terça-feira, 10 de março de 2015

Com injúria racial a Feijão, Brasil reclama de argentinos e critica ITF

Em partida de uma torcida só nesta segunda, equipe brasileira sofre com insultos, lamenta comportamento argentino e se aborrece com arbitragem e organizadores

Por Direto de Buenos Aires


O último dia da série de oitavas de final da Copa Davis entre Brasil e Argentina, em Buenos Aires não ficou apenas marcada pela derrota de Thomaz Bellucci para Federico Delbonis por 3 sets a 1, que garantiu o triunfo dos anfitriões por 3 a 2. Com a política de portões abertos para o jogo desta segunda-feira, a quadra montada em Tecnópolis ficou lotada de torcedores argentinos que lançaram insultos à equipe brasileira e atrapalharam a atuação do número 2 do Brasil. Até João Souza, o Feijão, foi alvo de injúria racial, sendo chamado de macaco pelos "hinchas". Os integrantes da equipe brasileira se mostraram indignados com a arbitragem e reclamaram que a Federação Internacional de Tênis (ITF, em inglês), que gere a competição entre países, não deu suporte aos brasileiros durante os dias de disputa do confronto.
copa davis torcida brasil bellucci x delbonis (Foto: Matheus Tibúrcio)Torcedores brasileiros saem pela quadra ouvindo os berros da torcida argentina (Foto: Matheus Tibúrcio)
O clima hostil foi a tônica da partida desta segunda-feira. Somente três torcedores brasileiros foram assistir ao jogo entre Bellucci e Delbonis, além dos pais e familiares de Feijão. Primeiro ficaram no meio dos torcedores argentinos para depois irem para perto do banco brasileiro.
Se nos outros duelos a pressão imposta pelos torcedores era a mesma, no último os argentinos dominaram o coro, como se fosse uma partida de uma torcida só. Em todo primeiro serviço errado de Bellucci, os argentinos comemoravam - e o troco contra Delbonis não havia pela falta de brasileiros nas arquibancadas. Até o próprio Feijão teve de ouvir injúrias raciais dos argentinos, tanto nesta segunda, acompanhando Bellucci do banco do Brasil, quanto no domingo, quando perdeu para Leonardo Mayer por 3 sets a 2 em 6h42, o jogo de simples mais longo da história da Copa Davis.
- Eu ouvi "macaco", no comecinho do jogo. Teve "segura a banana"... Óbvio que, por dentro, eu estava mordido. A vontade era de já parar o árbitro, mas ia tomar vaia, não ia dar pano para manga. É aquilo... macaco não precisa falar, já é racismo forte. Mas o resto é normal. Jogar fora de casa é isso mesmo - disse Feijão.
Banco brasileiro dá apoio a Bellucci (Foto: Divulgação / CBT)Torcedores solitários do Brasil estavam na arquibancada; Feijão foi alvo de injúria racial (Foto: Divulgação / CBT)
Bellucci deu azar de pegar o dia em que os mais de oito mil lugares da arena em Tecnópolis esteve abarrotada de argentinos. Ouviu diversos tipos de xingamentos, como "Bellucci se cagou" e "Bolucci" (conversão de "boludo", xingamento em espanhol de cunho pejorativo, com Bellucci).
- Foi o dia mais complicado de jogar. Antes ainda tinha torcida brasileira incomodando eles. Foi um dia muito complicado, tinha muito barulho, muita gente falando no meu ouvido para sacar, nos momentos que eu ia atrás da quadra para a toalha ficavam me xingando. A gente sabia que ia ser assim, não esperávamos ser tratados como lorde - contou Bellucci.
Logo depois da partida, a equipe brasileira, já irritada, não quis dar a coletiva de imprensa oficial e obrigatória. A decisão foi baseada no fato de que representantes da ITF foram em busca de Feijão, no domingo, durante o começo da partida entre Bellucci e Delbonis, para que ele desse a coletiva de imprensa. Feijão foi, contrariado, e perdeu o primeiro set disputado naquele dia. Já Mayer não foi à coletiva, somente o capitão Daniel Orsanic. O episódio irritou a comissão técnica, assim como reclamaram dos juízes de cadeira, por não terem dado advertências contra a Argentina por conta do comportamento da torcida. O árbitro geral, o britânico Andrew Jarrett, também foi alvo das críticas do Brasil por não falar espanhol.
copa davis corda de isolamento brasil bellucci x delbonis (Foto: Matheus Tibúrcio)Corda de isolamento separava torcidas, mas argentinos encheram arquibancada nesta segunda (Foto: Matheus Tibúrcio)
- Foi um dos pontos fracos do confronto. Foi uma escolha infeliz da ITF de não ter colocado pelo menos um árbitro que falasse a língua espanhola, que seria mais fácil para todo mundo. Eu acho que os europeus às vezes vêm para cá e não entendem bem o que está acontecendo. O nosso clima, a paixão da torcida é diferente. E eles não sabem reagir em relação a isso. Nesse caso nos prejudicou e atrapalhou um pouco. Em muitas ocasiões, eles não souberam administrar as questões de controlar a torcida, de ser mais enérgico. Toda hora que o Thomaz ia sacar era barulho, tinha assobio, toda hora tinha que parar. E hoje era jogo de uma torcida só, então era só contra um jogador. Tinha que ter uma conduta diferente. Nos outros dias era diferente. Nossa torcida era menor, mas fazia tanto barulho quanto a deles. Tinha que ser mais rígido hoje, é uma coisa lógica - avaliou João Zwetsch, capitão brasileiro.
Brasil e Argentina não se enfrentavam pela Copa Davis desde 1980. Os argentinos agora possuem seis vitórias (ganharam os cinco últimos encontros), enquanto os brasileiros, duas (edições de 1972, no Rio de Janeiro, e de 1975, em São Paulo).
ARGENTINA X BRASIL - RESULTADOS
Sexta-feira
Carlos Berlocq (ARG) 2 x 3 Feijão (BRA) - 6/4, 3/6, 5/7, 6/3 e 6/2
Leonardo Mayer (ARG) 3 x 1 Thomaz Bellucci (BRA) - 6/4, 6/2, 1/6 e 6/3
Sábado
Carlos Berlocq/Diego Schwartzman (ARG) 0 x 3 Marcelo Melo/Bruno Soares (BRA) - 7/5, 6/3 e 6/4
Domingo
Leonardo Mayer (ARG) 3 x 2 Feijão (BRA) - 7/6(4), 7/6(5), 5/7, 5/7 e 15/13
Segunda-feira
Federico Delbonis (ARG) 3 x 1 Thomaz Bellucci (BRA) - 6/3, 4/6, 6/2 e 7/5

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