domingo, 30 de junho de 2013

Brasileiro recordista de lutas no UFC, Gleison Tibau quer lutar mais 10 anos

Peso-leve potiguar fará seu 20º combate pela organização em agosto, no UFC 164, e dá o segredo da longevidade: 'Nunca recusei adversário'

Por Rio de Janeiro
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O brasileiro com maior número de lutas no UFC não é Anderson Silva, não é Vitor Belfort, muito menos Royce Gracie. O recordista do país de combates dentro do octógono nunca sequer lutou por um cinturão da organização: é o potiguar Janigleison Herculano Alves, o Gleison Tibau, peso-leve que, no dia 31 de agosto, no UFC 164, completará 20 lutas pela principal promoção de MMA do mundo. O feito, por si só, já é incrível: a maioria dos lutadores que chegam ao Ultimate não dura nem três lutas; alguns são cortados após apenas uma. Para alguém que saiu da pequena Tibau, no interior do Rio Grande do Norte, então, sequer estar no evento já era uma grande vitória.
Gleison Tibau treino na praia MMA (Foto: Adriano Albuquerque)Gleison Tibau treina na praia para sua 20ª luta no UFC, contra Jamie Varner (Foto: Adriano Albuquerque)
- Na primeira vez que eu vi o UFC, era meu sonho chegar lá, um sonho distante. Nasci numa cidade pequena, Tibau, longe de tudo, da realidade do país e do mundo. Não sei nem explicar como cheguei lá. Às vezes, paro e penso um pouco na minha vida, para trás, e fico imaginando, "Cara, era o sonho que eu queria e agora estou quebrando esse recorde com 20 lutas". Fico muito feliz com meu esforço e esse reconhecimento - afirmou Tibau, em entrevista ao Combate.com.
Para muitos, chegar a este recorde já seria o suficiente. O potiguar, porém, vê como um sinal que pode chegar ainda mais longe. Com 29 anos de idade, Gleison Tibau se enxerga enfim maduro o suficiente para buscar uma disputa de cinturão, e espera solidificar sua candidatura dentro da categoria leve com uma vitória sobre Jamie Varner, ex-campeão do WEC, em agosto. Além do título, ele tem outra meta ambiciosa: lutar por mais 10 anos e, quem sabe, chegar nas 50 lutas dentro do octógono, o que deixaria o recorde de Tito Ortiz, de 27 lutas, bem distante.
- No mínimo, 50, eu vou fazer, com certeza! Estou com 29 anos hoje, quero mais 10 anos de carreira... A média é essa, quatro lutas por ano. Já estou fazendo a terceira luta neste ano, quero fechar com mais uma. Como eu tenho esse entrosamento já com a organização, vou botar essa pilha para fazer quatro lutas ao ano (risos). Vai ser sinistro, vamos ver... Se não tiver azar de lesão, que é o que quebra muito a carreira do atleta, fizermos um bom trabalho, acho que vai tocar nisso mesmo - disse Gleison Tibau, após um treino na praia da Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde iniciou sua preparação para o combate com Jamie Varner.
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Confira a entrevista na íntegra:
UFC John Cholish e Gleison Tibau (Foto: Agência Getty Images)Em sua última luta, Tibau finalizou o americano
John Cholish (Foto: Getty Images)
Combate.com: Como você se sente chegando nessa marca de 20 lutas e se tornando o recordista de lutas no UFC entre brasileiros?
Gleison Tibau: Na primeira vez que eu vi o UFC, era meu sonho chegar lá, um sonho distante. Nasci numa cidade pequena, Tibau, longe de tudo, da realidade do país e do mundo. Não sei nem explicar como cheguei lá. Às vezes, paro e penso um pouco na minha vida, para trás, e fico imaginando, "Cara, era o sonho que eu queria e agora estou quebrando esse recorde com 20 lutas". Fico muito feliz com meu esforço e esse reconhecimento.
Muita gente sonha em chegar no UFC e não dura nem duas lutas. Qual é o segredo da permanência e da longevidade no evento?
Sempre estou nas reuniões do UFC, e acho que o que eles cobram dos atletas é aquela garra, aquela vontade. Aquele atleta que, ou perdendo ou ganhando, sempre vai para a batalha, nunca faz luta chata, nunca renega luta e sempre esteve pronto para ser chamado. Hoje, eu tenho uma amizade com os diretores e todos que trabalham na organização, e sinto esse respeito. Eles gostam do meu estilo, sempre contam comigo. Já aconteceu de eles me ligarem com duas semanas para eu aceitar desafio e eu sempre aceitei. Nunca recusei adversário. Eles me vêem como um atleta que está pronto para tudo, para qualquer data, qualquer luta.
Seu último oponente, John Cholish, se aposentou após perder para você, com apenas duas lutas no UFC, e reclamou que os lutadores recebiam muito mal. Você também havia afirmado após sua luta no UFC Rio 3 que lutar no Brasil não valia a pena, porque perdia muito do pagamento em impostos. Você viu o que o Cholish disse sobre salários no UFC? Concorda que ainda precisa melhorar o pagamento a novos atletas?
Nessa questão de bolsa, o UFC é o maior evento, mas pode não ser o evento que pague melhor. Dentro da organização, tem lutadores que recebem bolsa de US$ 4 mil, US$ 5 mil, assim como tem atletas que recebem US$ 1 milhão e até mais. Mas a organização está crescendo. O UFC fez essa explosão do MMA no mundo, fez surgir outros eventos. Essa parte de bolsa está sendo trabalhada. O MMA ter crescido tanto, temos que agradecer ao UFC.
Você com certeza começou com salários mais baixos e evoluiu. Como foi se manter lutando no UFC e morando lá fora? Foi difícil?
