segunda-feira, 18 de abril de 2016

Reflexo em dia, cacos caçados e foco: as peculiaridades do tiro esportivo

Esporte exige concentração e conta com um patrono de peso para fazer parte das Olimpíadas: Barão de Coubertin, idealizador dos Jogos da era moderna, era atirador

Por Rio de Janeiro
tiro esportivo felipe wu (Foto: André Durão)Felipe Wu segura a pistola de ar (Foto: André Durão)
Preparou, apontou e... é ponto! Assim segue a rotina das provas de tiro esportivo, que estão sendo disputadas desde a última sexta-feira na etapa do Rio da Copa do Mundo, em Deodoro. A competição está servindo como evento-teste para os Jogos Olímpicos e mostrando que concentração, segurança e precisão são preocupações constantes de atletas e dirigentes, que também não deixam de ter seus momentos de descontração entre uma série e outra.

São 15 provas disputadas nas Olimpíadas divididas em três categorias: tiro ao prato, carabina e pistola. Enquanto a primeira acontece ao ar livre, as outras duas são disputadas em modernos stands internos. As disciplinas do tiro ao prato são a fossa olímpica (um prato lançado), fossa double (dois pratos lançados) e skeet (um ou dois pratos lançados de diferentes posições). Na carabina, as disputas são na carabina de ar 10m, três posições 50m (em pé, ajoelhado e deitado) e deitado 50m. Na pistola, há a pistola de ar 10m, pistola livre na distância de 25m para mulheres e 50m para homens, além do tiro rápido 25m, quando o atleta descarrega cinco tiros seguidos por rodada.

No tiro ao prato, cada prato quebrado vale um ponto, e, nas provas de carabina e pistola, a pontuação varia de acordo com o local onde o alvo foi acertado. Se acertar na mosca, vale 10.9 e, quanto mais longe do centro, menor a pontuação. Em algumas provas eliminatórias, vale só o ponto cheio como 10 ou 9, mas as gradações podem ser usadas para desempate.
TRÂMITE DAS ARMAS
Uma competição de tiro necessariamente envolve uma questão delicada: o porte de armas. E como fazer? Existe todo um procedimento burocrático. Ao embarcar e desembarcar em aeroportos, os atletas precisam procurar a Polícia Federal para ganhar uma espécie de autorização de tráfego. Em grandes competições, é comum que ônibus do torneio recepcionem os atletas no aeroporto e os levem ao local da prova - para que o deslocamento tenha uma formalidade. No espaço onde é realizada a competição, eles não ficam transitando de arma em punho. Precisam deixá-las em um local chamado armeria, onde todas ficam reunidas. Para tirá-las de lá, só apresentando um código personalizado de identificação.
MÃO LIVRE? NEM TANTO
Uma mão atira com a pistola. E a outra? Bom, ela também é importante para o equilíbrio do corpo na hora do disparo. O objetivo do atleta é ficar o mais relaxado possível. Para isso, eles costumam repousar a mão livre na altura da cintura, com um dedo preso no cinto da calça ou então em seu elástico. Outros preferem posicioná-la no bolso.
TREINANDO OS REFLEXOS
Algumas provas, sobretudo aquelas de tiro ao prato, exigem reflexo supremo: do nada, surge um prato voando, e o atirador tem um piscar de olhos para agir. E tem como treinar reflexo? Tem. Os chineses que o digam. Sempre tradicionais neste esporte, eles têm uma forma toda peculiar de aquecer. O treinador, por exemplo, pode posicionar um copo no chão e ficar falando partes do corpo onde cada atleta, em posição de agachamento, precisa encostar assim que recebe o comando - e fazer o mesmo quando a orientação é para pegar o copo. O mesmo pode ser feito com uma bolinha de tênis, por exemplo.

ATÉ O ÚLTIMO CACO
O prato não é muito grande com 109,5 milímetros de diâmetro por 28,58mm de altura. Pegar um deles nas mãos faz com que a admiração pela precisão dos atiradores olímpicos cresça de maneira vertiginosa. Mas acertar um desses em movimento não é a única coisa que fazem esses atletas. Na prova de fossa olímpica, se por acaso acertarem o alvo de primeira, muitos tentam o segundo tiro a que tem direito para ir atrás dos cacos que voam pelo ar. E o mais impressionante é que eles acertam!
HAJA LIXO!
evento teste tiro esportivo (Foto: André Durão)Cartuchos descartados (Foto: André Durão)
A cada rodada de tiro ao prato, os atletas jogam fora os cartuchos utilizados. Por sinal, uma caixa com 25 deles, que dura uma rodada ou menos dependendo da disciplina, custa em torno de R$ 50,00. Quer saber como ficam as lixeiras das pedanas, como são chamadas as áreas de competições, no fim do dia? Lotadas de caixas e cartuchos vazios. E são três pedanas com cinco lixeiras grandes em cada. Dá uma olhada na imagem abaixo como fica cada uma delas após as disputas do tiro esportivo.
Cartuchos após prova de tiro ao prato na Copa do Mundo de Tiro Esportivo, em Deodoro (Foto: Rodrigo Breves \ GloboEsporte.com)Cartuchos após prova de tiro ao prato na Copa do Mundo de Tiro, em Deodoro (Foto: Rodrigo Breves \ GloboEsporte.com)


