segunda-feira, 1 de junho de 2015

Após 12 anos, Leandrinho tem primeira chance de realizar sonho

Aos 32 anos, armador do Golden State Warriors se vê jogando por mais cinco anos na NBA. Brasileiro, um dos mais experientes do time, serve de conselheiro para Curry

Por Rio de Janeiro
Leandro Mateus Barbosa está vivendo um sonho, como ele mesmo diz. Após 12 temporadas na NBA, ele alcançou sua primeira final da principal liga de basquete do mundo. No entanto, ainda não está "completamente satisfeito" e afirma que ainda há um passo maior para ser dado. Aos 32 anos, é uma espécie de conselheiro de Stephen Curry e Klay Thompson, duas das maiores estrelas em ascensão na Liga. Leandrinho e os "Splash Brothers" começam a disputa por seus primeiros anéis de campeão às 22h desta quinta, contra o Cleveland Cavaliers em Oakland.
Leandrinho Golden State Warriors x Houston Rockets, nba basquete (Foto: Reuters)Leandrinho Golden State Warriors x Houston Rockets, nba basquete (Foto: Reuters)
- Ser campeão da NBA é o sonho de todo jogador, todos os 400 jogadores da Liga sonham com isso. Eu coloco muito isso no vestiário, sempre antes dos jogos, que é um momento especial para todos nós. Tem jogador com 18 anos de carreira na NBA que nunca chegou numa final, nunca conquistou uma taça. E hoje, não só eu como meus companheiros de time, estamos nessa situação. Então, temos que ter muito carinho, tratar com muito carinho, para que aconteça o que a gente quer, que é ser campeão. Vai ser difícil? Vai ser difícil. Mas vamos trabalhar pra isso, pra que dê tudo certo e a gente conquiste nosso sonho.
Com seu contrato com Golden State se encerrando após as finais, Leandrinho ainda não sabe onde vai jogar na próxima temporada, e não quer pensar nisso até passar a disputa pelo título. Parar, no entanto, ainda não passa pela sua cabeça.
- O "head trainer" aqui do time já chegou e falou pro pessoal lá em cima que eu tenho mais cinco anos de carreira. Eu fiquei muito feliz de saber disso. Muita gente achou que eu não tinha mais nenhum ano na NBA. E ele chegou e falou isso e eu fiquei muito feliz e satisfeito.
Em conversa após o título da Conferência Oeste, Leandrinho falou também do atual momento dos Warriors, o trabalho do técnico Steve Kerr, sua relação com Steve Nash, a quem classifica como um de seus melhores amigos, e a saudade das filhas. Confira abaixo a entrevista completa.
Como foi a comemoração do título da Conferência?
- Pra ser sincero, a comemoração mesmo grande foi ali na quadra, depois no vestiário. Nós jogadores mesmo. Depois de última hora que resolvemos só os jogadores nos reunirmos em um lugar. Mas nada demais. Nós sabemos que demos um passo bem grande, mas o maior ainda está para acontecer. Estamos muito felizes, muito satisfeitos com tudo que aconteceu, mas não completamente satisfeitos. Então a gente vai ter que correr bastante, trabalhar bastante, para poder ter o que a gente quer, que é o título da NBA. Aí sim vamos fazer uma comemoração grande, gigante, do jeito que tiver que ser.
Golden State Warriors x Houston Rockets jogo 5 final conferência oeste (Foto: Reuters)Time do Golden State Warriors comemora o título da Conferência Oeste(Foto: Reuters)
Como que está sua expectativa para a final? O que você sentiu quando garantiu a vaga?
- É um sentimento inexplicável. Eu estou há 12 anos na Liga e só consegui ir para a final agora. São muitos jogos, muitas viagens, muitos hotéis, muito stress. Muita coisa acontece aqui que você não imagina, nem tem noção do que é. Mas graças a Deus aconteceu, chegamos. Primeiro passo do objetivo completo. Agora a expectativa é muito grande, estou bem ansioso. Acho que quando a gente entra em quadra tem que deixar tudo isso fora, senão acaba atrapalhando. Fizemos uma grande série, nós queremos ser campeões, assim como Cleveland tem esse objetivo também. Não tem nada melhor do que ser campeão.
E sua família? Falou com suas filhas? Alguém vai para os EUA acompanhar os últimos jogos?