Foi difícil sim. Quando entrei no UFC, a bolsa era baixa e não dava para viver só da bolsa, como vemos hoje ainda vários atletas que não podem viver só da luta. Temos um gasto muito grande de treino, de preparação, de suplementação, de sparring, é um custo muito alto. Tive patrocinadores que me ajudaram. Eu tinha uma vida mais baixa, não tinha conforto, não tinha carro, não tinha casa. Hoje, com essas 20 lutas no UFC, me deu outra estrutura de vida.
Gleison Tibau treino na praia MMA (Foto: Adriano Albuquerque) Tibau é observado por um menino durante treino: apesar de estar no UFC desde 2006, potiguar ainda é desconhecido no Brasil (Foto: Adriano Albuquerque)
Vinte lutas no UFC, e você já até pediu oportunidade pelo título, mas ainda não chegou essa chance para você. Por que você acha que ainda não chegou essa chance?
Acho que eu não estava preparado ainda mentalmente. Nessas vinte lutas no UFC, nunca parei para me focar e pensar em lutar pelo título. Eu sempre gostei de lutar e ia lutar qualquer luta que fosse. Agora, nesse momento da minha carreira, estou focado, tracei isso. Na minha última luta, quis mostrar evolução na parte técnica e física, consegui fazer uma boa luta e a própria organização marcou uma luta rápida, contra um cara top, um cara bom, que vai me deixar na cara do gol. Com certeza, acho que esse é o momento da minha vida. Não quero desperdiçar, quero abraçar e trazer esse título para o Brasil.
Você acha que uma vitória sobre o Jamie Varner te deixa a uma luta, duas lutas de disputar o cinturão? É uma divisão muito embolada...
É, é uma divisão muito embolada, tem muito cara bom. Se você olhar o top 10 da categoria, todos estão prontos para lutar pelo título. É uma categoria bem disputada. Mas o Varner chegou num momento muito bom. Ele foi campeão do WEC, voltou para o UFC lutando com caras top da categoria, tem boas vitórias e vai me jogar na cara do gol. Passando pelo Varner bem, mais uma ou duas lutas vou estar lutando pelo título, com certeza.
Varner é um cara que faz lutas muito duras e é muito bom na trocação, ganhou do Edson Barboza, que é tido como um dos melhores trocadores do UFC. Qual é o caminho para derrotá-lo? É derrubar e levar para o jiu-jítsu?
É um cara que tem um bom boxe, um bom wrestling e uma pressão muito boa. Eu e minha equipe sentamos e vimos alguns vídeos dele, estamos estudando a estratégia. É um cara que deixa brecha no jiu-jítsu, que é algo que temos muito bom no Brasil. Vamos trabalhar o jiu-jítsu e buscar finalizar, quem sabe a finalização da noite.
Você está no Brasil desde o UFC em Jaraguá do Sul, quando venceu o John Cholish?
Estou desde aquela luta, um mês e meio. Eu estava de férias, recebi um convite tão rápido da organização, e não perdi tempo: comecei meu treino aqui no Brasil, na Airton Senna Team, na X-Gym, na Nobre Arte, então não fiquei parado. Vou voltar para os EUA agora para fazer meu camp de nove semanas, traçar a estratégia e fazer tudo certinho. Vou chegar bem para fazer meu camp já no gás.
Varner chegou num momento muito bom. Ele foi campeão do WEC, voltou para o UFC lutando com caras top da categoria, tem boas vitórias e vai me jogar na cara do gol. Passando pelo Varner bem, mais uma ou duas lutas e vou estar lutando pelo título"
Tibau, sobre luta contra Jamie Varner
Você está buscando também uma reaproximação com o país? Você está há muito tempo na Flórida, às vezes o pessoal até esquece de você. Está buscando uma reaproximação agora que o MMA está forte aqui de novo?
Senti que, de três anos para cá, o Brasil deu um estouro no MMA. Eu sou o brasileiro com mais lutas no UFC e estava esquecido aqui no meu país. Quero estar mais no meu país, quero ter mais a torcida do meu país comigo. Eu vivi muito nos EUA e, quando eu vinha de férias, ficava mais na minha cidadezinha, em Tibau, isolado, e a mídia brasileira não tinha a oportunidade de estar próxima a mim. Agora, quero mostrar meu trabalho e aproveitar esse momento do MMA no Brasil para trazer o título. O momento é esse.
Qual é o próximo passo? Vai trazer academia para Tibau, mais desenvolvimento no MMA?
Hoje, já sinto que, no Nordeste, sou um ídolo para os jovens. Quando chego na minha cidade... Lá, quando eu comecei, não existia academia, ninguém sabia nem o que eram artes marciais. Hoje em dia, existem vários atletas que estão começando e me têm como espelho. Fico feliz com isso e quero mais 10 anos de luta. Nesses 10 anos, quero lançar até novos Tibaus, novos atletas do Nordeste e levar para os EUA. Temos uma estrutura muito boa lá, na American Top Team tem um espaço muito bom de treinamento e eles incentivam a levarmos novos talentos brasileiros. Acho que vou lançar vários campeões por aí.
Isso que vocês estão falando de 100 lutas no UFC é "pilha" ou você pensa mesmo nisso? Pelo menos 50?
(Risos) No mínimo, 50, eu vou fazer, com certeza! Estou com 29 anos hoje, quero mais 10 anos de carreira... A média é essa, quatro lutas por ano. Já estou fazendo a terceira luta neste ano, quero fechar com mais uma. Como eu tenho esse entrosamento já com a organização, vou botar essa pilha para fazer quatro lutas ao ano (risos). Vai ser sinistro, vamos ver... Se não tiver azar de lesão, que é o que quebra muito a carreira do atleta, fizermos um bom trabalho, acho que vai tocar nisso mesmo.

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