domingo, 15 de fevereiro de 2015

Venda de moto, vaquinha e sacrifícios: a 



luta fora de campo para ir ao Mundial

Sem patrocínio, jogadores usam criatividade para captar recursos para a viagem ao 
Panamá, onde a seleção brasileitra conquistou a vaga inédita para torneio nos EUA

Por Rio de Janeiro

Quem olha a conquista inédita da vaga da seleção brasileira de futebol americano para a Copa do Mundo, em Ohio, nos Estados Unidos, não imagina a luta que os jogadores também tiveram de travar fora de campo por conta da falta de patrocínio. A lista de sacrifícios é grande: venda de moto e camisetas, vaquinha nas redes sociais, leilão de camisa oficial autografada e trabalho redobrado no estaleiro durante um mês, sem folgas. Essas foram algumas das histórias por trás da batalha enfrentada pelo "Brasil Onças", apelido dado ao time canarinho. O patrocinador que iria bancar os custos da viagem ao Panamá, onde a equipe carimbou o passaporte para o Mundial, desistiu do projeto nas vésperas da viagem e eles tiveram de se desdobrar para não dar adeus ao sonho de disputar a competição pela primeira vez na história. E valeu a pena. 
Seleção brasileira de futebol americano treino no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Parte da seleção brasileira treinou no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)
Edilson Asevedo, o Jow, resolveu vender a sua moto para ajudar nos custos com as passagens para o Panamá, onde o país carimbou o passaporte para o Mundial. Filho do dono de uma oficina mecânica, ele colocou o seu xodó à venda por R$ 3,5 mil, embora o preço de custo fosse R$ 4 mil. Encontrou um comprador que prometeu que pagaria de forma rápida, um amigo de seu pai. Contudo, ainda não viu a cor do dinheiro e não tem nem como pagar a fatura do cartão de crédito. Outra ideia de Jow foi fabricar camisetas estampadas do time, e vendê-las por R$ 35. O preço de custo de cada era R$ 17. As 100 foram distribuídas por três atletas e todas foram vendidas. Ele, por exemplo, conseguiu comercializar as 33 que tinha em mãos. 
- Eu não queria ter vendido a minha moto, mas foi a solução que eu encontrei. Dei meu jeito. Ainda não recebi o dinheiro e tenho que pagar meu cartão, não dá para ficar pegando crédito e se endividar. Espero que o rapaz que comprou me pague logo ou que eu consiga dinheiro para pegar minha moto de volta e não precisar mais vendê-la. Outra ideia foi vender as camisas, fizeram um preço de custo camarada e isso também ajudou com os nossos gastos - disse Jow. 
Edilson Asevedo vendeu moto e camisas para ajudar com os custos com viagem da seleção brasileira de futebol americano (Foto: Carol Fontes)Edilson Asevedo, o Jow, vendeu moto e camisas para ajudar nos custos da viagem da seleção (Foto: Carol Fontes)
SACRIFÍCIOS E DILEMA
Cebola ainda não sabe se irá para o Mundial de futebol americano por conta do nascimento do filho (Foto: Carol Fontes)Cebola ainda não sabe se irá para o Mundial por conta do nascimento do filho (Foto: Carol Fontes)
Felipe Castro, conhecido como Cebola, conta que fez muitos sacrifícios pelo sonho de representar o país em uma Copa do Mundo. O maior deles foi deixar de lado a família, em especial, a mulher, grávida, para ir ao Panamá. A previsão é de que o nascimento do bebê seja no período do campeonato, e o jogador ainda não sabe se poderá viajar para os Estados Unidos. Para o duelo de classificação, no Panamá, a equipe se uniu e procurou captar recursos de diferentes formas. Além da venda da moto e camisas e de uma rifa, uma das iniciativas que deu um bom retorno foi a campanha pelas redes sociais, com destaque para uma vaquinha que rendeu R$ 3,7 mil para ajudar nas despesas dos atletas. 
- Foram muitos sacrifícios, como tirar dinheiro do próprio bolso para pagar passagem, o Jow vendeu a moto dele, o Santucci estourou o joelho e foi, o pessoal fez rifa e teve a vaquinha que mobilizou muita gente nas redes sociais.. Alguns times ajudaram a arcar com os custos, como o Vasco, o Flamengo e a Portuguesa. Eu deixei a minha mulher grávida em casa para viajar. Como o bebê vai nascer na época da Copa do Mundo, ainda estamos conversando sobre o assunto, não sei ainda se conseguirei viajar. A conquista dessa vaga representa um sonho. Há anos atrás, não passava pela minha cabeça que estaria defendendo o Brasil em uma Copa. Não ganhamos nada por isso, fazemos tudo por amor - disse Cebola, que trabalha como médico veterinário. 
Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Jogadores da seleção brasileira caminham pelo Aterro do Flamengo (Foto: Carol Fontes)

Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Seleção brasileira venceu o Panamá na casa do rival e garantiu vaga inédita para o Mundial (Foto: Carol Fontes)

SUPERHERÓIS DOS GRAMADOS
Por ser um esporte ainda amador e que luta para se popularizar no país do futebol, a maioria dos atletas - com exceção de estudantes - trabalha em outras profissões, de médico a engenheira, passando por analistas de sistemas, rede e logística, veterinário, economista e outras funções. Para Raiam Santos, que trabalhou no mercado financeiro em Nova York e busca emprego no Rio, é como se os jogadores fossem pessoas comuns durante o dia e superheróis à noite. Assim que conquistou a inédita vaga, o kicker tirou a sua camisa e pediu para os companheiros autografarem, a fim de leiloar no futuro e ter um retorno financeiro.  
Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Jogadores se dividem entre o trabalho em diferentes funções e o futebol americano (Foto: Carol Fontes)
- A gente trabalha e vira superherói de noite, é tipo um alter ego. Tenho certeza que todos aqui sempre sonharam em disputar uma Copa do Mundo e estamos plantando uma semente para que o esporte possa crescer. Queremos ver cada vez mais crianças jogando. Tudo o que eu consegui foi através do esporte. Morei nos Estados Unidos, onde eu estudava e jogava futebol americano - contou Raiam, campeão da liga universitária americana pela Universidade da Pensilvânia. 
TRABALHO REDOBRADO NO ESTALEIRO
Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Seleção brasileira irá estrear no Mundial diante da França, em julho, nos EUA (Foto: Carol Fontes)
Já Felipe Sodré, analista de logística, pôde conciliar as viagens com o time verde e amarelo com o trabalho no estaleiro graças a um sistema de escala com plantões alternados. Ele contou com a ajuda dos seus colegas, no entanto, para compensar as faltas, ele agora terá de trabalhar por um mês sem parar, incluindo finais de semana e feriados. 
- Eu peço para a equipe me cobrir nos plantões, trabalho um fim de semana e folgo no outro. Agora vou trabalhar um mês inteiro e não vou nem poder aproveitar o carnaval. Muitas pessoas nos ajudaram. Éramos a zebra total, mas ganhamos três jogos contra países da América do Sul (duas vitórias sobre o Uruguai e outra sobre o Chile) e disputamos a vaga contra o Panamá. Não tínhamos imagens deles jogando ou treinando, mas fomos lá e ganhamos deles. Nos preparamos para uma guerra e foi sensacional. 
A seleção brasileira, oitava colocada no ranking mundial, está no Grupo B do Mundial, de 8 a 19 de julho, ao lado de França, Austrália e Coreia do Sul. No Grupo A, estão Estados Unidos, Canadá, México e Japão. Os jogos serão disputados no Tom Benson Hall of Fame Stadium, na cidade de Canton, palco da primeira partida da pré-temporada da NFL, liga americana de futebol americano. A estreia do Brasil será contra os franceses e os três primeiros de cada chave avançam as semifinais do campeonato. 
Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Seleção brasileira de futebol americano treina no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)
Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Jogadores fizeram vaquinha nas redes sociais para ajudar a pagar passagens (Foto: Carol Fontes)
Seleção brasileira de futebol americano treino no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro (Foto: Carol Fontes)Além da vaquinha, também houve venda de moto e de camisas para suprir falta de patrocínio (Foto: Carol Fontes)

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