segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Mãe, dona de salão e atrás da 1ª final: a quinta Olimpíada de Juliana Veloso

Em 5ª Olimpíada, mais experiente atleta do time brasileiro de Saltos Ornamentais abre mão de sua especialidade, Plataforma 10m, para tentar o sonho no Trampolim de 3m

Por Rio de Janeiro

Juliana Veloso na Vila Olímpica (Foto: Felipe Siqueira)Juliana Veloso na Vila (Foto: Felipe Siqueira)
Sidney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012. Atleta mais experiente da equipe brasileira de Saltos Ornamentais, Juliana Veloso traz na bagagem quatro Olimpíadas. Aos 35 anos, a veterana poderia estar em casa, desfrutando dos filhos Pedro e Tiago, do marido Roberto e cuidando do salão de beleza que administra, em vez de estar encarando a desgastante rotina de uma atleta profissional. Mas quando o Rio de Janeiro foi selecionado sede dos Jogos Olímpicos de 2016, qualquer chance de se aposentar depois de 2012 foi esquecida. Afinal, competir em sua cidade natal não era algo a se descartar assim tão fácil.

- No momento eu tomo conta do salão da família, sou mãe, esposa - porque o marido é tipo um filho, né? Mas a chave do negócio é que eu amo tudo que eu faço. Eu amo ser mãe, amo ser esposa,  amo o meu salão e amo saltar. É difícil para caramba. Mas com amor, a gente consegue. É o jeitinho brasileiro. Quando o Rio de Janeiro foi escolhido eu disse “Putzgrila, vou ter que saltar mais quatro anos e vou ter que conseguir essa vaga, pelo menos tentar com unhas e dentes”. E graças a Deus consegui, estou aqui e vou tentar fazer o meu melhor - contou.
Juliana Veloso com seus dois filhos (Foto: Reprodução)Juliana Veloso com seus dois filhos (Foto: Reprodução)


E conseguiu mesmo. Em dose dupla. Para as provas de trampolim de 3m individual e sincronizado, em parceria com Tammy Takagi. As vagas só foram garantidas na última chance possível, em fevereiro deste ano, na Copa do Mundo de Saltos Ornamentais, disputada no Parque Aquático Maria Lenk, competição que serviu como evento-teste para a Rio 2016.
Juliana Veloso e Tammy Galera garantiram vaga no trampolim de 3m (Foto: Satiro Sodré / SSPress / CBDA)Juliana Veloso e Tammy Galera garantiram vaga no trampolim de 3m (Foto: Satiro Sodré / SSPress / CBDA)

ÚLTIMA OLIMPÍADA?
Seria então a Rio 2016 a última Olimpíada de Juliana Veloso? Segundo ela, melhor não bater o martelo. E quem discordaria de uma atleta que mostra tanto fôlego e determinação? Juliana é a segunda mulher com mais participações em Jogos Olímpicos, atrás apenas de Formiga, meio-campista da seleção de futebol, que vai para sua sexta edição.
- Vamos ver. Eu não tenho planos de me aposentar ainda, não. Ainda quero disputar os Jogos Mundiais Militares. Não quero fazer planos a longo prazo. Vou deixar em aberto. Vamos vendo como ficarão as condições físicas, e aí vejo até onde posso ir - disse.
Copa do Mundo de saltos ornamentais - Juliana Veloso (Foto: Satiro Sodré / SSPress)Juliana Veloso em ação (Foto: Satiro Sodré / SSPress)


Andréia Boheme, treinadora da equipe brasileira, conhece muito bem Juliana. A treina não só na seleção, como também no Fluminense, desde quando a atleta tinha 13 anos. A técnica revela que Veloso chega à quinta Olimpíada com a mesma gana de sua estreia em Jogos Olímpicos.

- Ela é assim: fica nervosa para disputar um estadual ou um mundial. Ela se dedica e mantém o foco, então por isso não vemos como a última Olimpíada ou uma despedida. Está na quinta querendo fazer seu melhor resultado e, assim como os outros atletas, quer um bom resultado em casa. Quando acabar, aí sim foi a última Olimpíada. Mas não falamos sobre isso, pois não queremos antecipar as coisas. É como se estivesse na primeira - conta Boheme. 
Juliana Veloso e a treinadora Andrea Boheme (Foto: Satiro Sodré / SSPress)Juliana Veloso e a treinadora Andréia Boheme (Foto: Satiro Sodré / SSPress)


