Demetrious Johnson lembra bullying na infância e início sofrido de carreira

Campeão peso-mosca do UFC começou a lutar quase por acaso e recebeu apelido de 'Super Mouse' por ser o menor atleta de sua academia

Por Evelyn Rodrigues Direto de Sacramento, EUA

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Demetrious Johnson comemora vitória em sua última
luta pelo UFC (Foto: Getty Images)

Em outubro de 2012, Demetrious Johnson se tornou o primeiro campeão peso-mosca do UFC, depois de vencer Joseph Benavidez na decisão dividida dos juízes e em um duelo muito equilibrado. Junto com a conquista do título, veio também a recompensa pelo longo caminho repleto de dificuldades. Às vésperas do reencontro com "Joe Jitsu" no UFC Fight Night Combate: Johnson x Benavidez, em sua terceira defesa de cinturão, o "Super Mouse" lembrou dos momentos duros que passou na vida e na carreira até chegar ao topo do Ultimate.
Natural de Madisonville, Kentucky, nos EUA, o lutador nunca conheceu seu pai biológico. Foi criado pela mãe, e só soube que ela era quase completamente surda quando já era adolescente.
- Ela sempre foi muito independente e, apesar de não ouvir, conseguia ler lábios muito bem.  A gente demorou para descobrir. Ela tinha vários truques, por exemplo, não podia ouvir a gente gritando, mas podia sentir quando quebrávamos alguma coisa. Ela sempre falava para olharmos nos olhos dela quando estivéssemos conversando, e eu e os meus irmãos achávamos que ela estava apenas tentando nos ensinar boas maneiras. Ela dizia que estávamos nos saindo bem e que não precisávamos nos preocupar com ela - lembra, com um sorriso tímido nos lábios.
As dificuldades não tornaram Johnson um adolescente rebelde; na realidade, o tornaram um menino inseguro. Combinado à baixa estatura, isso tornou o jovem Demetrious num alvo fácil para "valentões" dispostos a brigar e impressionar colegas de escola. O lutador, porém, nunca recuou, e deixou sua mãe "de cabelo em pé" pelas confusões em que se envolveu quando estava no colegial.
- Acabei me tornando um alvo fácil para o bullying. Na escola, todo mundo tirava sarro das minhas orelhas, diziam que eram grandes e que eu parecia um rato. Quando eu fiquei mais velho, me tornei um adolescente temperamental e me meti em várias brigas. Com o tempo, o pessoal parou de mexer comigo, porque sabia que eu não levava desaforo para casa. E foi justamente por ter tanta energia guardada que eu fui procurar uma academia. Eu era muito ativo, precisava me manter ocupado - conta.
Apesar de treinar artes marciais, a decisão de seguir adiante e virar lutador aconteceu por acaso, após Johnson se deparar com o ex-campeão peso-meio-pesado do UFC, Rashad Evans, durante uma sessão de treinos. Inspirado em "Suga", ele decidiu tentar a sorte no MMA. O apelido de “Mighty Mouse” - em alusão ao desenho “Super Mouse”, famoso no Brasil na década de 80 - veio um pouco mais tarde.
- Eu tinha uns 18 anos,  ainda era atleta amador, mas era o menor lutador da academia. Porém, apesar de ser baixinho, eu dava trabalho para os caras maiores do que eu e todo mundo passou a brincar dizendo que eu parecia o Super Mouse.

Johnson na cozinha de sua casa: dificuldades na infância e na adolescência (Foto: Reprodução / Twitter)

No início da carreira como amador, Johnson teve dificuldades para encontrar adversários e chegou a pensar que não teria futuro no esporte.
- A divisão dos moscas praticamente não existia, era muito difícil encontrar caras para me enfrentar. Foi difícil, eu ganhava pouco, tive que insistir muito ou acabaria desistindo da carreira. Por muito tempo, trabalhei com outras coisas e tive até que lutar em outra divisão de peso, porque era o que tinha naquele momento.
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A estreia como profissional de MMA se deu em 2010 no World Extreme Cagefighting (WEC), mas o duelo contra Brad Pickett não saiu como o esperado e terminou com derrota na decisão unânime dos juízes.  Nas lutas seguintes, no entanto, DJ correu atrás do prejuízo e venceu Nick Pace e Damacio Page com performances de respeito. Com a aquisição do WEC pelo UFC, em 2010,  o lutador acabou sendo absorvido na transição e fez uma boa estreia contra Norifumi “Kid” Yamamoto.
Porém, foi no duelo contra Miguel Torres, em maio de 2011, pelo UFC 130, que a vida de Johnson deu nova reviravolta.
- Naquela época, eu trabalhava em tempo integral em uma fábrica e tinha que treinar cada dia em um horário. Já tive vários trabalhos e era normal ter que fazer malabarismos com a minha agenda, até porque, com o salário que eu ganhava, ainda não conseguia viver só de luta. Mas para o duelo contra o Miguel Torres, as coisas foram mais complicadas ainda porque minha mãe ficou doente (ela foi diagnosticada com câncer nos ossos) e, além de tudo, eu ainda tinha que cuidar dela.