CONCENTRAÇÃO MÁXIMA
Poucos esportes exigem tanto do atleta em concentração quanto o tiro esportivo nas provas de carabina e pistola. E eles têm um intervalo entre um tiro e outro - no qual surge o maior risco de desconcentrar. É um período interessante: os atiradores respiram fundo, deixam o olhar perdido em algum ponto, mexem o pescoço, por vezes fecham os olhos. E aí empunham a arma novamente - mas podem logo desistir do tiro se não se sentirem totalmente confiantes. Isso sem contar a possibilidade de sentar um pouquinho ou trocar ideia com o treinador para recuperar a concentração.
Giuseppe Giordano, da Itália, se concentra na prova de tiro esportivo, na Copa do Mundo, em Deodoro (Foto: Alexandre Alliatti \ GloboEsporte.com)Giuseppe Giordano, da Itália, se concentra durante a disputa da pistola de ar (Foto: Alexandre Alliatti \ GloboEsporte.com)

TODO CUIDADO É POUCO
As provas de tiro não costumam ter muito público. Mesmo assim, cuidados são necessários para que ninguém saia ferido. Os atletas são orientados a deixar as armas desengatilhadas quando não estão disparando. E não podem, sob hipótese alguma, direcioná-las ao espaço onde estão os espectadores. Se o fizerem, poderão até ser desclassificados.
ALTOS DECIBÉIS
É tiro para todo lado! Em certos momentos, tem uma prova rolando em um stand e atiradores treinando em outro. O barulho não para. Ouvidos mais sensíveis podem sofrer no Centro de Tiro. Para evitar qualquer reclamação, protetores são distribuídos pelas arquibancadas para que todos possam acompanhar as provas sem problemas.
Protetor de ouvido tiro esportivo (Foto: Raphael Marinho)Protetores de ouvido distribuídos ao público no Centro Nacional de Tiro, em Deodoro (Foto: Raphael Marinho)

TORCIDA LIBERADA NA FINAL
Há uma preocupação de como vai se comportar a torcida brasileira em esportes a que não está acostumada. Em geral, nas eliminatórias, todos acompanham sem muita manifestação. Não é necessário silêncio geral, mas a gritaria poderia atrapalhar os atletas. Já nas finais, gritos, palmas e até pisadas fortes nas arquibancadas estão liberadas. Lembra o momento em que uma equipe de futebol está para bater uma falta.
BARÃO DE COUBERTIN
Você já se perguntou por que o tiro esportivo recebe a primeira medalha dos Jogos Olímpicos? Essa questão foi respondida por Durval Balen, presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE). O Barão Pierre de Coubertin, idealizador das Olimpíadas da era moderna, era atleta de tiro.

- Toda a primeira medalha conferida, não só aqui no Brasil, mas em todas as Olimpíadas é uma homenagem ao Barão de Coubertin - explicou Balen.
BRASILEIROS BEM NA DISPUTA DA PISTOLA 50M
Nesta segunda, no Centro de Tiro, Felipe Wu voltou às disputas na pistola livre 50m. A prova contou com 63 atiradores e 60 avançaram para a segunda eliminatória, que vai acontecer nesta terça, assim como a final. O líder do ranking mundial na pistola de ar 10m terminou o dia em 13º lugar nos 50m. Ainda melhor foi Julio Almeida, que ficou em 12º na disciplina em que foi ouro no Pan de Toronto. Os dois e mais Vladimir Silveira, 54º no geral, avançaram. O melhor do dia foi o sérvio Mikec Damir. O atual bicampeão olímpico, Jin Jong-Oh, da Coreia do Sul, ficou na terceira colocação.

A única medalha do dia saiu na prova masculina da carabina de ar 10m. O ouro foi para o russo Vladimir Maslennikov, que venceu o chinês Cao Yifei na decisão. A medalha de bronze ficou com Sergey Kamensky, também da Rússia. Os brasileiros caíram na fase classificatória com Bruno Lion Heck em 63º, Samuel Lopes em 81º e Ivan Bastos em 82º e último lugar.

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