domingo, 20 de novembro de 2016

Permanência de Nasr na F1 vai ficando difícil, mas história ainda não acabou

Se o brasileiro for preterido na Sauber, por combinação de motivos, única opção seria a Manor com quem, espera-se, seu empresário, Steve Robertson, esteja conversando

Por São Paulo
Em entrevista ao GloboEsporte.com, realizada em Interlagos na sexta-feira do GP do Brasil, Monisha Kaltenborn, diretora da Sauber, disse que Felipe Nasr era apenas candidato à vaga de companheiro de Marcus Ericsson na equipe, em 2017. “Há outros concorrentes”, afirmou. Monisha falou também do estresse na relação com o staff do piloto e das condições distintas oferecidas pelo principal patrocinador de Nasr, o Banco do Brasil. 
Neste sábado, a estatal brasileira confirmou ao GloboEsporte.com o interesse em seguir investindo em Nasr, mas com apenas um terço do valor do contrato desta temporada. Acredita-se que o Banco do Brasil destinou cerca de 15 milhões de euros (R$ 58 milhões) como verba de patrocínio enquanto para 2017 disponibilizaria 5 milhões de euros (R$ 19 milhões).
Capacete Felipe Nasr (Foto: Reprodução)Capacete de Felipe Nasr; permanência do piloto na F1 fica complicada sem o apoio do Banco do Brasil (Foto: Reprodução)

Desde a bandeirada na 71ª volta da corrida de Interlagos, dia 13, há um elemento novo nessa história, potencialmente capaz de interferir diretamente no seu desfecho. Nasr terminou a 20ª e penúltima etapa do campeonato em nono, deixando a Sauber em excelente condição de no dia 27, em Abu Dhabi, terminar o Mundial de Construtores na décima colocação.
Ao décimo lugar caberá a importantíssima soma de 40 milhões de euros (R$ 150 milhões) em 2017, repassada pela Formula One Management (FOM). Quem acaba a competição fora dos dez primeiros não recebe nada da FOM.
INDIGNAÇÃO TOTAL
Monisha afirmou ao GloboEsporte.com, em resposta aos boatos de que a Sauber estaria sabotando Nasr para privilegiar Ericsson, por causa do contrato de patrocínio maior que o do brasiliense: “Você acha que seríamos loucos de renunciar à luta por uma melhor colocação no campeonato (de construtores) com todas as imensas implicações financeiras que isso teria?”
Parte importante do desgaste na relação de Nasr com a Sauber provém dos comentários, jamais feitos pelo piloto, de que as derrotas para Ericsson, nas sessões de classificação e nas corridas, teriam origem no interesse da escuderia de favorecer Ericsson. O placar do grid, este ano, está 13 a 7 para o sueco. E nas corridas, 8 a 5 para ele também.
Se os pilotos da Manor, Pascal Wehrlein e Esteban Ocon, não somarem pontos no Circuito Yas Marina, domingo, e a Sauber garantir os 40 milhões de euros, qual a implicação do feito para o futuro de Nasr na equipe?
Felipe Nasr e Pascal Wehrlein no paddock do GP dos EUA (Foto: Getty Images)Felipe Nasr e Pascal Wehrlein no paddock do GP dos EUA (Foto: Getty Images)

O que primeiro vai acontecer é que Monisha terá maior liberdade para definir o companheiro de Ericsson. A verba de patrocínio torna-se menos importante. Esse fato eleva as chances de outro piloto ficar com a vaga, o alemão Wehrlein, como já mencionado, hoje na Manor.
O inglês Stephen Fritzpatrick, proprietário da escuderia, não aceitou a redução de apenas 5 milhões de euros (R$ 19 milhões) proposta pelo sócio e diretor da escuderia Mercedes, Toto Wolff, no valor pago pelo fornecimento da unidade motriz. Em vez de Fitzpatrick pagar 18 milhões de euros, pagaria 13. Exige maior desconto.
O clima entre o piloto alemão e o time se deteriorou nos últimos meses, desde a chegada do francês Ocon, daí o seu interesse de deixá-lo. Ocon já assinou com a Force India para 2017. Wolff falou com os jornalistas, em Interlagos, que precisaria autorização do board da Mercedes para elevar a oferta a fim de que Wehrlein permanecesse na Manor.
Monisha pode aceitar Wehrlein, agora, porque como Nasr o alemão é um piloto com potencial para crescer na F1. Com a vantagem de provavelmente seu staff não gerar estresse como o de Nasr. Wolff investiria os mesmos 5 milhões de euros. Ele precisa conhecer melhor o que Wehrlein pode fazer, para saber se teria condições de substituir Lewis Hamilton ou Nico Rosberg, no fim de 2018, quando seus contratos expirarem.
O mexicano Esteban Gutierrez foi dispensado pela Sauber, no fim de 2014, depois de disputar fraca temporada, como agora na Haas, sem marcar um único ponto. Mas ele tem 20 milhões de euros da Telmex e foi visto no paddock de Interlagos conversando normalmente com Monisha. Seu retorno a Sauber é apenas pouco provável, mas não impossível.