Johnson e Benavidez são amigos fora do octógono
(Foto: Reprodução / Twitter)

As adversidades do caminho de Demetrious não pararam por aí e, apesar de todos os percalços, ele não desistiu de seus objetivos. Para isso, teve o apoio fundamental de sua esposa, Destiny Bartels, que recentemente deu à luz o primeiro filho do casal.
- Ela sempre acreditou nos meus sonhos e sempre me apoiou no que quer que eu fosse fazer. Eu trabalhava em construção, mexia com empilhadeira, sucata e transporte de tubos. Fazia de tudo um pouco, para falar a verdade, me desdobrava para conseguir fazer dinheiro até que, um belo dia, resolvi sair daquele trabalho para me dedicar mais ao MMA.  Naquele tempo, nem existia categoria de peso para mim e, ainda assim, ela me apoiou. Qualquer outra mulher ía dizer, “Arrume um emprego de verdade, em vez de ficar tentando uma carreira que pode não dar em nada”, mas ela foi meu anjo da guarda.
Considerado um dos lutadores mais completos do UFC e conhecido pela efetividade com que busca as quedas,  Johnson volta a colocar seu destino à prova neste sábado ao defender, pela terceira vez, o título de campeão dos moscas. Do outro lado, estará novamente Joseph Benavidez, que, desta vez, tem a vantagem de lutar em casa, com o apoio da torcida de Sacramento. Apesar disso, Super Mouse aparenta bastante tranquilidade e afirma que a experiência adquirida nos últimos meses deve contar a seu favor:
- É uma nova luta. O Benavidez melhorou muito desde o nosso primeiro duelo, que foi há mais de um ano, e eu também melhorei muito, então acho que vamos ter uma luta completamente diferente da primeira.  Hoje eu sou um lutador muito mais experiente dentro do octógono. Quando lutamos pela primeira vez,  o Joseph tinha muito mais experiência do que eu. Eu lembro que saía do trabalho e corria para casa para vê-lo lutar no WEC. Mas, desde que o derrotei, em outubro de 2012,  eu adquiri uma maior experiência com os holofotes e acho que isso vai me ajudar a me manter mais calmo no duelo. Estou tranquilo porque sei que, se eu vencer, vou continuar ocupado como campeão por muito tempo, principalmente porque o UFC tem expandido a divisão dos pesos-moscas, trazendo atletas novos. Se eu perder, eu vou ter que voltar para o mar para nadar com os tubarões e tudo o que eu quero agora é garantir o futuro da minha família, então perder não é opção - finaliza o campeão.
O UFC Fight Night Combate: Johnson x Benavidez acontece neste sábado em Sacramento, EUA. O Combate transmite o evento a partir de 19h30m (horário de Brasília) e o Combate.com acompanha em Tempo Real, com vídeo ao vivo da primeira luta do evento, entre Alp Ozkilic e Darren Uyenoyama. Na sexta-feira, o canal e o site transmitem ao vivo a pesagem oficial do torneio, a partir de 22h. Confira o card completo:
UFC Fight Night Combate: Johnson x Benavidez
14 de dezembro de 2013, em Sacramento (EUA)
CARD PRINCIPAL
Demetrious Johnson x Joseph Benavidez
Urijah Faber x Michael McDonald
Chad Mendes x Nik Lentz
Joe Lauzon x Mac Danzig
CARD PRELIMINAR
Court McGee x Ryan La Flare
Danny Castillo x Edson Barboza
Bobby Green x Pat Healy
Scott Jorgensen x Zach Makovsky
Sam Stout x Cody McKenzie
Abel Trujillo x Roger Bowling
Alp Ozkilic x Darren Uyenoyama