quinta-feira, 3 de outubro de 2013

De lavador de quimono a ídolo do UFC, conheça Ronaldo Jacaré

Aos 17 anos entrou pela primeira vez em uma academia de jiu-jítsu, em Manaus. Hoje, é o terceiro colocado no ranking dos médios no ulimate

Por Manaus
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Era dia 07 de dezembro de 1995, mais precisamente, era a madrugada de uma quinta-feira. A data seria mais um aniversário qualquer, se não fosse a comemoração dos seus 15 anos. A festa foi pessoal, dividida entre ele, uma aeromoça e outros passageiros, durante o vôo que o trazia para Manaus pela primeira vez. O aniversariante: Ronaldo Jacaré. Por ironia do destino, o capixaba mudou-se para o Amazonas para fugir da violência. Dois anos depois, ingressou no jiu-jítsu. Hoje, é terceiro colocado no ranking dos médios do UFC.
A decisão radical da mãe de ‘mandar’ o filho, do Espírito Santo para o outro lado do país, era só o início de uma nova vida. Ninguém sabia, tão pouco ele, que Manaus renderia frutos tão bons. Tinha pouco mais de um ano que ‘tornara-se’ amazonense, quando Jaca e o irmão Reginaldo se mudaram para o bairro São Raimundo, Zona Oeste da capital. Poucos passos levavam à academia Asle, do mestre Henrique Machado. A iniciativa de experimentar a arte, porém não foi do ídolo do UFC.
Ronaldo Jacaré x Ed Herman MMA (Foto: Esther Lin / Showtime)Ronaldo Jacaré teve ascensão meteórica no UFC e desponta como candidato ao título (Foto: Esther Lin/Shotime) 
- Quando nos mudamos para perto da academia do mestre Henrique Machado, meu irmão começou a treinar lá. Um tempo depois, ele se machucou e eu resolvi ir no lugar dele. Vesti o kimono, que por sinal ficava enorme em mim, e fui treinar pela primeira vez – conta, ao relembrar seu primeiro contato com a arte suave, o resto, a história já é conhecida.
Competitivo em nível elevado e casca grossa nato, Ronaldo lembra com humor que após ter apanhado tanto no primeiro treino, não deixaria de voltar no dia seguinte. Na verdade, já fazem 16 anos que ele sempre volta no dia seguinte. A ligação foi instantânea, não precisou se encantar com a história da arte ou com grandes ídolos para ter vontade de aprender. Jaca, porém, não deixa de fora os encantos dos Gracie e lembra do auge de Royce ao citar o início do Ultimate, quando o filho do mestre Hélio Gracie defendia o ideal da família com as inesquecíveis lutas travadas entre o “jiu-jítsu contra todas as artes”.
Eu era um oportunista em ganhar dinheiro. Durante um bom tempo eu lavei o quimono da galera pra tirar um dinheiro"
Ronaldo Jacaré
À época, com 17 anos e adaptado com o novo lar e estilo de vida, Ronaldo ri ao lembrar que não fazia nada além de treinar. “O jiu-jítsu me conquistou, não queria saber de mais nada, só treinar”. Ainda sem ter a luta como fonte de renda, Jaca confessa: “Eu era um oportunista em ganhar dinheiro”.
- Eu não trabalhava, não fazia nada. Eu era um oportunista em ganhar dinheiro. Durante um bom tempo eu lavei o quimono da galera pra tirar um dinheiro. Inclusive, eu brinco com os meus amigos, hoje, que eles eram mão de vaca, queriam me pagar só cinco reais por cada lavada no quimono. Também já vigiei carro pra ganhar um troco – relembra, às gargalhadas, durante um café da manhã ao lado de amigos, em visita a Manaus.
Ascensão: Do mundial de 2004 para o UFC em 2013
Ronaldo Jacaré e Roger Gracie mundial de 2004 (Foto: Gustavo Aragão)Momento em que Roger pega Jacaré no armlock
que deslocou seu braço, durante final de 2004
(Foto: Gustavo Aragão)
De lavador de quimono, não foi preciso muito tempo para que Jacaré começasse a disseminar seu nome no cenário mundial do jiu-jítsu. Não há luta, porém, que tenha sido mais importante na carreira dele do que o inesquecível duelo com Roger Gracie, na final do mundial de 2004. Chega a ser tema pertinente, quando o assunto é Ronaldo Jacaré. O amazonense conquistou todas as atenções após ter seu braço quebrado durante um armlock perfeitamente encaixado. Normal, cenas ‘sanguinárias’ atraem os olhares curiosos. A relevância, no entanto, vem após a saída do golpe aplicado pelo Gracie. Sem bater, o que finalizaria a luta, Jacaré saiu do golpe, prendeu o braço quebrado na faixa e continuou a luta. Nada mais justo que Jaca vencesse, minutos depois, por pontos.
Mesmo após as simbólicas declarações onde afirmava não guardar arrependimentos em ter colocado seu braço ‘pra jogo’, o ato de coragem não faz mais parte da mentalidade do lutador. Bem humorado, ele lembra da esposa e dos filhos e brinca: “Depois que eu virei pai, fiquei medroso”.
- Eu nunca fui um cara de impor limites para as coisas que eu vou fazer. Aquilo que aconteceu, não sei se aguentaria de novo. Naquela época eu não sabia se eu iria aguentar, mas eu só tinha a luta. Às vezes eu viajava na dificuldade para lutar, ia só com passagem de ida e eu ia pensando que tinha que vencer. Essa minha vontade de vencer que fez eu aguentar o que aguentei. A realidade é que, hoje, eu não quero chegar em casa com meu braço todo esfacelado. Quero chegar inteiro, conseguir abraçar meus filhos. Depois que virei pai, eu fiquei medroso – analisa, ciente de que foram as lutas contra Roger – que tornaram-se clássico da modalidade –, que o projetaram para um outro patamar como lutador.
Mesmo antes do fatídico mundial de 2004, Jaca já flertava com o MMA. Em 2003, fez sua estreia na primeira edição do Jungle Fight, em Manaus. Perdeu. Sete meses depois teve sua primeira vitória, também no Jungle, contra Victor Babkir. Nada que fizesse o amazonense imaginar que após dez anos ocuparia o terceiro lugar no ranking dos médios do UFC. Justa posição, considerando que a lista é encabeçada por Chris Weidman, atual campeão, Anderson Silva e Vitor Belfort. Vale lembrar que Jacaré está na franquia há menos de um ano, antes, brilhava no Strikeforce, onde atuou durante três temporadas.
UFC  Ronaldo Jacaré (Foto: Eduardo Valente / Agência Estado)Amazonense ocupa terceiro lugar no ranking dos
médios (Foto: Eduardo Valente/Agência Estado)
Focado ao extremo, Ronaldo já mostrou que não veio assumir papel de coadjuvante. A última luta, no início de setembro, contra o japonês Okami serviu de aviso. A finalização ainda no primeiro round é a prova cabal de que o lutador quer despontar como um dos melhores do mundo. Para finalizar, ele idealiza um momento que marcasse história em sua vida, assim como o mundial de 2004 fez. A resposta é categórica: “meu cinturão”.
- Para repetir um momento histórico, talvez não para o mundo todo, mas para mim, seria, sem dúvidas, a minha conquista do cinturão. Eu tive uma ascensão meteórica no Ultimate, isso até me assusta um pouco, quando vejo o tanto que a minha vida mudou em tão pouco tempo. Já mostrei que posso. Agora o meu cinturão está guardado e eu vou buscar – completa.

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