sexta-feira, 31 de julho de 2015

Antes de ser lutadora, Bethe já quis ser
astronauta, dançarina e cantar ópera

Desafiante ao título do peso-galo do Ultimate, brasileira optou pelo MMA aos 28 anos, mas antes fez a família "sofrer" com sua voz: "Eu era horrível. Cantava Pavarotti"

Por Rio de Janeiro
Bethe Correia Coletiva UFC 190 (Foto: André Durão)Bethe Correia Coletiva UFC 190 (Foto: André Durão)
Hoje Bethe Correia é a desafiante ao título do peso-galo do Ultimate e fará a luta principal do UFC 190, neste sábado, no Rio de Janeiro. Entretanto, sua história poderia ter percorrido caminhos bem diferentes. A opção pelas artes marciais veio apenas aos 28 anos e, aos 32, ela agora é protagonista de um evento da maior organização de MMA do mundo. Antes disso, chegou a sonhar com carreiras de astronauta, dançarina e, acreditem, cantora de ópera.
- Já quis ser veterinária, astronauta, dançarina do ventre, do "É o Tchan", quis ser médica, me formei em contabilidade, quis ser cantora de ópera... Minhas irmãs tampavam os ouvidos. Eu passava o dia inteiro cantando ópera, Pavarotti, era horrível porque não sei cantar. Minha família sofreu com as minhas mutações até eu descobrir o que realmente era. Acho que nasci lutadora, mas demorei a descobrir isso - revelou, durante o "Media Day" do UFC Rio 7, nesta quinta-feira, em um hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Sobre o embate contra Ronda, Bethe decretou: é a maior rivalidade da história do MMA feminino, acima das que a americana tem com Miesha Tate ou Cris Cyborg.
- Nunca teve uma repercussão tão grande como essa. A Cris Cyborg tem essa rivalidade com a Ronda, tem a da Miesha também, mas nenhuma delas chegou na proporção que está, da Ronda ter ódio de mim. É uma novela real que está acontecendo e todos querem ver o final dela, o resultado disso tudo. Até eu quero ver o resultado - analisou.
CONFIRA A ENTREVISTA DE BETHE CORREIA:
Você foi bem recebida no treino aberto, mas a entrada da Ronda foi uma verdadeira catarse, com direito ao nome gritado. O que achou? Teme que a torcida se divida no sábado?
Bethe Correia: Eu não tenho raiva do povo brasileiro. Eles têm o direito de escolher por quem torcer e gritar, mas sei que quando eu for campeã eles vão ficar muito felizes e me aplaudir. O Brasil merece uma campeã, sei o que o Brasil passa e eles merecem alguém que sente as mesmas dificuldades sendo campeã. É normal eles torcerem pelos heróis americanos. A Ronda tem a imagem de heroína, já fantasiam ela assim no Brasil. Não têm nenhuma heroína que os represente. O Brasil é muito carente e se apega nisso. Confio no Brasil, sei que vão torcer por mim. Chamo todos os brasileiros para torcerem por mim. O Brasil merece uma campeã daqui, uma representante daqui, alguém que lute por aqui. Quero usar minha fama em prol do povo brasileiro. Sei que na arena todos vão torcer por mim. A Ronda e os americanos só querem curtir, passar férias, tomar caipirinha, mas não sabem o que o Brasil vive, nossas dificuldades, nossa pobreza. Não sabem o que é treinar com equipamento enferrujado. Eles têm toda a tecnologia.
Qual foi o dia mais difícil na carreira?
Foi quando fui convocada para o UFC e treinava numa academia que era uma salinha. Ia lutar com a Julie Kedzie, veterana, com 10 anos de MMA, treina na academia do Greg Jackson, que é uma das melhores do mundo, e eu numa salinha pequena, com um tatame cheio de buraco. Ralava o joelho o tempo inteiro, torcia o pé nos buracos, tinha uma grade enferrujada e um saco de pancadas furado. Eu, novata no MMA, tive que me preparar para vencer uma veterana nessas condições. Foi um desafio muito grande para mim.
Ganhando o cinturão, como vai ser a comemoração do título?
A comemoração será com o povo. Eu sou do povo. Quero ver a minha família, ir para Campina Grande, dar um abraço no meu pai e na minha mãe. Nunca vi meu pai e minha mãe sofrerem tanto na vida como sofrem desde que decidi ser lutadora de MMA. Eles nunca mais dormiram em paz (risos). Sofrem muito. Quero pegar o cinturão, dar um abraço neles e falar: "Estou bem, estou feliz".
A mãe da Ronda disse que deseja que a filha vença de forma rápida e sugeriu que quebre seu braço. Como recebeu essa declaração?
Engraçado que a minha mãe falou a mesma coisa. "Por favor, termine a luta em 10 segundos, nocauteie e quebre o queixo dela". Isso é coisa de mãe. Mãe não quer ver a filha apanhando, se machucando, e a mãe da Ronda tem a mesma preocupação. É mais fácil você derrubar alguém e terminar rápido, na chave de braço, assim sai sem qualquer machucado. Minha mãe quer que eu chegue, dê o primeiro murro, a Ronda caia, eu fique bem e volte para os braços dela. É normal.
Acredita que a ida da Ronda em direção aos fãs no treino aberto foi uma forma de querer te deixar com ciúmes do carinho que o público demonstrou com ela?
Se ela falou que quer me humilhar no meu país, a primeira coisa que ela vai querer fazer é jogar o povo brasileiro contra mim. Qual a melhor forma de fazer isso? Com lorotas, falando, fingindo que ama o país. Como ama se nunca viveu aqui, só veio aqui competir? Nunca passou férias, não sabe o que é o Brasil, não conhece como eu conheço. Não tive ciúmes, estou muito preparada para isso, sei o que é o Brasil, como o povo é revoltado. Eu me revolto com o que acontece na política. Desejaria que o Brasil tivesse a política bonita, saúde, educação, esporte para todos, investimento no esporte. Isso me revolta tanto que me dá vontade de desistir às vezes, mas não desisto. Entendo a revolta do povo. Às vezes se revoltam por isso e às vezes é mais fácil abraçar o que aparenta ser bonito, ser perfeito. A imagem que eles têm da Ronda é essa.
Treino aberto UFC 190 Ronda Rousey (Foto: André Durão)Ronda Rousey correu para torcida após recepção calorosa no treino aberto do UFC 190 (Foto: André Durão)

