quinta-feira, 14 de maio de 2015

Com punições raras na elite, WSL tem tolerância para maconha e cocaína

Uso de drogas recreativas é passível de punição a partir do 3º flagra. Em 10 anos, Liga suspendeu só dois surfistas, por usarem substâncias para melhorar o rendimento

Por Rio de Janeiro
Kelly Slater entra na água na segunda bateria do Rio Pro, a quarta etapa do Mundial de Surfe (Foto: David Abramvezt)Kelly Slater não é muito fã dos testes antidoping no surfe profissional (Foto: David Abramvezt)
suspensão de 20 meses imposta a Raoni Monteiro pelo uso de uma substância proibida não divulgada traz à tona o debate sobre a política antidoping da Liga Mundial de Surfe (WSL). A entidade tem posturas distintas para casos como o do brasileiro - nos quais se busca melhoria de performance -  e para o uso das chamadas drogas recreativas, como maconha e cocaína. Nesta segunda hipótese, o atleta só pode ser punido a partir da terceira vez que é pego. Nas duas anteriores, ele é advertido e encaminhado para um programa de reabilitação. Por outro lado, com o uso de esteroides para incrementar o desempenho, basta o surfista ser flagrado uma única vez para que a Liga aplique uma punição severa. 
A questão envolvendo os exames antidoping no surfe é bastante polêmica. Até hoje, nenhum surfista jamais foi suspenso pelo uso de maconha ou cocaína. E apenas dois - Raoni e o também brasileiro Neco Padaratz - em 2005 -, foram suspensos por uso de substâncias para melhoria de rendimento.  A controversa questão mexe com os principais nomes do esporte, como o maior deles, o 11 vezes campeão mundial, Kelly Slater.
- Se a ideia de testar as pessoas é descobrir se elas estão trapaceando, acho que esse é o propósito, o objetivo. Não acho necessário invadir a vida pessoal de uma pessoa pelas suas escolhas individuais. Ninguém ali é seu pai ou sua mãe, não é a sua família para ficar te dizendo o que fazer e não fazer. As pessoas vão fazer o que elas quiserem e não há como impedir isso. O fato de a WSL fazer testes não me aborrece. Eu consigo me controlar numa boa - afirmou o americano, que está na terceira fase do Rio Pro.
De acordo com o diretor da WSL, Renato Hickel, são feitos diversos testes antidoping de surpresa com alguns surfistas selecionados durante as 11 etapas anuais do Circuito Mundial. A entidade segue os procedimentos da Agência Mundial Antidoping (Wada), o que a obriga a analisar as amostrar em laboratórios credenciados pelo órgão.
- Os atletas podem testar positivo para as drogas recreativas por até três vezes, podendo ser suspensos também. Mas desde o primeiro caso, ele já passa por tratamento. A política antidoping da WSL é baseada nos procedimentos da Agência Mundial Antidoping (Wada). A gente faz uma serie de testes ao longo do ano, há três anos. Os testes não são anunciados, eles acontecem de surpresa e os atletas são selecionados aleatoriamente. Geralmente, eu escolho os vencedores do round 3 ou os perdedores das quartas de final, dependendo do cronograma de cada campeonato. A gente testa de 10 a 14 atletas por prova em quase todas as etapas, daí o elemento  surpresa, o atleta não sabe que vai ser testado, por exemplo, aqui no Rio de Janeiro - comentou o brasileiro, que é o cartola mais influente do Tour. 
Raoni Monteiro encontra boa onda de Backdoor em Pipeline, mas não passa bateria no Havaí (Foto: Divulgação/ASP)Raoni Monteiro em ação em Pipeline, no Havaí, onde ele foi flagrado pelo uso de doping (Foto: Divulgação/ASP)
O brasileiro Alejo Muniz, que disputou todas as temporadas do Circuito Mundial entre 2011 a 2014 e agora é reserva, curiosamente só foi testado uma única vez.
- Eu já fui chamado uma vez. Acho que isso faz parte de todos os esportes, eles vão adquirindo essa forma de controlar os atletas com o antidoping. Faz parte da evolução dos esportes, e o surfe vai ter isso cada vez. É bom que eles não têm muito um padrão de quem pegar, eles escolhem um cara em um sorteio, independentemente se é o campeão ou o último colocado do ranking, é algo para todo mundo. Na maioria das etapas eles sempre pegam alguém, só não sei se são todas - comentou o catarinense, que foi eliminado nesta quinta-feira na repescagem do Rio Pro pelo australiano Taj Burrow.
