Uma semana após perder a mãe, Flávio Álvaro vence e faz homenagem

Lutador supera trágica perda para estrear com vitória no SFT e coloca tributo à mãe como meta para continuar competindo profissionalmente no MMA

Por Alexandre Fernandes Rio de Janeiro

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Flávio Álvaro ao final da luta no SFT, como se
falasse com a mãe (Foto: Reprodução / Facebook)

A vida de um lutador de MMA é cercada de desafios e obstáculos constantemente. Geralmente, desde a infância pobre e cercada de privações até os primeiros passos no esporte, tendo de competir em muitos locais sem uma infraestrutura adequada. Para Flávio Álvaro, no entanto, o destino ainda pregou uma dessas peças que poderiam fazer qualquer um desistir. Na semana anterior a sua luta no Standout Fighting Tournament (SFT) contra Sérgio Soares, dia 20 de setembro, o peso-pena perdeu a mãe em função de um agravamento de uma insuficiência respiratória. O choque foi tão impactante quanto um direto bem encaixado, mas não forte o suficiente para derrubar o paulista de Taboão da Serra.
- Eu lutei em uma sexta-feira e minha mãe faleceu no domingo anterior. Mas uns dias antes, quando eu a vi entubada, sabia que seria a minha despedida dela. Foi muito difícil me preparar bem para essa luta com o estado de saúde dela piorando gradativamente e eu não conseguia me concentrar momentos antes de subir no octógono. No aquecimento dentro do vestiário, cada vez que eu tinha algum descanso eu pensava nela. Mas eu tinha que subir lá e fazer essa homenagem a ela - contou, emocionado, Flávio Álvaro.

Eu já tinha decidido que esta seria minha última luta. Mas foram tantas mensagens de apoio, que decidi continuar lutando para homenagear minha mãe"

Flávio Álvaro

Determinado a fazer da sua estreia no SFT como a última luta da carreira, o peso-pena se surpreendeu com a energia que encontrou no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. As mensagens de apoio e carinho foram tantas que conseguiram fazer com que o atleta repensasse a aposentadoria.
- Eu já tinha decidido que esta seria minha última luta. Pensava que não teria condições de continuar fazendo o que sempre amei fazer, que é subir no ringue e me divertir. Seria a forma de homenagear minha mãe. Mas no ginásio foram tantas mensagens de apoio, carinho, me apoiando, me aplaudindo que decidi continuar lutando para homenagear ela - afirmou o lutador.
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Flávio Álvaro ao lado da mãe, Dona Geni. Lutador afirma que continuará lutando como forma de homenagear a mãe (Foto: Douglas Dilser Negroceronte)

Aos 36 anos e um cartel de 45 vitórias e 10 derrotas, Flávio não pretende prolongar a carreira apenas como forma de homenagear Dona Geni Álvaro, mas também para ajudar a tocar seu projeto social com crianças carentes da cidade de Taboão da Serra, onde treina.
- Já venho desenvolvendo esse projeto há algum tempo com cerca de 50 crianças carentes. Com a ajuda dos meus patrocinadores, a única condição exigida é que a criança esteja estudando e com boas notas na escola. Se hoje em dia eu consigo viver do MMA, eu quero tentar retribuir de alguma maneira, melhorando a situação dessas crianças, que além de escolher a melhor arte marcial para praticar também recebem cesta básica e têm consultas médicas e com dentistas. Hoje em dia nós não estamos com espaço para tocar o projeto, mas espero conseguir resolver isso para voltar às aulas de jiu-jítsu, muay-thai, wrestling, boxe, MMA. Cada criança é direcionada para a atividade que ela tem o desejo de praticar - comentou Flávio Álvaro.
Sem a expectativa comum a maioria dos lutadores de MMA, Flávio Álvaro diz que o UFC é um sonho maior dos seus treinadores e empresários do que dele próprio. Entretanto, apesar de feliz pelo que fez no esporte, o atleta assume que estar entre os melhores do mundo poderia trazer além de retorno financeiro, maior visibilidade para seu projeto social.
- O MMA é muito maior do que o UFC. Por exemplo, eu gosto de lutar seis, oito vezes por ano. Sei que no Ultimate esse número iria cair. Mas claro que seria bom subir no octógono mais famoso do mundo, com aqueles que são considerados top do esporte. Agora, eu tenho na minha cabeça que eu fiz algo de bom no esporte, sou feliz pelo que fiz e conquistei - falou o peso-pena.

Flávio Álvaro ao lado de presentes entregues às crianças de seu projeto social em Taboão da Serra (Foto: Reprodução / Facebook)

Se lutar passou a ser uma forma de homenagear Dona Geni, Flávio Álvaro continuará seguindo os exemplos de um de seus ídolos: a lenda do antigo Pride, Wanderlei Silva. Lenda, aliás, é como o paulista é conhecido. Para ele, o apelido é uma pressão a mais, porém uma forma de impulsionar a dar o seu melhor sempre.
- Esse apelido quem deu foi o Ivan Jatobá. E eu tento me espelhar na humildade, na garra e determinação do Wanderlei Silva, que é uma lenda, para conseguir fazer jus a esse apelido. Espero que até encerrar minha carreira, eu consiga fazer algo parecido - disse Flávio Álvaro.