terça-feira, 13 de agosto de 2013

Yelena Isinbayeva dá show em casa e retoma trono do salto com vara

Recordista mundial levanta torcida russa e conquista tricampeonato mundial em seu último ato antes de interromper a carreira para ser mãe

Por Marcos Guerra Direto de Moscou
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As mãos cerradas erguidas ao ar são a marca de uma Yelena Isinbayeva em euforia. A russa corre ao encontro de seu técnico e de uma multidão que saúda sua rainha no estádio Luzhniki Moscou. Ela está de volta ao trono do salto com vara do Mundial, justamente em seu último ato antes de interromper a carreira para tentar engravidar. Seu futuro filho poderá dizer que a mãe é recordista mundial, bicampeã olímpica e agora três vezes campeã mundial. A brasileira Fabiana Murer, que defendia o título, acabou na quinta posição e também prestou homenagem à rainha de sua modalidade. A noite era da anfitriã e ninguém estragaria a festa em Moscou, que teve até tentativa de quebra de recorde mundial.
- No meu subconsciente, sabia que essa talvez tenha sido minha última apresentação, porque vou parar para ser mãe e não sei se voltarei no mesmo nível. Queria ter uma última apresentação brilhante. Estou feliz com o resultado e com o ouro. Se não conseguir voltar, posso me aposentar com o coração limpo - disse Yelena.
Os russos sentirão saudades dos voos de sua campeã. O mundo sentirá a falta da Yelena Isinbayeva, ainda que ela não demore muito para voltar. O salto com vara precisa de sua rainha.
mosaico Isinbayeva medalha de ouro salto com vara atletismo moscou (Foto: Editoria de Arte)
Tanto Fabiana Murer quanto suas principais rivais abdicaram dos saltos nas alturas menores. A brasileira, Yarisley e Jennifer só começaram a saltar na marca de 4,55m, a mesma que classificou todas as finalistas. Isinbayeva queria descansar ainda mais e optou por entrar na competição já em 4,65m.
A americana foi a primeira das favoritas a saltar e sequer conseguiu voar no patamar do sarrafo, mas reclamou de uma interferência externa e conseguiu voltar a tentativa, quando foi perfeita. Yarisley também não teve problemas para avançar de primeira. Era a vez de Fabiana encarar o sarrafo na mesma altura que teve trabalho na classificatória. Mas agora ela já estava ambientada com a velocidade da pista, com o clima e o vento do Luzhniki. A campeã mundial de Daegu passou com tranquilidade pelos 4,55m.
 A briga começou a pegar fogo a 4,65m. O estádio Luzhniki foi ao delírio. Isinbayeva estava começando sua última competição antes da pausa para ser mãe. Talvez até a última grande apresentação da recordista mundial, já que ela não tem certeza se vai retornar em alto rendimento. Mesmo com uma multidão a impulsionando, a russa atacou errado o sarrafo e o derrubou antes de chegar ao ápice de seu voo. Só que o filme do Mundial de 2009, quando ela nem conseguiu marca não se repetiu. Não em casa. Yelena foi para a segunda chance e voou.
Yarisley Silva teve dificuldade ainda maior nos 4,65m. A líder do ranking mundial só passou pelo sarrafo na terceira chance. Jennifer Suhr, por sua vez, decidiu não saltar nessa altura e voltar no sarrafo de 4,75m. Foi quando Fabiana assumiu a ponta. A brasileira ainda desviou um pouco para a direita, mas sobrou novamente e continuou sem erros. Iguais a ela, somente a alemã Silke Spiegelberg e a russa Anastasia Savchenko.
fabiana murer atletismo moscou (Foto: Getty Images)Campeã mundial de 2011, Fabiana Murer terminou em quinto lugar (Foto: Getty Images)
Fabiana brigou para defender seu título mundial. A cara fechada mostrava a concentração da brasileira para tentar fazer sua melhor marca do ano e continuar na luta pelo pódio. Ela voou alto, mas o ouro de Daegu não se repetiu. Nas suas três tentativas, a paulista tocou o sarrafo na queda. Quase não ficou deitada no colchão, lamentando a quinta colocação. Ela se levantou, despediu-se da torcida no Luzhniki de cabeça erguida.
Isinbaeyva, Suhr e até mesmo Yarisley Silva passaram pelos 4,75m. Às favoritas, juntou-se a surpresa alemã Silke Spiegelberg, mas não entrou no pódio. Foi a única que não passou dos 4,82m. A cubana precisou de três chances novamente para garantir uma medalha. Jennifer Suhr se manteve na liderança passando na segunda chance, assim como a anfitriã. Yelena fez seu voo mais alto de 2013 até então para fazer o Luzhniki vibrar.
Ela ergueu os dois braços ao ar, com as mãos cerradas em uma comemoração emocionada, com brilhos nos olhos. Não diria até logo aos seus fãs sem um grande ato. E que ato. A saltadora se encheu de confiança e passou de primeira a barreira de 4,89m para só assistir às rivais tentarem em vão superá-la. A campeã olímpica, Jennifer Suhr, ficou com a prata. A cubana Yarisley levou o bronze. A coroa dourada, por sua vez, ficou em casa.
- Antes do Mundial, sabia que seria preciso saltar 4,89m ou 4,90m para poder ganhar. Não cheguei com uma boa marca este ano, não tive grandes vitórias. As outras meninas tinham resultados melhores. Mas eu me conheço, sabia que uma multidão estaria comigo. Meu estádio, minha torcida. Um Mundial em casa ajuda. Se as olimpíadas tivessem sido em Moscou no ano passado, o resultado seria diferente (ela foi bronze em Londres). Sabia que esta noite, todo mundo estava comigo, eu sentia a energia, as emoções. Estou muito feliz, e eu venci, porque minha família estava na arquibancada, Trofimov, meu técnico, me ressuscitou, eu quero agradecê-lo - disse a campeã mundial, que correu para abraçar o técnico assim que a vitória foi confimarda.
Yelena ainda tentou bater seu recorde mundial de 5,06m e voou alto, mas não conseguiu (confira no vídeo acima). Nada que tirasse o brilho dos olhos da campeã, que fez a volta olímpica, deu pirueta e até um forte abraço no Rumpo, o pardal que é mascote da competição. Ela pode tudo. É a rainha de Moscou.

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