DA PLATAFORMA PARA O TRAMPOLIM
E na Olimpíada do Rio, Juliana Veloso quer experimentar o sabor de uma “primeira vez”. Diante da torcida brasileira, a atleta tem como objetivo chegar à sua primeira final olímpica. Em Sidney 2000, Pequim 2008 e Londres 2012 não conseguiu passar da fase classificatória. Chegou mais longe em Atenas 2004, quando alcançou as semifinais tanto na plataforma de 10m quanto no trampolim de 3m e terminou, respectivamente, na 16ª e na 18ª colocações.
Para tentar a primeira decisão, mais um desafio. Especialista nas plataformas de 10m de altura ao longo de praticamente toda a carreira, Juliana migrou definitivamente para o trampolim, sete metros mais baixo. A explicação? Chega um momento que o corpo não aguenta tantas quedas de uma altura tão elevada com tanta frequência. Afinal, dez metros é altura equivalente a um prédio de três andares. Além disso, a mudança é estratégica. Para a brasileira, no trampolim ela terá mais chances de encarar de igual para igual suas concorrentes. Algo que não teria mais condições de fazer na plataforma.

- A plataforma castiga muito. Eu saltei muitos anos de plataforma, e agora tenho 35 anos. Um treino de plataforma maltrata as articulações, é um desgaste muito grande. Então o risco de lesão é muito maior. Eu tenho condição de saltar plataforma? Tenho, fui campeã brasileira ano passado depois de seis anos sem saltar de plataforma. Mas não tenho condições de entrar com a mesma série das outras atletas em uma Olimpíada, e no trampolim eu tenho. Tenho uma série de igual para igual para competir com as outras atletas. Então resolvi entrar de cabeça nisso, literalmente - contou.
Juliana Veloso, Saltos Ornamentais, CBDA (Foto: Satiro Sodré / SSPress)Especialidade de Juliana Veloso sempre foi a Plataforma de 10m (Foto: Satiro Sodré / SSPress)
Mas para fazer a transição da plataforma para o trampolim, não bastava apenas treinamento e experiência. Era preciso também uma mudança psicológica. Fator que a atleta tem trabalhado nos últimos anos.

- Eu não me sinto uma atleta de trampolim. Eu sou, de essência, de plataforma. Então isso me deixa um pouco insegura para a hora do evento. Mas eu estou trabalhando muito essa parte emocional desde a outra Olimpíada. Estou botando em minha cabeça: “Juliana, você é atleta de trampolim, foca nisso”.
Copa do Mundo de saltos ornamentais - Juliana Veloso e Tammy Galera (Foto: Satiro Sodré / SSPress)Juliana Veloso e Tammy Takagi na Copa do Mundo (Foto: Satiro Sodré / SSPress)


E para chegar apta à Rio 2016, a atleta teve de superar algumas lesões durante o ciclo olímpico. E se o corpo não colaborar, Juliana tem 

- O que era para ter sido feito, já foi. Tive algumas lesões no caminho que me atrapalharam. Mas eu tenho a experiência. Sei que não adianta ficar afoita querendo treinar. Daqui para frente, os horários de treinos vão ser cada vez menores, o nervosismo geral vai ser cada vez maior. Minha técnica tem muitos atletas na Olimpíada, tem muita gente para se preocupar. Estou preparada tecnicamente e vou tentar saltar com a maior alegria possível. Vamos ver onde isso vai me levar.

Prestes a colocar a quinta Olimpíada no currículo, Juliana também tem autoridade para fazer uma análise da qualidade da Vila Olímpica da Rio 2016 em comparação a das outras edições de Jogos. Ocorreram alguns problemas com as instalações, principalmente com o prédio da delegação da Austrália, o que gerou muita repercussão negativa. Hospedada lá desde a última terça-feira, a brasileira elogiou o local e ficou surpresa com as críticas.

- Não deixa nada a desejar para nenhuma outra Olimpíada. Sidney, realmente, foi a melhor estrutura de todas, tudo impecável, a cidade maravilhosa, de longe a melhor que já fui. Não está ruim. Pelo contrário, está muito bom. O refeitório é maravilhoso, não falta comida, repõem toda hora. Tem muita gente para ajudar, se um negócio caiu, rapidamente aparece gente se prontificando para arrumar. Os quartos são ótimos, super confortáveis. Não tenho nada a reclamar. Posso dizer que Atenas foi incomparavelmente pior que a do Rio. Entendo que teve essa polêmica toda com a Austrália, isso realmente pode acontecer. Porém são 31 prédios de 17 andares cada um, feitos ao mesmo tempo. É normal. Vai ter problema hidráulico, vai ter problema de energia? Vai ter, porque ninguém nunca tinha usado. Todo mundo super solícito para ajudar, para arrumar. Eu, particularmente, não vi nada de ruim. Quando o pessoal da Austrália reclamou, eu estava em casa e imaginei que essas coisas poderiam acontecer. E pela condição que vi quando cheguei aqui, não consegui acreditar que poderia ter alguém reclamando.

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