terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Algoz de Kyra e Gabi, Carol Vidal bate preconceito e mira título no Invicta

Campeã mundial de jiu-jítsu supera desconfiança com visual "menina", realiza sonho de lutar MMA e tem estreia profissional marcada no principal evento de MMA feminino

Por Rio de Janeiro
Ana Carolina Vidal MMA jiu-jítsu Invicta FC (Foto: Arquivo Pessoal)Ana Carolina Vidal assina o contrato com o Invicta FC: estreia em fevereiro (Foto: Arquivo Pessoal)
É um velho clichê: a mulher com rosto de menina e jeito delicado, mas que se transforma em leoa em combate e derruba as adversárias. Porém, o preconceito do "sexo frágil" persiste, e Ana Carolina Vidal apenas se aproveita dele. A lutadora carioca fez uma carreira brilhante no jiu-jítsu, derrotando pelo caminho oponentes que a julgaram pelo rosto bonito; entre suas vítimas, estão dois dos maiores ícones do jiu-jítsu mundial, Kyra Gracie e Gabi Garcia. Agora, faz o mesmo no MMA. No próximo dia 27 de fevereiro, a aluna de Letícia Ribeiro na Gracie Humaitá estreia profissionalmente, diretamente no Invicta FC, principal evento de MMA feminino dos EUA, contra a americana Aspen Ladd, também estreante.
Que Ladd não cometa o mesmo erro que tantas outras adversárias, incluindo a única oponente de Vidal no MMA amador, Jasmine Pouncy. Ignorando o condecorado currículo da brasileira no jiu-jítsu, a americana terminou finalizada com uma chave de braço em apenas 1m45s.
- A menina era mais nova que eu, mas bem mais experiente, tinha sete lutas e sete vitórias no amador, e, depois da luta, os técnicos dela vieram perguntar (sobre mim), ficaram surpresos de como acabou a luta. Eles vieram fazer várias perguntas para mim e para o meu pai, que estava lá comigo, sobre minha carreira no jiu-jítsu. Eles estavam com esse preconceito, achando que seria uma luta boa para a menina deles - contou Ana Carolina ao Combate.com através do telefone, direto de San Diego, onde treina na Gracie South Bay e na Alliance MMA.
Esse preconceito, Vidal diz, a perseguiu desde o início da carreira no jiu-jítsu, quando tinha 13 anos. Levada ao esporte pelo pai, a carioca rapidamente se apaixonou e se tornou um dos destaques de sua equipe. Hoje, coleciona seis títulos mundiais da IBJJF, principal federação de jiu-jítsu do mundo, e dois títulos mundiais sem quimono na faixa preta.
Ana Carolina Vidal MMA jiu-jítsu Invicta FC (Foto: Arquivo Pessoal)Vidal equipada: desconfiança nos primeiros treinos foi superada por dedicação e desenvolvimento (Foto: Arquivo Pessoal)
- Eu sentia que as minhas adversárias me olhavam rindo, menosprezando, com esse preconceito de achar que, pela minha cara, eu não seria uma boa luta, que seria fácil para elas me vencerem. Aí, na hora da luta, elas se surpreendiam com a minha vitória. Assim, foi indo, fui vencendo várias competições, e as meninas iam me respeitando, me conheciam. Agora, para o MMA, também senti isso um pouco quando chegava nas academias. O pessoal olhava para minha cara, pensava já, "Quem é essa menina aí? O que ela está fazendo numa academia de MMA?" (risos) Mas aí eu treinava duro, eles viam minha dedicação, meu desenvolvimento, e começavam a acreditar em mim.
A transição para o MMA profissional, logo para a principal organização do esporte no gênero, parece rápida, após apenas uma luta amadora. Todavia, Vidal não teve muita escolha: muitas adversárias desistiram de lutas marcadas com ela devido ao seu impecável currículo no jiu-jítsu. A carioca realmente ganhou fama com suas vitórias sobre Gabi Garcia e Kyra Gracie, multicampeãs mundiais e também no ADCC (prestigioso torneio de luta agarrada).
Ana Carolina Vidal MMA jiu-jítsu Invicta FC (Foto: Arquivo Pessoal)Ana Carolina foi bicampeã mundial de jiu-jítsu sem quimono (Foto: Arquivo Pessoal)
- Lutei com ela (Gabi Garcia) em 2007, quando eu era faixa-roxa, e a gente lutou na semifinal do absoluto. Essa luta foi muito emocionante para mim, o público (estava) todo torcendo por mim. Consegui derrubá-la e vencer essa luta mesmo com a diferença de peso e de tamanho. Com a Kyra Gracie, foi em 2009, no Pan-Americano, eu ainda era faixa-marrom. Consegui impor meu jogo de pressão, dominar a luta e sair vencedora. Acredito que toda essa minha experiência no jiu-jítsu vai fazer a diferença no ringue.
Fora isso, o sonho de lutar MMA, Vidal garante, já é antigo. Apoiada pela família e pelos treinadores, a carioca decidiu que era o momento certo para fazer a mudança.
- Desde nova eu pensava em fazer MMA, e agora, com o crescimento do esporte, eu comecei a me dedicar e a focar nisso. Estou muito feliz com essa oportunidade de lutar no Invicta, um evento profissional, e poder mostrar meu jiu-jítsu, que é um esporte que eu amo e que é o meu diferencial. Claro que rola um nervosismo por essa transição, mas eu já estou me sentindo muito à vontade e estou muito animada para esta luta - afirmou.
Ana Carolina vai enfrentar Aspen Ladd no peso-mosca (até 56,7kg). Esta categoria, no feminino, não está presente no UFC ainda - atualmente, o Ultimate tem disponíveis apenas o peso-galo (até 61,2kg) e o peso-palha (até 52,2kg) para mulheres. A brasileira não quer pensar em chegar à principal organização de MMA do mundo no momento, mas não nega que esse é seu ideal.

- Estou começando minha carreira de MMA agora, tenho que dar um passo de cada vez. Estou focada para minha primeira luta, ser campeã, e futuramente conseguir o cinturão do Invicta. Claro que todo lutador tem o sonho de lutar no UFC, e eu também tenho esse sonho. Com um passo de cada vez, vou me firmando como lutadora de MMA, e vou chegar lá - concluiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário