domingo, 15 de maio de 2016

Mãe de Cyborg revela lado sensível da lutadora e mágoa com Ronda Rousey

Dona Gorete abre álbum de fotos da juventude da campeã peso-pena do Invicta 
FC e torce por luta contra arquirrival: “Vai ser uma surra de mostrar quem manda”

Por Curitiba
Quem vê a imponente e musculosa aparência de Cris Cyborg, ou suas impetuosas atuações que lhe valeram cinturões no Strikeforce e Invicta FC, não suspeita que, por trás da fachada, há uma menina simples e sensível, devota à religião e à família. Este lado, apenas os mais próximos da campeã veem, e ninguém conhece tão bem quanto sua mãe, Bersima G.A. Moraes, ou Dona Gorete, como é chamada pelos amigos. Normalmente reservada e avessa a entrevistas, ela abriu uma exceção para o Combate.com às vésperas da estreia de sua filha no UFC, e revelou essa face de “menina grande” que poucos já viram.
- Ela é bem assim mesmo. A Cristiane que você vê lutadora é a que você vê aqui falando. Esse jeitinho mesmo. Ela é parceira. Não tem mania, é só meio estressada. Perto de luta, ela fica estressada. É comilona, pega um pacote de bala de goma, enfia na boca e come. Mas quando não pode comer nada, fica estressada, não tem paciência. Nunca estou perto dela, mas por telefone ela liga chorando, desesperada, nessa fase de perder peso. Mas ela é companheira, dá risada, gosta de conversar, é divertida, muito família. Não separa ninguém, seja miserável, coitado, mendigo, ela é a mesma pessoa com todo mundo - diz Gorete.
Mosaico Cris Cyborg  (Foto: Adriano Albuquerque)
A simplicidade e a impetuosidade de Cristiane vieram claramente da mãe, que a criou sem “frescura”. Separada do pai da lutadora desde que ela tinha 4 anos de idade, Gorete nunca deu presentes “de luxo” aos filhos e os ensinou o valor de “vir de baixo e crescer”, de “andar com suas próprias pernas”. E assim foi Cris Cyborg desde criança. Aos nove meses, já andava. Com 10 anos, começou a fazer atletismo e descobriu sua paixão por competição. Saía de casa todo domingo cedo, sem avisar ninguém, e voltava cedo também, sem jamais preocupar a mãe com escapadas para a “balada”.
- Depois das corridas, ela começou no handebol, aí viajava, ia para Cascavel, lugar que ela mais ia para jogar. Mas sempre assim, grandona, muito forte. Quando tinha 12 anos, a gente olhava para ela e parecia um poste. Ela nasceu para ser isso, entende? Nasceu para ser uma atleta. O pessoal que não tem uma definição vai para um lado, para outro, mas ela não, sempre foi focadinha nas coisas dela - conta.
A independência conquistada desde cedo acabou levando Cris ao MMA, algo que a mãe não viu com bons olhos, aos 19 anos, quando ela foi convidada para um teste na academia Chute Boxe e acabou ficando. Para desespero de Gorete, aquela menina que nunca foi namoradeira e nunca deu trabalho apareceu em casa toda tatuada e já de braço dado com Evangelista Cyborg, lutador que se tornaria seu marido pouco depois e que acabou dividindo com ela o apelido que a marcou eternamente. Pior ainda foi quando Cris resolveu trancar a faculdade de educação física para seguir carreira como lutadora.
- Eu briguei, reclamei, porque você quer ver o filho formado. Você não vai saber o caminho que vai dar. Se você tem uma faculdade, outro caminho paralelo, é diferente de você trancar. Para começar, eu já não queria que ela fizesse educação física, é uma profissão que não tem um grande futuro. É para dar aula e essas coisinhas básicas no meio do esporte mesmo. Ela escolheu isso. Aí ela falou, “Vou trancar”, não adianta dizer não, porque quando as pessoas decidem o que vão fazer da vida, falar “não” não adianta, elas já sabem o que querem. Talvez, se ela tivesse terminado, faltavam dois anos... A pessoa já não é mais criança, já conhece o que quer, sente o que quer. Trancou, trancou, fazer o que? Aí começou, disse que ia para os Estados Unidos, vou dizer “não”? Foi. Na cara e na coragem, e o Cyborg falava que não ia, não queria ir. Mas se ele não fosse, ela ia sozinha. Aqui não tinha treino, ela ia treinar lá e foi embora, acabou.
Cris Cyborg foi para os EUA em 2008 e, a partir daí, se estabeleceu como a lutadora mais dominante no MMA feminino em todos os tempos. Desde que sofreu uma derrota em sua primeira luta profissional, ainda no Brasil, em 2005, não perdeu mais, e conquistou cinturões no peso-pena (até 65,7kg) no Strikeforce e Invicta FC. Apesar de todo o sucesso internacional obtido pela filha, Dona Gorete jamais assistiu a uma de suas lutas, traumatizada com um combate de Wanderlei Silva que assistiu e, mais tarde, com a chocante lesão na perna sofrida por Anderson Silva em 2013. Agora, com a tão esperada estreia de Cris no Ultimate, logo em sua cidade, Gorete está balançada e ainda não se decidiu se vai à Arena da Baixada neste sábado.
