segunda-feira, 1 de junho de 2015

José Aldo detona acordo de patrocínio entre UFC e Reebok: "É uma m***"

Campeão dos pesos-penas diz que atletas estão tendo prejuízo, afirma que é preciso um sindicato de lutadores e se mostra disposto a liderar movimento pela categoria

Por Rio de Janeiro
Apesar de o acordo entre UFC e Reebok ter sido criticado maciçamente pelos lutadores da companhia após a divulgação da tabela de repasses de patrocínio por luta, os campeões da organização vinham se mantendo quietos a respeito do assunto. Neste sábado, contudo, o dono do cinturão dos pesos-penas, José Aldo, "soltou o verbo" contra o acordo, que entra em vigor justamente em sua luta contra o irlandês Conor McGregor, no UFC 189, em 11 de julho - coincidentemente ou não, McGregor é um dos atletas patrocinados pela marca de tênis e acessórios esportivos. O contrato, firmado em dezembro de 2014, impõe que todos os lutadores usem roupas exclusivamente da Reebok na semana da luta, e não poderão estampar as marcas de seus patrocinadores pessoais dentro do octógono, seja no uniforme da luta ou em banners personalizados, que estão banidos.
José Aldo Arnold Classic MMA UFC (Foto: Adriano Albuquerque)José Aldo no estande de seu patrocinador: lutador não gostou dos termos do acordo entre UFC e Reebok (Foto: Adriano Albuquerque)
Aldo, que esteve no sábado na feira Arnold Classic Brasil, no estande de uma marca de suplementos alimentares que o patrocina, reclamou bastante dos termos do contrato e afirmou que vários lutadores, incluindo ele, saem prejudicados pelo acordo. O campeão também rebateu um dos argumentos dos donos do UFC, de que em ligas esportivas grandes nos EUA, como a NBA e a NFL, os jogadores também não estampam as marcas de seus patrocinadores pessoais nos uniformes.
- Primeiramente, é uma m***. Todos falaram sobre isso. Nós, atletas, perdemos bastante. Como eles mesmo falaram, que é como se fosse um atleta de basquete, ou da NFL, não tem nada a ver, a gente não recebe um salário mensalmente como os atletas da NBA e da NFL recebem. Não importa o quanto a gente vai ganhar ou não, todos os atletas que tinham patrocínio perderam ou vão perder, pois eles não vão poder entrar na luta. Isso é um prejuízo para a gente. Atleta vive de cada luta, a gente tem que ficar lutando, nenhum atleta faz mais de três lutas. O campeão não consegue lutar mais de três vezes por ano. Mesmo o valor que eles estipularam não era o valor que nós ganhávamos pelos nossos patrocínios, que estavam nos apoiando. Acho que isso é bom para eles, para o UFC é bom, mas para os atletas, não. Vejo que os atletas perdem bastante. Para o lutador iniciante, sim, acho que ele não precisa correr tanto, mas também não é um dinheiro muito grande, que vai dar um suporte financeiro bom para eles. Não vejo com bons olhos. Desde que falaram pela primeira vez, quis ver as propostas, e quando vi, não achei interessante, principalmente para nós campeões - exclamou o lutador manauara a um grupo de repórteres.
A tabela de compensação divulgada pelo UFC em abril divide os lutadores por "tempo de casa" nas ligas de MMA organizadas pela Zuffa, empresa dona dos direitos do Ultimate e dos finados WEC e Strikeforce, e distribui entre US$ 2,5 mil (R$ 7,9 mil) para iniciantes e US$ 40 mil (R$ 127 mil) para campeões. Agentes e lutadores já detalharam perdas que vão até centenas de milhares de dólares por conta do acordo, que, segundo foi noticiado pela imprensa americana, vale US$ 70 milhões (R$ 222,4 milhões), pagos pela Reebok ao UFC ao longo de seis anos. Para José Aldo, porém, de pouco adianta simplesmente reclamar; é necessário que os lutadores se unam para combater esse acordo.
- Se formos falar alguma coisa, isso não depende só de mim sendo campeão, ou do (Cain) Velásquez, ou de qualquer campeão. Se a gente tivesse um sindicato de atletas, e todo atleta fosse unido, assim como é na NBA, isso seria de outra maneira. Mas, com os atletas desunidos como é... Hoje, eu tenho um preço, e o evento pode pagar para mim, mas tem outros atletas que, se eu não quiser lutar, vão aceitar lutar a preço de banana. Então, isso é a desunião dos atletas, não é culpa deles. Eles que levaram o esporte aonde está, beleza, eles têm seus méritos. Mas, se os atletas fossem mais unidos e tivessem um sindicato que os protegesse, acho que isso não aconteceria - argumentou.
José Aldo já reclamou de receber pouco do UFC anteriormente, mas frequentemente voltou atrás nas suas declarações, ou simplesmente as negou quando confrontado por Dana White, presidente da organização. Desta vez, o campeão dos pesos-penas terminou o trecho da entrevista sobre o acordo afirmando que estava recebendo bem e que não tinha do que reclamar, mas afirmou que observa que o sistema não está bom para seus companheiros de profissão e academia, e disse aceitar um papel de "líder" de um movimento por uma sindicalização dos lutadores.
- Sim (tenho essa responsabilidade). Quando eu falo, não falo por mim. Se eu for falar que pode ser bom para o Aldo, pode sim, eu estou ganhando um bom dinheiro, posso falar isso. Mas quando vejo os outros atletas, como vejo na minha academia, tem muitos atletas que precisam que a gente, o campeão, ou o Dedé (Pederneiras, treinador e líder da Nova União), comece a ajudar, é ruim o que eles estão fazendo. Fica muito ruim para os atletas que estão começando, ou para os que estão no meio, e aqueles que estão tentando chegar lá em cima. É uma coisa, não maldosa, mas difícil com os atletas. Não falo comigo. O Aldo está tranquilo, o Aldo é o campeão, a gente tem um preço lá em cima. O Aldo não se tornou campeão agora, já é campeão há muitos anos, mas para os atletas que são iniciantes, para eles está muito ruim - concluiu José Aldo, que esteve acompanhado de José Loreto, ator que o interpretará no filme sobre sua vida.

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