sexta-feira, 24 de julho de 2015

Inspetora é firme na acusação, e CBDA cautelosa: "Polícia foi precipitada"

Após caso envolvendo goleiro do polo aquático brasileiro, Joanna Beaven diz que não sabe como o Brasil trata o assunto, e superintendente do país discorda da ação local

Por Toronto e Kazan
Em conversa com a comissão técnica da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos(CBDA), o goleiro reserva da seleção brasileira de polo aquático Thyê Bezerra Mattos garantiu ser inocente da acusação de abuso sexual que enfrenta no Canadá. Ele confirmou ter se encontrado com a vítima, mas frisou que foi consensual. Para a inspetora da delegacia de crimes sexuais de Toronto Joanna Breaven-Desjardins, porém, não resta dúvida: seria um caso de abuso sexual. Ela garantiu ter 100% de confiança nas investigações da polícia local e, durante a coletiva para esclarecer o caso, chegou a adotar um tom irônico quando foi abordada sobre como seria o procedimento da polícia no Brasil. A CBDA não aprovou a postura da investigação canadense e prometeu lidar com a situação com cautela. 

– Não sei como isso é tratado no Brasil, mas aqui no Canadá, é crime. E muito sério. Punido com prisão e rigor - disse a inspetora da polícia canadense, que completou - pode ter havido outras vítimas. 
Pan de Toronto coletiva abuso sexual Thye Mattos inspetora Joanna Beaven-Desjardins (Foto: Thierry Gozzer )Inspetora Joanna Beaven-Desjardins acusa jogador de polo brasileiro de abuso sexual (Foto: Thierry Gozzer )


A coletiva de imprensa começou pontualmente às 14h (de Brasília). Minutos antes, porém, a foto de Thyê ganhou o telão ao lado do púlpito, dando pistas do que até então era tratado apenas como um caso de assédio sexual envolvendo um membro do polo aquático do time brasileiro. Evasiva, Joanna não esclareceu detalhes sobre as investigações. Não quis explicar como a vítima de 22 anos e moradora de Toronto reconheceu Thyê e como a polícia poderia ter 100% de certeza a ponto de emitir um mandado de prisão e tratá-lo como procurado.
Ricardo de Moura, Superintendente técnico da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (Foto: Reprodução SporTV)Ricardo de Moura, superintendente técnico da CBDA, vê precipitação (Foto: Reprodução SporTV)
Do outro lado do mundo, em Kazan, na Rússia, a seleção brasileira de polo aquático, com Thyê no grupo, treina para a disputa do Mundial de Esportes Aquáticos. Superintendente técnico da CBDA, Ricardo de Moura tratou como precipitados os passos da polícia canadense. Ele diz que a entidade não emitirá nenhuma nota sobre o assunto e aguardará toda a apuração e definição da situação. Ele ficou sabendo da acusação antes do anúncio da polícia do Canadá e disse que advogados do Comitê Olímpico do Brasil já tratam do assunto.

- A Confederação foi informada pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Foi uma acusação e está no processo investigativo. A Confederação não vai dar nota nenhuma sobre esse caso até tudo estar concluído. Inclusive é uma observação do nosso departamento jurídico. Nós vamos fazer uma reunião e vamos avaliar qual é a melhor situação. O momento agora ainda é muito recente. Não dá para dizer que vai fazer isso ou aquilo. Nada precipitado como fez o Canadá, no meu ponto de vista. As coisas aqui vão ocorrer de forma tranquila, serena, sem problemas.
ENTENDA O CASO
Thyê Bezerra de Mattos foi acusado de abuso sexual em anúncio feito na manhã desta sexta-feira pela polícia do Canadá. O crime teria ocorrido na madrugada do dia 16 de julho, horas depois de a seleção brasileira perder para os EUA e ficar com a medalha de prata na modalidade. A vítima seria uma jovem de 22 anos, moradora do centro de Toronto e sem ligação com os Jogos Pan-Americanos. De acordo com a inspetora Joanna Breaven-Desjardins, Thyê estava na casa da jovem ao lado de outro membro do time brasileiro que não responde a qualquer acusação. A jovem teria sido abusada enquanto dormia e depois eles teriam deixado a residência.
Thye Mattos Polo Aquatico Pan acusação sexual polícia Toronto (Foto: reprodução)Thyê Mattos em divulgação da polícia canadense como procurado (Foto: reprodução)
A identidade da vítima foi preservada, e a ordem de prisão contra o brasileiro já foi emitida. Um cartaz divulgado pela polícia local exibe a seguinte informação: "A polícia acredita que podem ter outras vítimas". De acordo com o coordenador da seleção brasileira de polo aquático, Ricardo Cabral, o goleiro admitiu ter se relacionado com a suposta vítima durante o Pan de Toronto. No entanto, afirmou ser inocente e que o contato teria sido consensual.

Thyê não estaria usando o uniforme do Time Brasil no momento do crime. A vítima, no entanto, teria reconhecido o goleiro e feito a queixa. Segundo a inspetora, a polícia tem 100% de certeza sobre o envolvimento do atleta.

– Evidências nos levaram a essa acusação e a saber que ele era membro da equipe de polo aquático do Brasil – afirmou.

Joanna Beaven-Desjardins informou que já foram feitos contatos com as autoridades brasileiras e disse contar com o apoio delas para a extradição do jogador. A constituição brasileira, porém, não permite a extradição de brasileiros, exceto, em caso de tráfico de drogas.

Ao saber que ele está em Kazan, na Rússia, para a disputa do Mundial de esportes aquáticos, a inspetora da polícia canadense afirmou que vai se informar para avaliar uma possível prisão no local. Thyê corre o risco ainda de ser detido caso, no retorno ao Brasil, passe por algum país que tenha acordo de extradição com o Canadá, como Itália, França, Alemanha, Argentina e Chile.
Thye Mattos goleiro polo (Foto: Satiro Sodré/SSPress)Thye em ação durante o torneio de polo aquático do Pan de Toronto 2015 (Foto: Satiro Sodré/SSPress)


Caso se apresente ou seja extraditado ao Canadá, o atleta será levado a julgamento com júri, com pena máxima de 15 anos. Ao falar sobre a punição, a inspetora chegou a ironizar o tratamento dado pelo Brasil a casos de abuso sexual.

– Não sei como isso é tratado no Brasil, mas aqui no Canadá, é crime e muito sério. Punido com prisão e rigor - disse a inspetora da polícia canadense, que completou - pode ter havido outras vítimas. Por isso, as imagens dele estão sendo divulgadas. Caso alguém saiba de algo mais, entre em contato.

Logo após o Pan, Thyê seguiu com a delegação brasileira para a Europa, onde o time inicia na próxima segunda-feira a disputa do Mundial. Nesta sexta, o goleiro treinou normalmente com a equipe, na Rússia. 

A Embaixada do Brasil no Canadá, sediada em Ottawa, no estado de Ontario, preferiu não se pronunciar. Por meio da assessoria de imprensa, o Itamaraty informou que está em contato permanente com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) para acompanhar os desdobramentos jurídicos do caso. A Embaixada do Brasil na Rússia também já foi contactada.

Como em todos os grandes eventos esportivos, o COB contrata um escritório de advocacia para o período da competição. Os advogados canadenses já foram comunicados sobre o incidente, mas o COB preferiu não divulgar o nome da empresa. Thyê, de 27 anos, nasceu no Rio de Janeiro. O goleiro da seleção atua pelo Clube Paulistano, de São Paulo.

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