PERMANECER NA EQUIPE
Felipe Nasr no treino classificatório para o GP do Brasil (Foto: Getty Images)Felipe Nasr em um treino classificatório para o GP do Brasil, em Interlagos (Foto: Getty Images)
Existe ainda a possibilidade de Monisha reconsiderar sua decisão de não manter Nasr na Sauber, apesar da redução significativa no valor de patrocínio. O mais importante é que a indiana naturalizada austríaca respeita Nasr como piloto e o quer bem como pessoa, por conta da sua capacidade profissional, honestidade e fácil trato.
O notável trabalho de Nasr no GP do Brasil elevou ainda mais seu conceito com todos na Sauber. No instante em que a importância do equipamento ficou menor, com a chuva intensa durante todo o transcorrer da corrida, a do piloto cresceu. E Nasr correspondeu ao que se espera dele quando as condições são mais semelhantes para todos.
Não existem problemas entre Nasr e a direção da Sauber. A fonte de estresse é o seu staff, em especial o tio, Amir Nasr, ex-piloto e dono de equipe no automobilismo brasileiro. Ele deixou tudo na vida para cuidar pessoalmente da carreira do sobrinho que, claramente, demonstra amar. E todas as suas ações são no sentido de, na sua visão, tentar garantir o melhor ao piloto.
Mas diante de como as coisas funcionam na F1, em especial numa organização suíça, bem diferente da cultura brasileira, o modelo de gestão de Amir bate de frente com o que a direção do time aprecia. Não raro vê-se engenheiros da Sauber explicando a Amir, com gráficos, o que se passa, quais as razões de o resultado do piloto não ser o esperado. Em ocasiões particulares, faria sentido. De forma regular, não.
Com a melhor performance de Ericsson em relação a Nasr do GP de Cingapura ao do México, cinco etapas seguidas, a cobrança de Amir à equipe se tornou ainda mais evidente. Nenhum grupo gosta de ficar se explicando. Ou o piloto e seu staff confiam que todos estão fazendo o melhor ou devem pensar em mudar de escuderia.
Esse fator associado aos comentários de parte de imprensa brasileira de que Nasr estava sendo sabotado tornou a situação quase insuportável para Monisha. Esses rumores chegaram a Europa. Em Interlagos a diretora da Sauber afirmou ao GloboEsporte.com, com expressão de quem estava saturada da história: “Não é assim, todos têm responsabilidade, os pilotos e o time, é 50% para cada um".
TODO MUNDO FORA
Sobre os próximos passos, não é impossível, apenas pouco provável, que a diretora da Sauber faça algo semelhante ao que seu antecessor, Peter Sauber, fez, no fim de 2011, e Nasr siga no grupo, mesmo dispondo de 10 milhões a menos que nesta temporada. O suíço proibiu o pai de Sérgio Perez de acompanhá-lo nas corridas em 2012, ao menos do motorhome da Sauber, em razão do seu comportamento espalhafatoso.
Felipe Nasr no paddock de Interlagos, para o GP do Brasil (Foto: Felipe Siqueira)Banco do Brasil não renovou o patrocínio com Felipe Nasr (Foto: Felipe Siqueira)

No caso, agora, parte do staff de Nasr teria de ter outro comportamento, ou seria proibido de ocupar o mesmo espaço do time, não por festança desmedida, como fazia o pai de Perez, mas para evitar o que a equipe considera intromissão nos seus trabalhos, ao exigir explicações regulares dos técnicos, dentre outras reações de caráter emocional.
Muito provavelmente a presença menos ostensiva do tio seria benéfica também para Nasr, por melhor que fosse sua intenção de tentar ser útil. É bem possível, ainda, que a ideia que o piloto passaria a fazer das suas experiências na F1 se aproximaria mais da realidade, permitindo-lhe expor mais seu talento, inquestionável para quem vive o universo da F1.
LISTA RESTRITA
Como promover a estreia de um jovem sem experiência ainda na F1 é pouco provável, em razão da mudança radical do regulamento em 2017, é de se esperar que a vaga na Sauber fique entre Wehrlein, Gutierrez e Nasr, sendo que o indonésio Rio Haryanto, que competiu pela Manor até o GP da Alemanha, tem pequena chance, por dispor de verba de patrocínio.
Se Nasr for preterido na Sauber, pela combinação de motivos exposta, a única opção seria a Manor com quem, espera-se, seu empresário, Steve Robertson, esteja já conversando. Mas com 5 milhões de euros, apenas, as possibilidades de Nasr não são grandes. O empresário inglês dono da Manor e da Egg Energy, companhia fornecedora de gás no sul da Inglaterra, deseja mais dinheiro dos seus pilotos, como ficou claro na negociação sobre a renovação de Wehrlein.
Se Nasr ficar sem equipe será uma perda para o Brasil. A real capacidade desse brasiliense de 24 anos não pode ser medida pelo que fez nesta temporada. A de estreia na F1, em 2015, é bem mais representativa do seu talento, quando somou 27 pontos diante de 9 de Ericsson. E outro exemplo do que pode fazer com um carro de rendimento semelhante aos demais, gerado pela perda de aderência do asfalto, causada pela chuva, foi o do GP do Brasil. Correu como bem poucos seriam capazes.
Felipe Nasr nos treinos livres para o GP do Brasil (Foto: Getty Images)Se Nasr for preterido pela Sauber, a única opção do piloto seria a Manor (Foto: Getty Images)

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