficar mais calmas?
Não. Virou pessoal porque houve um choque de filosofia da arte marcial. O que eu levo para a minha vida é a filosofia que eu aprendi e cresci dentro do jiu-jítsu. Do respeito, determinação, foco, ser uma pessoa sempre focada e centrada, não fazer trash talk. Não sou uma pessoa que tenta entrar na mente de ninguém. Nunca vou ser, mas também não vou deixar barato quem tenta entrar na minha. Eu vou responder. E foi isso que aconteceu. Acho que o desrespeito dela com a minha filosofia dentro do esporte vai ser uma coisa que eu vou carregar para o resto da vida.
Tenho um problema muito pessoal com ela. Gostaria muito de sair na porrada com ela não só dentro do octógono, mas também na rua. Porque dentro do octógono vou lutar com a razão. Mas gostaria de sair na porrada com ela na emoção mesmo, sem nada. Porque a mulher é um saco, não dá para aturar (risos).
Cláudia Gadelha
Acha que se vencer vai ser marcada a trilogia logo em seguida?
Depende. Pretendo acabar com essa luta rápido e, se acabar rápido, acho que não tem trilogia não.
Como acha que vai acabar?
Não vejo a Joanna ganhando de mim, estando bem preparada para lutar cinco rounds. Ela é uma lutadora de muay thai que defende queda bem. Botando ela de costas no chão, vira uma tartaruga. Meu jogo vai ser chutar, socar, usar meu boxe e muay thai, mas, se tiver oportunidade, vou derrubá-la também.
Voltando ao TUF, como foi administrar o ambiente da equipe, com mulheres e homens
No começo decidi separar os homens das mulheres. Até porque só tinha quatro meninas e quatro meninos. Ficava difícil treinar todo mundo junto. Foi diferente das outras edições, e os caras eram bem mais pesados, então não tinha como eles treinarem juntos. Dividi dois treinadores para cada grupo. Comecei a ver que a galera tinha certa deficiência em cada modalidade, específica para cada um. As meninas, no começo, estavam indo muito na emoção, saindo na porrada, tentando machucar uma a outra. Foi uma coisa que eu tive que administrar no decorrer das semanas. Depois tive que misturar todo mundo por conta das deficiências. Eu via que tinha cara que era muito bom em pé, mas tinha que defender queda. E cara muito bom de queda, mas que não era muito bom em pé. Em seis semanas eu não podia transformar o cara, mas tinha que prepará-lo para o próximo passo na carreira no TUF. Juntei todo mundo de novo. E a gente teve que trabalhar muito mais para focar na deficiência de cada um e acho que deu muito certo.
Como foi a experiência de ser treinadora e ficar no córner? Aceitaria ser treinadora em outro TUF?
Nunca mais (risos). Não faria outro TUF não. É muita correria, você não para. Tinha luta marcada e tinha que dar atenção para os lutadores, mas precisava de atenção para mim também. Foram seis semanas muito corridas. Amei a experiência. Toda a minha experiência aqui na Nova União, convivendo com treinadores muito sinistros, me deu certa experiência. É uma coisa que eu vou levar para o resto da vida. E aprendo com eles todo dia. Não só os treinadores, como também os lutadores de alto porte. No TUF tive a prova de que carrego essa experiência comigo. Não sou treinadora aqui, mas convivo com pessoas tão boas que consegui passar o mesmo nível para eles. Amei a experiência, mas não faria de novo por ser muita correria.
Pensa em ser treinadora quando parar de lutar
Não penso nisso ainda. Daria aula sim, vou dar aula. Estou com um projeto de montar uma academia lá fora, mas não quero concentrar só nisso. Tenho outros planos para o futuro. A academia vai ser na Pensilvânia (EUA). É uma área que precisa ser muito explorada. A academia mais perto é a uma hora de carro. Dá para fazer o jiu-jítsu crescer muito lá. É no meio de três estados: Nova Jersey, Pensilvânia e Nova York. É uma área que pode trazer muita gente. Poderia trazer pessoas dos três lugares com esse CT. Vou ter a oportunidade de fazer o jiu-jítsu crescer naquela área.
Encarada Joanna Jedrzejczyk Claudia Gadelha UFC (Foto: Jason Silva)Claudia Gadelha acredita que rivalidade não vá se acalmar após confronto no TUF 23 Finale (Foto: Jason Silva)
Como lida com a ansiedade de fazer a luta mais importante da carreira
Olho para cada luta como a mais importante da minha vida. A única diferença é que agora sou muito mais profissional. Na minha primeira e segunda lutas no UFC, não fazia camp para a adversária. Fazia o treino com todo mundo e queria sair na porrada do jeito que fosse. Você pode ver que era bem isso que eu fazia dentro do octógono. Depois que aconteceu o que aconteceu com a Joanna, fiz um camp voltado para a Jessica (Aguilar), para o jogo dela e fez toda a diferença. Estou há quatro meses da, vamos dizer, luta mais importante da minha vida. Só que estou me sentindo melhor do que todas as outras porque me sinto mais profissional, mais madura, estou na estrada há 12 anos. Estou feliz para caramba com a oportunidade de disputar o cinturão do UFC. O título de melhor peso-palha do mundo está correndo de mim faz tempo. A primeira vez que fui disputar no Invicta, quebrei o nariz 10 dias antes da luta. Na segunda vez, também no Invicta, de novo contra a Carla Esparza, faço o camp perfeito, mas vou parar no hospital, e os médicos não me deixam lutar. É meio frustrante. Fui lutar com a Joanna e quem vencesse disputaria o título. Fiz aquela luta e, na minha cabeça, não perdi a luta. Na minha cabeça sou invicta. Tem duas coisas que acho que ela pode ter ganhado: Os juizes podem ter me punido por causa daquele soco que dei fora do tempo. Mas ninguém viu que, quando o gongo soou, ela me socou também. Foi muito rápido, o gongo soando, eu chutei, ela me deu o soco e eu "bum", bati. Mas ficou feio para mim porque foi bem depois do gongo ter soado. Ou foi porque ela chegou mais perto de terminar a luta por conta do knockdown no fim do primeiro round. Mas a luta é analisada round por round. Se você prestar atenção, até os dez últimos segundos, eu levei ela para baixo umas três vezes, passei a guarda, encaixei o katagatame, montei, derrubei de novo... Ela ganhou os dez últimos segundos porque deu o knockdown. Realmente, eu caÍ quase apagada. Mas voltei. Ela chegou mais perto de acabar a luta, mas, como a luta é analisada round por round, ela ganhou o primeiro. O segundo e o terceiro não tem como eu ter perdido, não tem como, não existe essa possibilidade. Deram a luta para ela e perdi de novo a oportunidade. É um sonho, mas um objetivo que eu estou galgando há um tempão e agora estou feliz de, finalmente, a luta estar marcada e estar treinando para isso.
TUF 23 Finale
8 de julho, em Las Vegas (EUA)
CARD DO EVENTO (até agora):
Peso-galo: Joanna Jedrzejczyk x Cláudia Gadelha

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