quinta-feira, 21 de julho de 2016

Dedé desafia: "Testa o Conor sério, que eu quero ver se ele bate o peso"

Treinador da Nova União revela que irlandês ficou dois meses sem ser testado antes de luta contra José Aldo, e nega que advento da USADA influa em má fase da equipe

Por Rio de Janeiro
A equipe Nova União tem sido o centro de muita especulação na comunidade internacional do MMA desde que a Agência Antidoping dos EUA (USADA) assumiu o controle antidoping dentro do UFC, em julho de 2015. Apesar de apenas um lutador do time ter sido flagrado em exame antidoping desde então - Felipe Olivieri, que está em processo de contestação após ser acusado de usar metiltestosterona numa luta em janeiro - o baixo rendimento no período de um ano após o início da nova política tem servido para fãs e rivais apontarem o dedo e acusarem a academia de estar sofrendo para se adaptar às novas regras. Recente levantamento realizado pelo Combate.com mostrou que a Nova União teve a pior queda de aproveitamento pós-USADA, caindo de 88% (14v-2d) entre julho de 2014 e 2015 para 20% (4v-16d) entre 1º de julho de 2015 e 1º de julho de 2016.
André Pederneiras, Dedé Pederneiras, MMA, Nova União, UFC (Foto: Adriano Albuquerque)Dedé Pederneiras fala em um consultório em sua academia: treinador se ofereceu a pagar por exames semanais para José Aldo e seus últimos dois adversários (Foto: Adriano Albuquerque)
Treinador da equipe, Dedé Pederneiras contesta a correlação entre a má fase de seus atletas e a implementação do controle antidoping mais rígido. Em entrevista ao Combate.com, o técnico ressaltou que há diversos fatores que contribuem para a discrepância, e afirmou que sempre teve uma posição forte contra o uso de substâncias proibidas que tragam aumento de rendimento. Ele lembrou que, no ano passado, se ofereceu a pagar para que a USADA testasse tanto seu principal lutador, o peso-pena José Aldo, quanto seu arquirrival Conor McGregor três vezes por semana durante a preparação para o confronto entre os dois, realizado em 12 de dezembro de 2015. A proposta foi recusada, e Pederneiras revelou que o irlandês McGregor ficou um longo período sem ser testado antes do combate.
- O Conor McGregor ficou dois meses e dois dias sem ser testado antes da luta contra o Aldo, e eu batendo nos caras, pedindo, pedindo, pedindo e nada foi feito. Eles falavam: "Ah não, é só o número de vezes que tem que ser igual. O Aldo foram quatro vezes, ele também foram quatro vezes", mas nas duas, três últimas semanas, em que ele já estava em Los Angeles. Mas depois de dois meses e dois dias tomando o que quiser, é mole ser testado. Testa ele 100 (vezes). Não vai ser pego nem nada. Todo dia coloca o cara para mijar. Não tem mais nada. Testa da maneira correta. O Aldo foi testado da maneira correta. Quinze dias depois que ele teve o negócio dele, 25 dias teve, 30 e poucos dias depois teve... Assim é mole. (...) Primeiro, que eu não posso acusar sem ter certeza. Eu seria leviano de estar acusando uma pessoa sem ter uma certeza. Mas, que é no mínimo estranho, é. A gente pedir, pedir, pedir para fazerem três testes na semana e o cara ficar dois meses e dois dias sem ser testado - teve um evento na Irlanda (em outubro) e ele não ser testado mesmo estando todo mundo lá - é complicado. Testa o Conor sério, que eu quero ver se ele bate o peso - contou e desafiou o treinador.
De acordo com o site oficial da USADA para o UFC, McGregor foi testado oito vezes em 2015 - duas no terceiro trimestre do ano e seis no último trimestre. José Aldo aparece com as mesmas quantidades de exames, nos mesmos períodos. A página, contudo, não especifica as datas desses testes. Contactada por e-mail, a entidade não respondeu até a publicação desta matéria a um pedido pelas datas em que os testes foram realizados.