- Eu falo com as minhas filhas direto, todos os jogos eu falo com elas. Elas ainda não têm muita noção de como é, a proporção, mas falo com elas direto. Todo mundo tá na torcida, recebi muitas ligações e mensagens. Estou muito feliz. Acho que não só feliz por ter chegado onde cheguei, mas também porque muita gente desacreditou de mim quando aconteceu minha lesão, mas graças a Deus consegui chegar onde cheguei hoje. Então é dar continuidade para esse trabalho.
Steve Kerr, NBA (Foto: Getty Images)Multicampeão como jogador, Steve Kerr chega à sua primeira final como técnico (Foto: Getty Images)
Você era o único jogador do elenco que já tinha disputado uma final de Conferência. Agora, só o Kerr (Steve Kerr, técnico dos Warriors) jogou final. Do outro lado, Cleveland tem alguns jogadores mais experientes, como o LeBron, James Jones e Mike Miller, que já jogaram finais. Isso pode fazer diferença, ou nesse momento não tem tanta importância?
- Acho que não. Se tivesse que fazer diferença em algum momento já teria acontecido. São meninos bons (o time de Golden State), talentosos e que têm muita experiência de jogo em quadra. Então acho que isso não vai ser nenhum obstáculo na nossa carruagem. Não acredito que atrapalhe. Eles estão lidando muito bem com a situação, principalmente o Curry e o Klay Thompson, então acho que eles vão tirar de letra. E se tiver algum problema, eu como o mais velho tenho conversado com eles. Não só eu como o Iguodala, que somos os mais velhos, temos sempre conversado com os dois. E com o time também, mostrando um pouco da experiência que a gente tem na liga. 
Antes dos playoffs muita gente questionava até onde esse time podia chegar, pois ainda não tinha sido testado pra valer em playoff. Você acha que agora ninguém mais pode questionar o valor e potencial desse time?
- Acho que playoff é outra cabeça, o modo de jogo é totalmente diferente. A galera aqui é bem experiente, até mesmo os novatos, eles já provaram isso pra todo mundo. A gente está preparado, vamos ter mais uma preparação com os técnicos para estarmos bem preparados para jogar contra Cleveland, e vamos que vamos.
Como você avalia a sua temporada?
- Acho que é melhor você me avaliar (risos). Nunca me contento com pouco. Estou tentando fazer meu trabalho, e acho que estou indo muito bem.
Leandrinho e Stephen Curry, Golden State Warriors (Foto: AP)Leandrinho e Stephen Curry são grande amigos fora de quadra (Foto: AP)
O Curry foi o melhor com quem você jogou? Dá pra comparar ele com o Nash?
- São dois jogadores totalmente diferentes. O Nash tem uma característica completamente diferente que o Curry. Lógico que os dois são ótimos jogadores. São jogadores com características diferentes, mas que chegam no mesmo ponto onde tem que chegar. O Nash é um cara que dá muita assistência, procura botar os jogadores na cara da cesta, é um cara que faz jogadas brilhantes em termos de passes. E o Curry é um cara novo, talentoso, que tem um controle de bola muito forte, muito grande, e é um cara que pontua muito fácil, tem um chute de três que é uma arma. É muito afiado esse chute dele. Ele vai do jeito que tem que ser. Essa característica do Nash, mais pra frente, na medida que ele (Curry) vai ficando mais velho, tendo mais experiência na Liga, ele vai absorver isso automaticamente. É uma coisa que eu venho falando com ele bastante. Muitas vezes acontece nos jogos que a gente tem aquele primeiro momento, que é um momento de contra-ataque, e às vezes a gente não tem o segundo momento. Esse é o momento que ele tem que botar a bola debaixo do braço e botar os caras pra jogar. Mas isso é com calma. Por enquanto ele ainda não tem isso, e se tem é pouco. Mas o pouco que ele tem é o suficiente pra deixar ele onde está.
Arriscaria dizer que um deles é melhor?
- Eu acho que os dois jogadores são de valor alto. Os dois são bons, com características diferenciadas. Tenho certeza que o Nash, para ser o que ele foi, que ele é hoje, passou por isso também. Isso é normal de qualquer atleta, de qualquer esporte
Como é sua relação com eles? Quando você chegou em Phoenix você era muito novo e o Nash era um cara mais experiente. Hoje, você é o cara experiente do time e o Curry é a estrela em ascensão na Liga. Você ainda mantêm contato com o Nash?
