domingo, 22 de janeiro de 2017

Protagonista em reinício, Neto define: "Cenas de filme, mas é minha vida"

Zagueiro relata emoção ao pisar no gramado da Arena Condá pela primeira vez após acidente de 29 de novembro, celebra recuperação e elogia atuação contra o Palmeiras

Por Chapecó, SC
Detalhes que fazem toda a diferença. O tênis calçado pela primeira vez, a passada mais segura, as palavras saindo com mais firmeza a cada entrevista. Em uma tarde de tanta emoção na Arena Condá, Neto foi o sobrevivente que tentou passar de forma mais discreta no jogo que marcou o recomeço da Chapecoense. Ainda no gramado, evitou os microfones. Depois de semanas dando entrevistas "sozinho", passou a missão para os amigos Alan Ruschel e Follmann. Ao passar pela zona mista, já refeito do turbilhão de sentimentos que viveu, não teve jeito: mostrou a serenidade que lhe é comum e deixou evidente a evolução no longo processo de recuperação.
CHAPECOENSE, Neto, Follman e Alan Ruschel Arena Condá (Foto: AFP)Neto ao lado de Nivaldo, Follman e Alan Ruschel no gramado da Arena Condá, na tarde  AFP)
Ao lado de Alan Ruschel e Follmann, o zagueiro recebeu as medalhas e o troféu de campeão da Copa Sul-Americana e foi ovacionado pelo público em Chapecó. A cada nova experiência depois da tragédia de 29 de novembro, Neto ainda se pega refletindo para absorver tudo que viveu ao longo dos últimos dois meses:   
É inacreditável. Ninguém acredita que isso vai acontecer. Entrar no gramado, ver aquela taça, não tem como não chorar. Parece ser cena de filme, mas não é um filme, é a minha vida. A emoção tomou conta
Neto, zagueiro da Chapecoense
- É inacreditável. Ninguém acredita que isso vai acontecer. Entrar no gramado, ver aquela taça, não tem como não chorar. Parece ser cena de filme, mas não é um filme, é a minha vida. A emoção tomou conta. Foi algo inacreditável. Olhei as esposas, os familiares dos que se foram e é algo muito diferente. Espero que ninguém viva o que nós, sobreviventes, estamos vivendo. Mexe com a mente. Parece que não acontece, mas aconteceu. Temos que seguir firme e com fé.   
De volta à Arena Condá desde a reapresentação do elenco, em 6 de janeiro, para dar início ao trabalho de fisioterapia, Neto ainda relutava em subir para o gramado. Tudo que tinha vivido com os companheiros, as imagens do empate heroico com o San Lorenzo na semifinal, ainda estavam muito vivas em sua memória. E o reencontro o fez desabar em lágrimas:   
- Chorei muito, principalmente quando entrei ali dentro (do gramado). Ainda não tinha entrado. Estava me tratando na fisioterapia, mas entrar ali, meu amigo... Você lembra dos momentos bons que passou. Lembrar aquele último jogo... Vem uma bola de neve, aumentam as emoções. Mas temos que estar fortes. Deus permitiu que ficássemos vivos com alegria. Saudade também, mas temos que seguir lutando para recuperar e voltar. É o que sempre sonhei.   
Mais do que uma celebração pela conquista continental, Neto fez questão de ressaltar que toda cerimônia serviu para homenagear as vítimas de 29 de novembro:   
- A medalha é algo simbólico. Vai além do título, da vaga na Libertadores, da visibilidade... Fica ali a luta, o suor, a dedicação, a amizade, o respeito. Tudo de bom que aquele grupo tinha. Significa muito.
Fé no retorno e confiança na nova equipe
Neto Follmann Alan Chapecoense (Foto: Reprodução Instagram)Neto, Follmann e Alan com troféu de campeão da Sul-Americana (Foto: Reprodução Instagram)
Ainda debilitado, o defensor não esconde que seu maior desejo é voltar aos gramados, mas não se impõe prazos ou faz cobranças exageradas. Um fato, entretanto, Neto pode garantir: desde que voltou ao convívio da Chapecoense, o processo de recuperação tem sido menos sacrificante. 
- Vai demorar um pouco por ter o tempo de recuperação, vou ter que trabalhar muito, mas creio que logo vou estar em campo ajudando. Só de saber que posso voltar, já me anima. É o dom que Deus me deu. Quero honrar esse número 4 que está guardado para mim. Sair de casa faz a coisa evoluir mais rápido. Esse ambiente me faz reagir melhor e acreditar que logo, logo vou estar em campo.   
Por fim, o defensor avaliou a nova Chape no empate por 2 a 2 com o Palmeiras. Satisfeito com o que viu em campo, o camisa 4 ressaltou, acima de tudo, que a equipe manteve o perfil que fez sucesso no clube nos últimos anos:   
- Vi o jogo, sim. Achei muito bom o time. O Mancini dispensa comentário. Os jogadores vieram para fazer a diferença. Uns conhecidos, outros não... Essa sempre foi a característica. Sempre saem jogadores que não são tão conhecidos para times grandes. A Chapecoense tem a característica de alavancar a carreira do jogador.   
O elenco da Chapecoense está de folga neste domingo. A reapresentação está marcada para segunda-feira, às 15h (de Brasília), no Centro de Treinamento. Quinta-feira, o clube fará a primeira partida oficial do ano, pela Primeira Liga, diante do Joinville, na Arena Condá.

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