quinta-feira, 9 de junho de 2016

"Guerreiro das ruas", Kimbo também era divertido e ídolo para a criançada

Americano morto no início da semana deixa saudade aos colegas de academia, 
que revelam lado pouco conhecido do gigante, considerado carismático e engraçado

Por Rio de Janeiro
Katel Kubis e Kimbo Slice (Foto: reprodução/Instagram)Katel Kubis afirma que crianças adoravam 
o americano (Foto: reprodução/Instagram)
Cabeça raspada, barba espessa, dentes dourados e cara de mau. Do alto dos seus 1,88m, distribuídos em 102kg, Kimbo Slice assustava  - até por ter construído sua fama em brigas de ruas, filmadas e espalhadas pela internet. A imagem do "personagem", cujo nome de batismo é Kevin Ferguson, fica apenas no ramo do entretenimento. Na academia American Top Team, onde fazia parte desde 2009, o perfil do lutador - morto na última segunda-feira -  é de uma pessoa feliz, agradável e carismática.
A aparência assustadora intimidava os adversários. Contudo, por mais contraditório que pareça, era adorado pelas crianças. Treinador de muay thai na ATT, Katel Kubis, cuja esposa Gezary Matuda - tricampeã mundial de jiu-jítsu -, dava aula a dois dos seis filhos de Kimbo, contra que inúmeras vezes presenciou o atleta dando autógrafos e tirando fotos com a criançada ao buscar os filhos na escola. 
- Ele, por si só, era uma pessoa carismática. Ele chegava na escolinha das crianças e todo mundo parava para tirar fotos com ele. Eu vi isso várias vezes. Ele não negava, ficava o tempo que fosse, era muito família. Minha esposa e eu ficávamos conversando sobre família e luta. Era uma pessoa querida também pelas crianças, era um personagem para elas. Como lutador, era agressivo, mas fora das lutas era divertido - declarou o brasileiro, em entrevista aoCombate.com.
Um dos fundadores da ATT ao lado de Marcus Conan, Ricardo Libório ainda sente as dores pela perda de Kimbo Slice. O brasileiro estava no Mundial de Jiu-Jítsu, sediado na Califórnia, no último fim de semana, quando recebeu a trágica notícia. 
- Eu tinha passado um dia ótimo. Um aluno da academia me falou: "O Kimbo morreu". Eu respondi: "O que é isso, cara?". Meu telefone estava sem bateria e, quando recarreguei, havia 20 mensagens. Foi uma surpresa triste, um acidente da vida, não temos o que fazer. Sabia que ele tinha sido hospitalizado, mas não fazia ideia da gravidade. Terça-feira foi brabo, uma coisa de louco, todo mundo querendo saber o que houve. Uma tristeza - lamentou. 
Kimbo Slice; Dada 5000; Bellator 149 (Foto: Divulgação Bellator MMA)Kimbo Slice acerta um soco em Dada 5000: esta viria ser a sua última luta no esporte (Foto: Divulgação Bellator MMA)
Libório mandou fazer duas bandeiras em homenagem a Kimbo: uma ficará sobre o caixão, enquanto a outra vai ser entregue aos seus familiares. É um singelo gesto ao amigo, a quem conheceu há cerca de sete anos, construindo uma amizade consistente. 
- A gente se conheceu no circuito de MMA. Todos adoravam esse cara, que tratava todo mundo bem. Poucos sabem, mas ele era mais inteligente do que se imagina. Conseguiu uma bolsa de estudos na universidade de Miami por sua capacidade acadêmica e não por praticar esporte. O Kimbo criou um personagem, mas ele era uma bênção para quem convivia com ele. Era amigo dos amigos, um cara que fazia todo mundo ficar feliz. O prazer dele era fazer os outros sorrir. Era um guerreiro com carisma fora do comum.
Diferentemente de Libório, Thiago Pitbull sequer sabia que Kimbo Slice estava no hospital. Embora tenha treinado com ele algumas vezes, não o tinha como amigo pessoal. Entretanto, o cearense admirava o americano. É só elogios ao ex-lutador do UFC e do Bellator.
Thiago Pitbull e Kimbo Slice (Foto: reprodução/Instagram)Thiago Pitbull destaca o respeito que possuía por Kimbo: marra era apenas para vender (Foto: reprodução/Instagram)
- Um amigo, que conhece um policial da cidade onde o Kimbo estava hospitalizado, falou que ele havia morrido. Eu falei: "Está de sacanagem, né?". Comecei a telefonar e, dez minutos depois, veio a notícia na televisão. O Kimbo era muito gente boa, uma pessoa real, sem marra. Ele se fazia de poderoso para poder vender. Era totalmente diferente do que se via na mídia. Era um cara pé no chão, honesto. Foi uma perda trágica, ninguém esperava por isso. Estava sempre interessado em aprender, treinamos juntos grappling. Quando não estava na academia, só queria descansar e ficar com a família. É um ser humano gente boa, guerreiro. Veio das ruas e virou superstar nos Estados Unidos e no mundo todo. Eu tinha muito respeito por ele.
O depoimento de Pitbull se assemelha ao de outro brasileiro: Roan Jucão. O atleta do UFC viu Kimbo Slice pela última vez pouco antes do americano enfrentar Dada 5000. Quando o viu pela primeira vez, o julgou pelo que conhecia como lutador, mas as impressões mudaram com o passar do tempo.
- Ele era um cara fenomenal, nota 1000. Geralmente, sou o último a sair, e ele treinava à tarde. Acabava o treino e ficávamos conversando. É completamente diferente do Kimbo que aparece nas câmeras. É uma pessoa dócil, um pai de família, não tinha nada de estúpido. Ele fazia aquele estilo para se promover, garantir o sustento da família, mas era uma pessoa maravilhosa. Fiquei muito triste. Eu o conheci há muito tempo. Ele chegou na academia falando com todo mundo, demonstrando respeito. Pensei: "Não é possível que seja aquela cara da televisão". Você não acredita. Quando vai conhecendo, vê que não é nada daquilo. Com um mês de academia quebrou esse pensamento. Ele é exatamente aquele ditado: não se pode julgar o livro pela capa.

Na última sexta-feira (3), Kimbo foi levado para a unidade de terapia intensiva de um hospital em Margate, na Flórida, onde os médicos detectaram um problema no coração. O atleta, que recebeu até massagem cardíaca, seria transferido para um hospital em Cleveland. A família fora avisada de que ele precisaria de um transplante, porém, ele não resistiu e morreu antes mesmo de ser levado para outro hospital. 

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