segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Jorginho cita Mercosul de 2000 e fala em fé na virada: "Vim porque acredito"

Técnico elogia Eurico, diz que episódio de demissão da época de jogador está superado e assume falando em manter base e corrigir problemas no meio de campo

Por Rio de Janeiro


No dia em que completa 51 anos, Jorginho iniciou um novo desafio em sua vida: comandar a tentativa do Vasco de evitar o que seria o terceiro rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro. Na manhã desta segunda-feira, o treinador chegou a São Januário acompanhado de seu auxiliar Zinho e do preparador Joelton Urtiga, teve uma reunião com a diretoria, conversou com os jogadores e falou pela primeira vez como técnico do time cruz-maltino. Na entrevista coletiva, Jorginho, que disse ter recusado proposta do Figueirense, mostrou confiança de que conseguirá tirar o time da atual situação. 
- Primeiro lugar quero dizer que é uma grande alegria assumir o Vasco no dia do meu aniversário, não poderia ter presente melhor que esse. Me sinto honrado, um clube onde construí uma grande história. E encaro o desafio com muita fé, acreditando realmente que vamos sair dessa situação. Vejo grandes possibilidades pelo plantel que temos. Não era para estarmos nessa situação, mas acreditamos sinceramente que vamos sair dessa situação - disse o técnico.
Jorginho Vasco (Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)Jorginho fala pela primeira vez como técnico do Vasco (Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)







Jorginho comanda o primeiro treino nesta tarde, em atividade fechada para a imprensa. No contato com os jogadores, o treinador lembrou a virada vascaína sobre o Palmeiras na Copa Mercosul de 2000, feito que ele viveu como atleta.
- Talvez seja a maior vitória, a maior virada da minha vida, aquela na Mercosul. Eu tentei passar isso para os jogadores na minha chegada, lembrei desse jogo. Muita gente não acredita. Eu acredito - afirmou.
Além da Copa Mercosul, Jorginho também foi campeão brasileiro pelo Vasco. A saída, no entanto, não foi amigável. Ele levou demissão por justa causa, mas conseguiu reverter na Justiça anos depois e ainda recebe do clube pelo débito da época. Jorginho garante, no entanto, que tudo isso ficou para trás. O técnico foi além e não poupou elogios a Eurico Miranda. 
- Falo com liberdade desse assunto. Conversei com o José Luis, Eurico Miranda, é uma pessoa muito autêntica, fala na lata o que tem que falar. Na oportunidade surgiu no Vasco uma possibilidade de greve que não surgiu de mim e por causa disso eu saí do Vasco. Mas a questão foi superada. Em 2013, tivemos encontro, nos abraçamos na Copa das Confederações. Existe admiração recíproca. Já rodei bastante, trabalhei no Brasil, na Alemanha, mas sem sombra de dúvida, para mim, e não falo isso porque estou aqui, falo isso para amigos e familiares, o presidente Eurico Miranda é um dos maiores dirigentes do futebol brasileiro, se não do futebol mundial - enalteceu o novo treinador do Vasco.
Reforços ainda em pauta
O treinador também lembrou a razão de ter ficado sem trabalhar desde 2014, quando deixou o futebol árabe. Ele revelou que sua irmã morreu de câncer no pulmão, em doença degenerativa que a debilitou muito rapidamente. A irmã de Jorginho morreu em dois meses e foi este o motivo, conforme explicação do treinador, do longo tempo de inatividade. Ele contou que além de se reunir com o Vasco também conversou com o Figueirense, mas preferiu a proposta do ex-clube.
Com quase 30 contratações na temporada, Jorginho elogiou as últimas chegadas, mas deixou ainda em aberto a possibilidade de pedir a contratação de reforços e deu a entender que tem carta branca da diretoria. A depender do investimento.
- A gente já sabe da posição da diretoria, do esforço deles para trazer alguns atletas, mas eles se colocaram à disposição dentro de alguma necessidade que eu tiver - disse Jorginho.
Jorginho e José Luiz Moreira apresentação (Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)Jorginho disse acreditar que o Vasco dará a volta por cima no Brasileiro (Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br)