A mudança da época que eu comecei para hoje é que eles simplesmente não realizavam nenhum tipo de teste antigamente. Acho que é importante ter um controle para todos os surfistas se comportarem. Quando eu comecei no Tour, era tudo muito mais louco, as pessoas gostavam muito mais de ir a festas, era uma coisa mais selvagem. Agora é tudo mais sério e profissional, com regras mais profissionais. Você é considerado um atleta profissional, enquanto no passado era mais só para ser divertir. Hoje todos se comportam muito bem e são profissionais" 
Taj Burrow
Considerado o mais radical surfista do mundo, o havaiano John John Florence afirma que já foi testado muitas vezes e comemora o fato de existir uma política antidoping no surfe.
- A política antidoping é algo maravilhoso, pois torna o esporte mais limpo. Acho que essa política é boa porque faz você estar sempre focado no jogo, no esporte. Eu já fui testado muitas vezes. Somos muito testados em todos os eventos, todo mundo - disse o havaiano que bateu o paulista Alex Ribeiro na repescagem e está na terceira fase do Rio Pro.
Em sua 18ª temporada na elite do surfe, consecutivamente desde 1998, Taj veio de uma época em que não havia nenhum tipo de controle em relação às drogas. Ao longo dos anos, o esporte foi se tornando mais profissional e, com isso, mais regularizado. O vice-campeão mundial de 1999 e 2007 lembra que eram tempos de festas e diversão, em contraste com o ambiente sério que requer um esporte de alto rendimento. 
- A mudança da época que eu comecei para hoje é que eles simplesmente não realizavam nenhum tipo de teste antigamente. Acho que é importante ter um controle para todos os surfistas se comportarem. Quando eu comecei no Tour, era tudo muito mais louco, as pessoas gostavam muito mais de ir a festas, era uma coisa mais selvagem. Agora é tudo mais sério e profissional, com regras mais profissionais. Você é considerado um atleta profissional, enquanto no passado era mais só para ser divertir. Hoje todos se comportam muito bem e são muito profissionais - disse o veterano de 36 anos, que fechou o ranking entre os nove melhores do mundo consecutivamente desde 2002. 
Em novembro de 2010, o tricampeão mundial Andy Irons, do Havaí, morreu precocemente de overdose. Pouco antes de sua morte, ele não compareceu a uma etapa do CT, em Porto Rico.
John John Florence treina nesta quarta-feira antes do Mundial de Surfe (Foto: André Durão)John John Florence treina nas ondas do Postinho, na Barra da Tijuca (Foto: André Durão)
RESULTADOS DA REPESCAGEM (2ª FASE)
1. Mick Fanning (AUS) 16,63 x 7,94 David do Carmo (BRA)
2. John John Florence (HAV) 14,84 x 10,83 Alex Ribeiro (BRA)
3. Taj Burrow (AUS) 10,74 x 10,20 Alejo Muniz (BRA)
4. Josh Kerr (AUS) 9,27 x 5,40 C.J. Hobgood (EUA)
5. Jordy Smith (AFS) 12,03 x 13,27 Ricardo Christie (NZL)
6. Nat Young (EUA) 11,77 x 7,84 Brett Simpson (EUA)
7. Julian Wilson (AUS) 8,00 x 9,23 Dusty Payne (HAV)
8. Joel Parkinson (AUS) 9,50 x 9,60 Keanu Asing (HAV)
9. Owen Wright (AUS) 14,77 x 5,90 Glenn Hall (IRL)
10. Miguel Pupo (BRA) 11,67 x 14,10 Adam Melling (AUS)
11. Kolohe Andino (EUA) 11,10 x 12,60 Kai Otton (AUS)
12. Adrian Buchan (AUS) 11,03 x 9,33 Freddy Patacchia Jr. (HAV)

CONFIRA AS BATERIAS DA 3ª FASE

1: John John Florence (HAV) x Adam Melling (AUS)
2: Filipe Toledo (BRA) x Wiggolly Dantas (BRA)
3: Kelly Slater (EUA) x Matt Banting (AUS)
4: Nat Young (EUA) x Ítalo Ferreira (BRA)
5: Sebastiean Zietz (HAV) x Jadson André (BRA)
6: Adriano de Souza (BRA) x Ricardo Christie (NZL)
7: Mick Fanning (AUS) x Dusty Payne (HAV)
8: Bede Durbidge (AUS) x Jeremy Flores (FRA)
9: Josh Kerr (AUS) x Kai Otton (AUS)
10: Taj Burrow (AUS) x Matt Wilkinson (AUS)
11: Owen Wright (AUS) x Adrian Buchan (AUS)
12: Gabriel Medina (BRA) x Keanu Asing (HAV)

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