- Sim, sim. Acabou o jogo (jogo 5 contra o Houston Rockets), ele me passou uma mensagem. Disse que estava muito feliz, que me amava. Falou que ia tentar vir pro jogo. Eu falei "você tem que vir, porque vai fazer muito bem pra mim". Ele falou "então eu vou, no primeiro jogo vou estar aí". E o Curry a gente virou amigo também. O Nash é um dos meus melhores amigos, eu tive muitos anos de carreira com ele. Não só dentro de quadra como fora de quadra a gente tem uma relação muito forte. O Curry é a mesma coisa. A gente é amigão, a gente conversa pra caramba. Estou tentando passar um pouquinho de futebol pra ele. Mas devagarzinho ele chega lá. Não é a toa que ele foi comparado com o Messi.
Leandrinho e Steve Nash (Foto: Reprodução/Instagram)Amizade de Leandrinho com Steve Nash permanece até hoje  (Foto: Reprodução/Instagram)

O Steve Kerr era especialista em três pontos também, e Golden State tem muitos jogadores bons de três. Às vezes o time acaba forçando muito a jogada. Isso é influência do Kerr? Ele pede isso? Algumas vezes ele pede pra segurar, ou deixa o jogo fluir naturalmente, sem tentar interferir muito?
- Ele deixa fluir naturalmente. Ele já foi jogador, sabe como é, e o que acontece dentro de quadra. O técnico não pode impedir a característica do jogador. A característica, tanto do Curry como do Klay Thompson, é o arremesso de três. Então, independente de estar acertando ou errando, a gente não estaria aqui se não fossem as bolas de três deles. O Draymond Green também tem a característica de arremesso, todos nós temos a possibilidade de arremessar. Até o próprio Bogut, que não arremessa dos três, no treino arremessa. Então, a característica do time é a bola de três. É lógico que um dia cai, outro dia não cai, e, quando não cai, a gente tem que saber o que fazer nesses momentos. Tem que ter a infiltração, que a gente não tem muito. Então aí ele (Kerr) exige mais do Iguodala, exige mais de mim, do Curry, que vai bastante pra cesta fazer bandeja. Às vezes do Klay Thompson. Então ele deixa o jogo fluir. O que interessa, e que ele cobra muito, é a defesa. A defesa é número 1. Se a gente não fizer a defesa boa pra ter a bola na mão, a gente não tem como ter essa característica. 
Stephen Curry  lesão Houston Rockets Golden State Warriors (Foto: AFP)Stephen Curry sofre queda violenta contra o Houston Rockets (Foto: AFP)
Esses dois últimos jogos vocês tiveram dois sustos grandes, com o Curry e o Klay Thompson. Alguma hora tiveram medo de ser alguma coisa mais séria, que pudesse tirar eles dos próximos jogos?
- Com o Curry eu não tive muito medo não. O único medo que eu tive foi, na hora que ele caiu, achei que fosse quebrar o braço, não foi nem o pescoço. No Mundial eu cai de pescoço de uma altura muito grande, eu fiquei tonto na hora, mas eu já levantei e continuei jogando. Fiquei com essa dor um grande período, mas foi um tombo bem pior que o dele. Então aquilo ali me deixou tranquilo, o que me preocupou foi o braço dele. E o Klay Thompson foi o que mais assustou. Ele tomou uma pancada que acho que nem lutador de UFC pode bater ali. Principalmente como foi. Foi com muita força, tanto é que começou a sangrar o ouvido dele. Então foi complicado. Com o Klay Thompson eu fiquei preocupado. Mas ele já está bem, e se não tiver bem a gente vai ter tempo de recuperar, temos uns dias para descansar. Tenho certeza que ele vai ter um repouso para que esteja bem pras finais, e o Curry também. 
Coincidentemente as duas jogadas foram com o Ariza. Você acha que teve alguma maldade em alguns dos lances, foi imprudente?
- Não acho que teve maldade da parte do Ariza não. Principalmente como foi, ele realmente subiu pra dar o toco (no lance com Klay Thompson). Foi coisa do jogo e infelizmente aconteceu numa hora que não era pra acontecer. 
Golden State está chegando mais inteiro, sem problemas sérios de lesão. Cleveland não tem Kevin Love e Varejão, e está com o Kyrie Irving baleado. Isso pode fazer diferença?