Pederneiras afirmou que renovou sua oferta de pagar por exames semanais para a potencial revanche entre Aldo e McGregor - espera-se que o irlandês, atual campeão linear do peso-pena (até 65,8kg), enfrente o brasileiro, campeão interino, após encarar o americano Nate Diaz pelo peso-meio-médio (até 77,1kg) em agosto. O treinador questionou também a forma como os testes surpresa são conduzidos, e citou um caso envolvendo o peso-médio Thales Leites para exemplificar como os coletores poderiam ser mais insistentes para evitar que os lutadores escapassem desses exames.
- Se você perguntar para o Jeff Novitzky (vice-presidente do UFC para saúde e performance de atletas e contato entre a entidade e a Usada), na última vez em que eu estive com ele, eu falei: "Eu acho que a maneira de ser testada está errada". É uma maneira surpresa? OK. Chegou aqui hoje, mas hoje eu não estou, vem amanhã. Não te achei hoje, fala: "Meu amigo, deixa esse recado aqui para ele porque eu vou continuar tentando avisar. Se eu não peguei ele hoje, amanhã eu vou estar aqui". Chegou amanhã, ele não está, fala: "Eu vou estar aqui amanhã e, se ele não aparecer, são dois anos de suspensão." Não vem daqui a um mês, dois meses e meio, três meses. Aconteceu com um atleta meu, então eu não sei qual era o procedimento. Bateram na casa do Thales, ele estava dormindo, apagado na cama, não escutou o telefone, o cara não fez o teste nele e o Thales lutou contra o (Michael) Bisping sem ser testado. Estava tomando alguma coisa? Não, tanto que foi testado várias vezes depois. Mas nesse dia, se ele tivesse realmente armado a situação, ele teria chegado na luta dopado. (...) Agora, testa desse jeito que eu estou falando. Foi teste? É surpresa? Chega aqui hoje, não está? O cara deveria dizer: "Então estou aqui amanhã de novo". Se o pessoal responder que o atleta foi para a China, liga para o pessoal da China e fala: "Galera da China, tem doping aí, não tem? Vou te dar o endereço onde o cara está, vocês vão testar o cara amanhã aí". Aí a gente falaria: "Olha, fulano, espera aí amanhã, porque os caras vão te testar aí". Se falarem que está na Malásia, manda um cara para a Malásia. Os caras têm contato no mundo inteiro.
CRÍTICAS A LEVANTAMENTO SOBRE RENDIMENTO PÓS-USADA
Dedé Pederneiras pediu ao Combate.com direito de resposta após ver o destaque dado à Nova União no levantamento dos aproveitamentos das equipes antes e depois da implementação da nova política antidoping do UFC. O treinador criticou especialmente o uso de uma foto de José Aldo, que jamais foi flagrado em exames de doping, para ilustrar a matéria, e elencou motivos para a queda de rendimento do time.
- Várias coisas não foram analisadas aí. Casamento de luta, disputa de cinturão... Um negócio nítido que qualquer um conseguiria ver foi, por exemplo, a situação do (Renan) Barão. O Barão lutou antes do dia 1º de julho, contra o TJ Dillashaw e infelizmente perdeu. E lutou depois do dia 1º de julho, da mesma forma. Você computar de uma forma igual os dois resultados, pós... em que ele teria perdido porque tomou alguma coisa, isso não tem cabimento nenhum, já que já existia uma derrota anterior ao (controle de) doping. (...) Não foi visto que a gente ofereceu para o UFC, juntamente com o Jeff Novitzky, antes da luta, serem os dois testados, ele (Aldo) e o Conor, em três meses, sendo feito testes três vezes por semana em que a gente pagava os testes para não dar nenhum tipo de prejuízo. Nada foi feito. Nessa luta agora, a gente fez a mesma proposta para o Frankie Edgar, não que a gente ache que o Frankie tome alguma coisa, mas para mostrar, realmente, a nossa lisura na situação. Oferecemos a mesma coisa, que a gente pagava os três testes semanais, como vou oferecer novamente na próxima luta contra o Conor, que sejam feitos três testes, que eu pago novamente. (...) Aí você vê: Valmir Bidu e Michel Trator foi uma luta que eu tenho e-mail do cara do UFC que coordenou aqui, porque não teve comissão atlética, dizendo que eles erraram. Yan Cabral e Johnny Case, todo mundo viu que foi um erro grotesco, a ponto de ter pessoas que não fossem tão em nome da comissão atlética que falaram que não tinha cabimento aquele resultado. Thales Leites e Michael Bisping, uma luta de decisão dividida, em que qualquer um poderia ter recebido o resultado. Jussier Formiga e Henry Cejudo, a mesma coisa. Então, quer dizer, aí você começa a colocar que a derrota foi a partir daí, ligando diretamente a situação dos resultados ao pós início da USADA - argumentou.