UFC Bersima Moraes, mãe da Cris Cyborg (Foto: Adriano Albuquerque)Bersima Moraes, a Dona Gorete, mãe da Cris Cyborg: jeito simples e instinto protetor (Foto: Marcelo Barone)
- Olha, eu mandei fazer até um vestido para ir (risos). Mas ainda não sei se vou. Ela falou, “Não, você vai”, mas não sei. Eu acho que eu traumatizei. Acho uma coisa meio pesada, ela nunca se machuca, graças a Deus, mas você fica com medo do que vai acontecer. Acho que o meu medo é saber o que pode acontecer, é não ver o que vai acontecer. Eu sempre fico rezando, mas vou dormir tranquila. E quando vou dormir tranquila é porque não vai acontecer nada de errado. Eu não fico nervosa, sempre tenho aquela segurança. Se eu ficar nervosa é porque está acontecendo coisas, mas se eu deitar e dormir, não tem nada de errado.
Existe uma luta a que Bersima não teria dúvidas de assistir: uma potencial superluta contra Ronda Rousey, ex-campeã peso-galo do UFC. Por anos, a americana atacou sua filha na mídia de todas as formas possíveis, desde críticas ao resultado positivo num exame antidoping feito por Cyborg em 2011 a comentários pesados sobre sua aparência física, comparando-a a um homem. O presidente do Ultimate, Dana White, a apoiou e afirmou que a brasileira parecia “Wanderlei Silva de saias”, inclusive ridicularizando sua forma de andar numa infame entrevista coletiva em 2014. As declarações dilaceraram Cyborg por dentro, revelando seu lado mais sensível.
- Ela só tem tamanho. É só o tamanhão dela, mas aquilo (comentários preconceituosos) magoava muito. Ela ligava chorando, e eu sempre dizendo que a gente não pode ligar para o que dizem. Ela é uma pessoa pública, tem que passar por cima. É assim que acontece. Não adianta querer ficar chorando porque falaram isso ou aquilo. O Dana falou um monte de bobagem dela, né? Aquela Ronda também... Se pudesse, eu batia nela, porque falou muita coisa. Eu leio tudo, acompanho tudo, tudo que sai eu sempre leio de noite em casa. Dou uma olhada e fico quieta. Me magoa, a minha vontade é pegar e... Ela me ligava contando, chorando, e eu dizia “deixa isso passar, amanhã é outra dia, Deus é bom, ele vai saber tirar dessa situação”. E ela (Ronda) acabou saindo, perdeu a luta, a bonequinha que era, né? Ninguém é intocável, um dia vai ter um problema. Ela perdeu e pegou alguém que quebrou o queixo que ela achava que ninguém quebrava, porque não tinha ninguém que pegasse ela de jeito. Agora a Cristiane chegou no lugar que ela tinha que chegar, sem ofender ninguém, sem falar mal de ninguém. Só foi ofendida. Chegou a hora da Cristiane ver que tudo que falaram dela não teve valor, não precisava ter chorado como ela chorava, ficar magoada. Ela venceu, passou por cima de tudo isso e acabou.
Dona Gorete tem medo de avião, se recusa a se mudar para os EUA - apesar de ter passado meses no país apoiando a filha quando ela se separou de Evangelista - mas se vê capaz de embarcar direto para a Califórnia para assistir ao tão aguardado acerto de contas com Ronda. A mágoa é tanta que faz a reservada mãe soltar seu instinto protetor.
- A Cris não tem que enfrentar a Ronda, ela tem que bater na Ronda, porque ela não vai durar três segundos na frente da Cris. Ela vai moer, porque Cris e Ronda não é luta, é vingança. Ela falou tão mal da Cristiane que eu acho que a Cris vai pegar e moer, não vai ter uma luta. Falou muita porcaria. A luta com a Ronda tem que sair, para provar que a Ronda só é a bonequinha de enfeite, não é uma lutadora. Ali a Ronda falou muita coisa que ofende a família, a mãe, o pai, o irmão. Se tiver uma luta entre Ronda e Cris, eu quero assistir e ver a surra que ela vai levar. Não vai ser uma surra de lutinha, vai ser uma surra de mostrar quem é mesmo que manda. Aí a Cristiane pode parar de lutar, vir para cá comigo vender pano (risos) - concluiu Dona Gorete. 

O UFC 198, neste sábado, está previsto para começar às 19h (horário de Brasília), com a primeira luta do card preliminar. O Combate.com fará a transmissão em tempo real do UFC 198 com todos os detalhes, e o Combate transmitirá todas as lutas ao vivo.

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