Jorginho é o terceiro técnico do Vasco no Brasileirão e não terá vida fácil pela frente. O time vira o turno da competição de 2015 na lanterna, com apenas 13 pontos em 19 jogos, colecionando recordes negativos e em condições delicadas na luta contra a degola. 
Confira mais alguns trechos da coletiva de imprensa do treinador:
Prioridade ao Brasileiro 
Não tenha dúvida que são competições importantes (Brasileiro e Copa do Brasil). Teremos um grande rival na quarta, sabemos da importância, só vejo uma pequena diferença para (a situação) o Goiás em 2010 porque agora temos um plantel, uma mescla de jogadores jovens, experientes e vencedores. Por isso creio que a qualidade que temos hoje nos permite trabalharmos em duas competições. O maior foco será o Brasileiro, mas a Copa do Brasil é fundamental.

Psicológico do time
É algo que já atuamos no primeiro papo, na primeira conversa. Não adianta correr uma milha se não caminhamos um metro. Precisamos estar coordenados para realizar o trabalho bem feito. A intranquilidade é comum no futebol. Precisa do companheiro, das coisas caminharem bem, do juiz não errar. Temos uma excelente psicóloga que trabalha a parte da cabeça.
Inspiração na virada da Mercosul 
O que eu vivi aqui talvez foi a maior vitória ou a maior virada, que foi em 2000, quando viramos aquele jogo para 4 a 3 na Mercosul. Muitos não acreditam, mas eu vim para cá porque eu acredito. Temos a certeza de que vamos sair dessa situação. Temos que trabalhar, conversar. A melhor coisa que podemos fazer é ter um ambiente gostoso, livre. É claro que a pressão traz uma preocupação, mas temos atletas experientes e competentes para viver situação como essa.
Estratégia de guerra
O torcedor sabe da situação que estamos. É uma estratégia de guerra para a gente. Temos que dar aquilo que temos e que talvez não teríamos, mas temos. É uma hora que vão dar o melhor, ninguém aqui tem deixado de dar o máximo. Vamos dar um padrão tático à equipe. Agora, o torcedor sabe da importância dele. E aquele que não sabe precisa saber, porque como eles sempre cantam que o Vasco é o time da virada e o time do amor, eles trouxeram isso. Eu, quando joguei aqui, a gente às vezes perdia o jogo, mas a torcida foi fundamental na nossa virada. É o momento do verdadeiro vascaíno abraçar, estar junto, apoiar, porque tenho certeza que vamos sair dessa.
Necessidades do time
Claro que muitas coisas vamos tratar internamente. Acho que muito mais do que um treino, hoje foi dia de bate-papo, conversa, falar o que achamos que não foi legal no jogo passado. Daquilo que foi positivo, daquilo que foi negativo, e do que queremos como forma de jogo. Não tenha dúvida de que temos trabalho para fazer. Eu, como treinador, quero sempre tirar algo mais da equipe. É um grande desafio, mas a luta, dificuldade e desafio estão sempre para ser vencidos.
Campeão como jogador no Vasco
Às vezes não necessariamente precisa ter identidade, mas sim ser o profissional para aquela área que o clube precisa. O mais importante é que a gente vista a camisa, tatue na pele o clube que estamos. Ame aquele momento, dedique tudo. Me sinto muito tranquilo em falar isso para vocês de que como atleta e como treinador me entrego de corpo e alma ao trabalho pelo qual me realizo a fazer.
Jogo contra o Fla
Iniciar um trabalho com uma vitória é muito importante, em cima de um grande rival é mais importante ainda, traz mais confiança, alegria, motivação para o trabalho. Não tenha dúvida que vamos em busca disso. Temos capacidade e condições para isso. Mas o mais importante para aquilo que estamos pensando é manter numa regularidade. O Vasco se encontra nessa situação porque não houve regularidade. Infelizmente não houve, de forma nenhuma quero falar qualquer coisa, mas temos uma forma e uma metodologia de trabalho e vamos colocar em prática. Inclusive na escolha de atleta, os 11 que iniciam a partida de quarta.
Parceria com Zinho 
Estou vindo com o Zinho, já tinha definido isso desde o início do ano. O Zinho é meu auxiliar. Um cara que teve dois anos como treinador e dois anos e meio como coordenador. Tem conhecimento de trabalho de campo e gestão de grupo. Juntamente trazemos o Joélton que é meu preparador físico. Só não me acompanhou quando eu estava na Ponte Preta e ele estava no nosso adversário (risos). 
Drama familiar impediu novos trabalhos
Ontem tinha marcado uma reunião depois das 19h com o Figueirense, mas tinha uma reunião com o Vasco às 16h, e como não tinha nada acertado, não sou de fazer leilão. Quando definimos, fui ali e falei claro com eles. Pelo trabalho que realizei muito bem em 2011, expliquei tudo. Não tinha nada acertado com ninguém. Tive algumas boas propostas de trabalho desde o início do ano, mas perdi uma irmã há um mês e alguns dias, de câncer, e na oportunidade que tive não poderia sair do Rio. Foi tudo muito rápido, tive propostas de times da primeira e da segunda divisão. Não podemos assumir um trabalho e esperamos até o momento que pudesse.