- Eu acho que qualquer detalhe faz diferença numa final. Eu não sei como o Kyrie está de saúde, mas é um cara que ajuda muito o time. É um cara de números muito altos, de pontuação muito alta. Então pode ser uma coisa negativa pro time de Cleveland. Mas hoje eu não estou preocupado com Cleveland. Hoje eu estou preocupado com a minha equipe, saber se está todo mundo bem, todo mundo tranquilo, bem de cabeça, pra gente ter uma boa preparação para enfrentar o Cleveland. Essa é a minha preocupação.
Cleveland Cavaliers campeão Conferência Leste LeBron (Foto: David Richard / Reuters)Cleveland Cavaliers campeão Conferência Leste (Foto: David Richard / Reuters)
Arriscaria um palpite pras finais?
- Não, eu não tenho que arriscar nada, é melhor você arriscar (risos). Estou jogando meu basquete aqui com meu time.
Essa é a segunda temporada seguida com brasileiro na final, e a terceira vez no total. Como você vê o momento dos brasileiros na NBA?
- Acho que é um momento muito bom, a nossa Liga vem sendo vista com outros olhos. A NBA agora faz parte do nosso basquete brasileiro, e isso está sendo bom pra caramba. A gente vê que tem outros brasileiros aí no draft. É um ponto positivo pro basquete brasileiro, para que mais talentos possam estar aqui, principalmente numa final. Esse era um sonho que eu tive, e graças a Deus eu conquistei o melhor sexto homem do ano em 2006-2007, isso foi uma coisa muito boa que aconteceu na minha vida e na minha carreira. E ser campeão da NBA é o sonho de todo jogador, todos os 400 jogadores da Liga sonham com isso. Eu coloco muito isso no vestiário, sempre antes dos jogos, que é um momento especial para todos nós. Tem jogador com 18 anos de carreira na NBA que nunca chegou numa final, nunca conquistou uma taça. E hoje, não só eu como meus companheiros de time, estamos nessa situação. Então, temos que ter muito carinho, tratar com muito carinho, para que aconteça o que a gente quer, que é ser campeão. Vai ser difícil? Vai ser difícil. Mas vamos trabalhar pra isso, pra que dê tudo certo e a gente conquiste nosso sonho.
Tiago Splitter San Antonio Spurs  (Foto: Getty Images)Tiago Splitter, do San Antonio Spurs, foi o primeiro brasileiro campeão da NBA (Foto: Getty Images)
O Bebê e o Caboclo praticamente não jogaram ainda (no Toronto Raptors). Você tem contato com eles, dá algum conselho pra eles?
- Com o Caboclo, eu joguei com ele no Pinheiros, eu conversava muito, batia papo, brincava bastante. Mas desde que chegou aqui na NBA eu não consegui falar com ele. A maioria das vezes que eu fui com o time jogar contra o time dele, ele estava na D-League. Eu falei mais com o Bebê, conversei mais, troquei uma ideia com ele. Mas eles ainda vão ter que passar por um percurso muito grande, como todos nós passamos. Acho que o único que não passou foi o Nenê, que já chegou na NBA jogando, já foi All-Star e tudo mais. Então eles vão passar por um período aí para entender o jogo, saber das regras, amadurecer. Não é fácil. É um basquete totalmente diferente, jogado de outra forma. Muita coisa vai acontecer para eles, tudo depende deles. Não é fácil não. É difícil entrar. Depois que entrou, fica mais difícil ainda. Não pode acomodar.
Seu contrato com Golden State termina agora, depois da temporada. Como estão seus planos? Vai ficar, já tem conversa sobre isso?
- Não sei, esse assunto é com meu agente. Minha preocupação é totalmente outra. Não tenho mais nada pra pensar a não ser o título. Agora que eu cheguei a minha preocupação é essa. Depois que acabar, aí eu vou pensar em renovar, o que vai acontecer.
Quantas temporadas você acha que ainda tem na NBA? Já parou para pensar nisso?
- Eu não precisei parar para pensar não. O próprio "head trainer" aqui do time já chegou e falou pro pessoal lá em cima que eu tenho mais cinco anos de carreira. Eu fiquei muito feliz de saber disso. Muita gente achou que eu não tinha mais nenhum ano na NBA. E ele chegou e falou isso, e eu fiquei muito feliz e satisfeito.

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