Da roça para o mundo: ex-engraxate, esperança da luta olímpica mira 2016
Após trilhar caminho difícil na infância e no início da carreira, Lais Nunes, de 19 anos, colhe os frutos de tanto sacrifício de olho nos Jogos do Rio
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Lais Nunes conhece a cidade dos Jogos Olímpicos de 2012 (Foto: Lydia Gismondi / Globoesporte.com)
O sorriso meigo ainda compõe o rosto de uma adolescente. Mas é só Lais
começar a falar para revelar ali uma mulher vivida, experiente. Talvez
bem mais que muitas de 30, 40 anos. Amadurecimento que ficou de herança
da infância sofrida e da longa batalha por um lugar ao sol. A lutadora
veio de uma família humilde da cidade de Barro Alto, no interior de
Goiás. Já aos 10 anos ajudava os pais na roça. “Trocou” as bonecas e as
brincadeiras de criança pelos estudos e o trabalho. Até encontrar o
esporte, foi engraxate, vendedora de salgadinho e faxineira.- Eu sempre ajudei meus pais. Tinha orgulho de ajudá-los. Trabalhava na roça para tentar conseguir alguma coisa. Não tinha muitas oportunidades. Mas era até engraçado. No fundo, sentia que aquilo ali era muito pequeno para mim. Sabia que ia sair dali. Tinha certeza que ia ter uma vida melhor. E tomei coragem de correr atrás disso. Quando vi a chance, agarrei e sai de casa - contou, com os olhos brilhando.
Lais começou a se destacar na luta olímpica aos
15 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
A tal luz no fim do túnel foi vista em um projeto social ligado ao
esporte em sua cidade. A modalidade escolhida inicialmente foi o judô,
mas a luta olímpica acabou virando a solução mais prática e barata. Sem
saber direito onde estava pisando, Lais só tinha a certeza de que aquele
era um chão mais firme do que o que vinha caminhando. Dedicada e
determinada, logo se destacou. A ponto de Barro Alto ficar pequeno para
suas pretensões. Aos 15 anos, teve a chance de treinar no Sesi de
Brasília. Sem pensar duas vezes, e apenas com poucas peças de roupa em
uma mochila, foi ganhar o mundo.15 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
As dificuldades, porém, ainda insistiam em aparecer em seu caminho. Em Brasília, passou sufoco financeiramente no início. A situação se repetiu pouco tempo depois, quando teve a chance de treinar em São Paulo.
- Em São Paulo, não tinha nem lugar para dormir no início. Dormia na casa dos atletas. Eu só tinha as minhas roupas nos primeios seis meses.
Lais entre os amigos do projeto social em sua
cidade, Barro Alto (Foto: Arquivo Pessoal)
Com os resultados aparecendo, a vida de Lais melhorou. Os títulos de
tricampeã pan-americana júnior, vice-campeã brasileira e terceira
colocada pan-americana sênior lhe deram moral. E não só isso. Conquistou
sua estabilização financeira e ainda passou a ajudar a mãe empregada
doméstica e o pai, ex-cortador de cana e hoje atendente em um bar.cidade, Barro Alto (Foto: Arquivo Pessoal)
- Sempre tive muita cabeça, sempre estudei. Mas não sei o que seria da minha vida sem o esporte. Talvez ainda estivesse trabalhando lá em Barro Alto. Os meus amigos que começaram comigo ficaram pelo caminho. Alguns por causa de drogas, outras engravidaram, outros morreram ou desistiram mesmo.
A atleta mostra orgulhosa um de seus primeiros
troféus (Foto: Arquivo Pessoal)
O esporte levou a menina do interior de Goiás para conhecer boa parte
do Brasil e ainda diversos outros países. Na lista, estão: Chile,
Paraguai, Uruguai, Peru, Nicarágua, Cuba, Espanha, Romênia, Colômbia,
França, Guatemala, Estados Unidos... O último, e talvez o mais especial,
foi a Inglaterra. A lutadora foi uma das jovens promessas escolhidas
pelo Comitê Olímpico Brasileiro para participar do programa “Vivência
Olímpica”. Nos Jogos Olímpicos de Londres, no início do mês, ela e
outros 15 destaques da nova geração sentiram o gostinho do que está por
vir em 2016, no Rio.troféus (Foto: Arquivo Pessoal)
- Sinto que estou no caminho. Acho que estou cada vez mais perto de onde quero chegar. Só eu sei o que lutei para chegar até aqui. É muito gratificante, nem sei como explicar em palavras.
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