Viagem para Munique cancelada
Seria uma observação diária e tinha conversas para sábado que vem ir para Munique, permanecer por vinte dias e ver o que estava se passando. Quanto a esse período que estive, vamos dizer assim, parado, fiquei o tempo todo vendo jogos, equipes, buscando novos treinamentos e observando tudo que está acontecendo.
Elenco do Vasco
Conheço muito bem o elenco, alguns outros jogadores vamos conhecendo aos poucos, mas a maioria conheço bem. Aos poucos vamos vendo quem tem personalidade forte, aquele que encara qualquer batalha, são coisas que vão dando condição melhor de trabalho.
Sem "pelada"
Uma das coisas que precisamos é ter uma base da virada. É claro que é muito importante manter todos os jogadores. É claro que quem não joga fica chateado, mas essa é a diferença do clube vitorioso. Quando há uma troca, não perde a qualidade. Por isso, os jogadores que estão no banco ou fora do banco, tenham a percepção de que serão importantes. Temos que conversar olhando olho no olho. Pelada vocês não vão ver a gente fazer nos próximos dias. Temos que organizar a equipe, que tenha a posse de bola, que o meio de campo que trabalha pouco, volte a trabalhar. Precisamos atuar rapidamente. Quanto mais puder repetir a equipe, mesmo tendo jogadores com 32, 33, 34 anos, são jogadores de força. Qual o trabalho que estão fazendo? Temos profissionais gabaritados para decidir isso.
Novos reforços
É uma realidade do futebol brasileiro. Mas aqueles que estão chegando tem muita qualidade. Jorge Henrique, um dos que chegou e já jogou sábado, é um jogador taticamente que todo treinador quer ter. Se doa pela equipe, é fácil trabalhar com esse nível de atleta. Existem algumas coisas que tratamos internamente. Em público elogiamos, mas lá dentro damos dura, conversamos. Algumas coisas irão mudar, mas não posso aqui ficar dizendo o que estava errado e que acredito que tem que mudar. Mas com certeza algumas coisas vão mudar. Nosso treinamento é um jogo e é fundamental o atleta entender isso. Tem que ser a intensidade do jogo para estar próximo daquilo que acreditamos estar perto do ideal. Vi muita dificuldade no meio de campo e muita ligação.
Contato com o elenco
O atleta conhece muito bem aquele que chega, fala olho no olho, conhece a situação. Estamos entendendo bem aquilo que se passa no futebol brasileiro. Conhecemos o potencial, então o que percebemos é que estão com os olhos brilhando para que dê tudo certo. Não vamos conseguir realizar um trabalho sozinho. Queremos dar padrão tático, modelo de jogo, focamos na parte tática e técnica. Existem várias coisas que se passam no entorno, então temos profissionais qualificados. Uma coisa é importante. Diretoria, comissão técnica, atletas, torcida, é hora de se unir. Sair dessa situação e levar o Vasco a um patamar que já deveria estar.
Vontade de jogar em São Januário
Tive um período que jogar aqui era alçapão, mas aqui com certeza nos sentimos em casa. O Maracanã é a casa de todo mundo, mas aqui é diferente de jogar. À medida que formos caminhando, vamos conversando. Será decisão em conjunto, mas é provável que voltemos a ter alguns jogos aqui.

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