sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sem salário, alpinistas dizem que cobertura do Beira-Rio vai atrasar

Responsáveis pela instalação alegam vencimentos atrasados, prometem paralisação nesta sexta-feira e colocam em dúvida entrega antes de 31 de dezembro

Por Porto Alegre e Rio de Janeiro
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Beira-Rio Inter alpinistas reforma Copa 2014 (Foto: Paula Menezes/Globoesporte.com)Alpinistas trabalham na instalação da membrana (Foto: Paula Menezes/Globoesporte.com)
Uma dívida com os alpinistas que montam a cobertura do Beira-Rio pode atrasar a conclusão das obras de mais um estádio da Copa do Mundo de 2014. Sem receber salários, os profissionais brasileiros prometem paralisar nesta sexta-feira a instalação e ameaçam deixar o serviço – o que complicaria a entrega do estádio do Inter em 31 de dezembro, conforme o previsto, inicialmente.
De acordo com os alpinistas, a construtora Andrade Gutierrez, responsável pelas obras no Beira-Rio, alega que já repassou o dinheiro para a Fifa, que contratou a Hightex, empresa alemã, para instalar as coberturas do Maracanã, do Beira-Rio e da Arena das Dunas, em Natal. A dívida seria de cerca de R$ 40 mil com profissionais brasileiros, e € 500 mil (aproximadamente R$ 1,6 mi) com os estrangeiros. 
Assim como ocorreu no Maracanã, alpinistas estrangeiros foram contratados para instalar a cobertura. São 42 ucranianos e nove alemães, que trabalham para a empresa Hightex. Eles são responsáveis por puxar as membranas da cobertura e não receberiam parte dos vencimentos pelo serviço prestado no palco da final da Copa do Mundo.

FOTOS: a menos de 20 dias da entrega, veja como está a cobertura do Beira-Rio

Outros 11 alpinistas brasileiros responsáveis pela instalação das redes de segurança também não receberam pelo último mês de trabalho e ameaçam abandonar as obras.
- Ninguém mais trabalha a partir desta sexta. Os europeus estão revoltados. Se não receberem até segunda-feira, vão voltar para a Europa. Nem fazemos nem mais questão de receber o dinheiro agora. Depois entraremos na Justiça para buscar nossos direitos. Tudo que a gente quer é pegar passagem e voltar pra casa. Não precisa nem pagar agora. Não temos nem dinheiro para voltar para casa. Não temos como sair de Porto Alegre – disse o alpinista Telmo Felipe Neto. 

É impossível ser entregue até 31 de dezembro. Se todo mundo voltar a trabalhar, só no final de fevereiro. Se os ucranianos e alemães forem embora, dificilmente o Beira-Rio será entregue para a Copa
Telmo Felipe Neto, alpinista
 O profissional, representante do grupo, ainda afirma que não existe a possibilidade de a cobertura do Beira-Rio ser concluída até 31 de dezembro, prazo imposto pela Fifa. Segundo ele, no melhor cenário, sem paralisações, o estádio será concluído somente no final de fevereiro. Caso os alpinistas estrangeiros cumpram as ameaças e deixem o Brasil, Telmo teme até que o estádio não esteja pronto na Copa.
- É impossível ser entregue até 31 de dezembro. Se todo mundo voltar a trabalhar, só no final de fevereiro. Se os ucranianos e alemães forem embora, dificilmente o Beira-Rio será entregue para a Copa do Mundo. 
Beira-Rio Inter reforma Copa 2014 (Foto: Paula Menezes/Globoesporte.com)Beira-Rio Inter reforma Copa 2014 (Foto: Paula Menezes/Globoesporte.com)










Os profissionais ainda reclamam das condições de trabalho nas obras do estádio do Beira-Rio. 
- Ninguém faz nada. Acham que essa situação é normal. Estamos largados. E ainda muitas lonas estão presas no aeroporto. É tudo uma burocracia. Estamos todos morando em um alojamento no Beira-Rio. Não temos nem condições de usar os banheiros pela manhã. E não recebemos auxílios alimentação e transporte – disse Telmo. Os alpinistas, porém, tem direito a café da manhã, almoço e jantar na obra.
Victor Zarlotti, de 22 anos, viajou da cidade de Petrópolis para Porto Alegre no dia 11 de novembro, junto aos outros alpinistas. Segundo ele, as decepções com o trabalho iniciaram ainda no Aeroporto Salgado Filho. O grupo teve de esperar mais de seis horas para conseguir transporte até o estádio.
- Chegamos em Porto Alegre às 13h. Não tinha ninguém esperando a gente, a logística não funcionou. Ficamos lá até 19h, quando nos mandaram pegar um táxi. No alojamento, mais uma decepção. Banheiro horrível, imundo. Mais de 100 homens naquele alojamento e um banheiro – descreve.  – Os equipamentos que nos deram não eram apropriados. Nem mesmo o cinto. E o nosso supervisor tinha o curso Irata (que certifica o trabalho) em nível 1. É preciso um com certificação de nível 3.  
Traves do Beira-Rio começam a ser instaladas (Foto: Divulgação/Inter)Traves do Beira-Rio já instaladas
(Foto: Divulgação/Inter)
Zarlotti retornou para o Rio de Janeiro devido a complicações de saúde na família. A empresa forneceu as passagens para que o alpinista voltasse ao estado em 10 de dezembro. Mas o alpinista retornou para casa sem receber salários:  
- Ficaram de pagar uma parcela do 13º no dia 28 de novembro. Pagaram o valor de R$ 184 com quatro dias de atraso. O salário era para ter sido pago na sexta-feira passada (6 de dezembro). Até agora não pagaram. Ninguém resolve nada.
Procurada pelo GloboEsporte.com, a Andrade Gutierrez alegou que, em 75 anos de existência, nunca atrasou os salários dos funcionários e não seria agora, em uma obra importante como a da reforma do Beira-Rio, que a empresa faria isso. Porém, a construtora informa que uma empresa terceirizada é a responsável pelo pagamento dos alpinistas.
Já a Sepa, responsável pela instalação da membrana no Beira-Rio, não quis se pronunciar sobre o possível atraso nos salários e apenas relatou que os alpinistas atuam em ótimas condições de trabalho. 
A ideia da direção do Inter é de iniciar o Gauchão já no novo Beira-Rio, mas sem toda capacidade (51.300). De acordo com o último balanço, o estádio está com 92% dos trabalhos concluídos.
* Colaborou Paula Menezes, sob supervisão de Paulo Ludwig

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