 Falar que brasileiro é tudo dopado, eu tenho que rir, porque lá, eles estão no pós-doutorado, e a gente aqui é jardim de infância em termos de conhecimento de fazer qualquer coisa em cima disso. Os caras sabem tomar, sabem 'ciclar' e sabem apagar
sobre acusações de que Brasil teria "cultura de doping" no MMA
Pederneiras também admitiu que a proibição ao uso de soro intravenoso para a reidratação após a pesagem, implementada em outubro do ano passado, atrapalhou seus atletas, mas disse que a recente adoção de pesagens pela manhã na véspera das lutas, permitindo maior tempo de recuperação, é uma mudança positiva.
- Um cara que pesa às 8h e vai lutar às 20h do dia seguinte, são 36 horas (de tempo para reidratar). É muito tempo. Porque o maior problema de quando você pesa às 16h, quando sai de lá, só janta, bebe água, tem pouco tempo até a hora de dormir, porque não pode dormir tão tarde. Aí acorda cedo para pode ser alimentar... Agora, quando faz às 8h, toma café da manhã, almoça, lancha, janta e vai bebendo água o dia inteiro. Quando chega no dia seguinte, de noite ele já está praticamente recuperado. E ainda tem mais um dia inteiro para se recuperar. É muito mais fácil. Para mim, os caras fizeram um gol de placa ao colocar essa pesagem de manhã.
O técnico ainda lembrou os exames positivos recentes de astros do MMA americano, como Jon Jones, Brock Lesnar e Chad Mendes, para atacar as acusações de lutadores e fãs estrangeiros de que o doping seria uma "epidemia" no Brasil.
- Falar que brasileiro é tudo dopado, eu tenho que rir, porque lá, eles estão no pós-doutorado, e a gente aqui é jardim de infância em termos de conhecimento de fazer qualquer coisa em cima disso. Os caras sabem tomar, sabem "ciclar" e sabem apagar. A gente não sabe nada. Falar que brasileiro sabe fazer alguma coisa é até brincadeira. Quem tem mais medalhas olímpicas e mundiais? Somos nós? Os caras não nascem mais fortes do que a gente, não nascem mais bonitos do que a gente, não nascem nada a mais do que a gente. É tudo igual. Agora, a maneira com que os caras vão sendo criados e que vão tendo várias facilidades como, suplementação melhor, alimentação melhor, treinamento desde a infância melhor, isso faz com que o cara chegue lá na frente. Quando a gente falou que o Chad Mendes tomava o negócio do "suco" - que a gente não falou nem que era bomba - há um tempo atrás, foi um pandemônio. O Aldo está aí, não foi pego. O Aldo lutou cinco rounds, o "dopado", que serviu de capa para vocês, lutou cinco rounds voando e foi testado. O Aldo tem uma vantagem que nenhum atleta que eu já vi tem. A testosterona do Aldo, normal, é 800, 900 (ng/dL) e tanto. O ano inteiro. Pode testar. É dele, mas não tem nenhum atleta meu que tenha a mesma coisa. Lógico que deve ter outras pessoas no Brasil e no mundo que tenham isso. O cara não precisa tomar nada. Você pode testá-lo lá, todos os dias, vai ver que o cara não toma nada e a testosterona dele é sempre a mesma. Pode testar o cara. Testa todo dia. Mas testa o outro também. Não testa só o meu não. Coloca os dois para fazer. Não é o mesmo número de vezes, não, é o mesmo dia. Igual. Testou hoje o meu, testa o do lado de lá também. Mas a minha opinião é: para título mundial, testa o cara duas, três vezes por semana. O cara, para ser campeão mundial tem que provar que é um cara limpo. Aí coloca o meu para lutar, mas faz fila, porque eu duvido que ele perca para alguém - concluiu.

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