sábado, 21 de março de 2015

Em data especial, lutadores afirmam que preconceito é problema no Brasil

No Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, atletas que vão entrar em ação neste sábado, no UFC: Maia x LaFlare, no Rio de Janeiro, comentam sobre o racismo

Por Rio de Janeiro
Palco histórico das artes marciais, o Maracanãzinho vai receber mais uma edição do Ultimate neste sábado, 21 de março, quando acontecerá o UFC: Maia x LaFlare. A data é o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, e o Combate.com conversou com alguns lutadores para falar sobre um problema que ainda está enraizado na população. Os atletas foram unânimes ao apontar o Brasil como um país preconceituoso e alguns deram até exemplos de já terem sido vítimas de situações deste tipo.
Primeiro brasileiro a pisar no octógono neste sábado, Jorge Blade falou com a reportagem na última quarta-feira e garantiu ter sofrido com o preconceito algumas horas antes de conceder a entrevista. Ele quer aproveitar a data para deixar uma mensagem em caso de vitória sobre Christos Giagos.
- Infelizmente o preconceito existe. É disfarçado, mascarado, mas existe. Os negros principalmente sabem disso. As pessoas precisam ter consciência de que todos são iguais. Passei uma situação de preconceito hoje (quarta-feira) mesmo. O mestre e eu saíamos do almoço e tentamos pegar um táxi, mas ninguém parou. Viemos do hotel de ônibus porque se esperássemos o táxi não chegaríamos. É muito importante lutar nessa data porque vou ter a voz para poder deixá-la mais forte ainda para mandar a mensagem, provando que no esporte não existe preconceito. Uma das coisas que me sinto bem aqui no Brasil é que no esporte, entre os próprios praticantes, nunca vi preconceito - afirmou.
Marcio Cromado e Jorge Blade (Foto: Raphael Marinho)Márcio Cromado e Jorge Blade comentaram casos de racismo que já viveram (Foto: Raphael Marinho)
Treinador de Blade, Márcio Cromado, que é líder da Renovação Fight Team (RFT), seguiu o discurso do pupilo e citou outro exemplo que costuma ver em seu cotidiano.
- Quantas pessoas sentam do nosso lado no ônibus? Nenhuma. Até descem. Hoje vi uma pessoa reclamando no Facebook que ninguém sentava do lado de um gay no ônibus. Pensei: ok, ninguém sentou. Problema é quando estamos sentados e a pessoa sai do ônibus por nós sermos negros. Vivemos num país que tem 85% de negros e mestiços e sofremos muito ainda aqui. É muito válido ser colocado isso no esporte, já que todos estarão vendo o UFC. Qualquer preconceito, seja ele qual for, é horrível, ainda mais quando vem a ser racial - disse.
É muito mascarado o preconceito por aqui. Que tem, tem. Mas o esporte é muito legal, a luta em si, porque lá dentro não tem branco, azul ou preto. Pode ser o cara mais racista do mundo que lá dentro a gente é igual. Isso cai por terra"
Leandro Buscapé
 Protagonista do evento, Demian Maia foi mais um a considerar o Brasil como um país preconceituoso, mas ressaltou que este problema, em sua opinião, é ainda pior nos Estados Unidos, pois é algo mais explícito por parte das pessoas.
- Eu acho que o preconceito ainda é um problema aqui, mas menos do que nos EUA. Aqui existe o racismo, mas as pessoas têm vergonha de falar que são racistas, escondem. Lá é uma coisa explícita. Aqui é velado, o que acho melhor, porque assim mostra que as pessoas têm vergonha porque sabem que estão erradas. Muita gente fala que o contrário é pior, mas acho que não tem nada a ver. No (preconceito) velado a pessoa parte do pressuposto que está errada. A discriminação racial é uma das coisas mais sem sentido, nojentas, que vejo acontecer. È algo que não sei como estamos no século XXI e vemos isso tão forte. Não consigo nem rir quando me fazem piada racistas, pois acha: "Ele é branco, vai achar engraçado". Eu não consigo nem rir, não tem graça nenhuma. Tem uma história pesada em todos os países do mundo, inclusive no Brasil, que foi um país escravagista. Não é motivo de graça esse tipo de coisa - declarou.
Demian Maia UFC Rio (Foto: Raphael Marinho)Demian Maia acredita que preconceito nos Estados Unidos é ainda maior do que no Brasil (Foto: Raphael Marinho)
Para Leandro Buscapé, o problema do preconceito no Brasil não é apenas contra os negros e é algo intrínseco nas pessoas. O peso-leve disse sofrer com o racismo desde a infância, revelou que já passou por uma situação do tipo até mesmo no meio da luta, mas utiliza isso como motivação para superar as adversidades da vida.
- Infelizmente o Brasil ainda é preconceituoso, mas não só na parte racial. Também em classe social, contra nordestinos e outras coisas. Não sabia da data, mas sabendo fico feliz porque é uma forma da gente estar de uma maneira boa extravasando isso aí e, de repente, até soltar um comentário no final da luta, conseguindo a vitória. Já passei por tantas situações de preconceito, desde bullying na escola, até em supermercado, com segurança nos perseguindo mesmo com a gente tendo dinheiro. A gente percebe o preconceito no olhar. É um preconceito hipócrita. As pessoas falam que não, mas rola sim. Não vou generalizar, mas ainda existe esse mal. Nós negros superamos e isso serve, pelo menos pra mim, como motivação para mostrar que não somos o que a pessoa acha que a gente seria e que podemos ser alguém na vida - explicou, acrescentando que dentro do octógono não existe cor da pele.
Leandro Buscapé, UFC (Foto: Raphael Marinho)Leandro Buscapé vê "preconceito mascarado" no Brasil (Foto: Raphael Marinho)
- É muito mascarado o preconceito por aqui. Que tem, tem. Mas o esporte é muito legal, a luta em si, porque lá dentro não tem branco, azul ou preto. Pode ser o cara mais racista do mundo que lá dentro a gente é igual. Isso cai por terra. Até já passei por situações no esporte, mas nem é legal falar disso. Foi algo que me senti mal, mas não convém falar sobre. Acho que o cara agiu de uma forma ruim, não precisava daquilo, mas já passou. Agora são outros mares que estamos navegando e são mares bons - concluiu.
Combate transmite o "UFC: Maia x LaFlare" ao vivo e com exclusividade a partir de 19h45 (horário de Brasília) neste sábado. O Combate.com acompanha em Tempo Real no mesmo horário, e transmite ao vivo a primeira luta do card, entre Fredy Serrano e Bentley Siler. Confira os pesos registrados pelos lutadores na pesagem:
UFC Fight Night Rio
21 de março, no Rio de Janeiro (RJ)
CARD PRINCIPAL
Peso-meio-médio: Demian Maia x Ryan LaFlare
Peso-meio-médio: Erick Silva x Josh Koscheck
Peso-leve: Gilbert Durinho x Alex Cowboy
Peso-leve: Léo Santos x Tony Martin
Peso-galo: Amanda Nunes x Shayna Baszler
Peso-pena: Godofredo Pepey x Andre Fili
CARD PRELIMINAR
Peso-leve: Francisco Massaranduba x Akbarh Arreola
Peso-pena: Kevin Souza x Katsumi Kikuno
Peso-leve: Leandro Buscapé x Drew Dober
Peso-leve: Leonardo Macarrão x Cain Carrizosa
Peso-leve: Jorge Blade x Christos Giagos
Peso-mosca: Fredy Serrano x Bentley Syler

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