Como é, pela primeira vez, lidar com o fato de ser uma das protagonistas de um evento do UFC?
Batalhei por isso, mereci isso. Não vejo de outra forma. Quem me critica e acha que não era a minha hora, está muito enganado. Não tem nenhuma menina no momento que mereça mais do que eu essa disputa de título. Gosto disso, nasci para isso e quero ser diferente. A responsabilidade é muito grande e tenho consciência disso.
Ronda é a maior favorita do UFC 190. Como vê isso?
É normal, ela ganha prêmios, títulos, imagem, estão tentando implantar ela como uma super humana, mas é só propaganda, marketing em cima dela. Só dela ser campeã, já é favorita. Quando eu for a campeã no sábado, (na próxima luta) vou ser a favorita. É normal. Mas sei que domingo de manhã teremos muitos novos ricos, porque quem apostou em mim vai acordar com o bolso cheio. Só peço uma flor pelo menos de presente (risos).
Essa não é a primeira grande rivalidade que acontece no Ultimate. Anderson e Sonnen, por exemplo, tiveram atitudes amistosas após a luta. Vê isso acontecendo com você e Ronda?
Homem leva as coisas mais na brincadeira. Mulher não brinca não. São mais sinceras com os sentimentos, levam mais a sério, tem uma rixa maior com outra mulher. Não sei se pelo fato de as academias serem carentes de mulheres, e homens sempre treinarem com homens. Quando tem outra mulher no território, a mulher já fica instigada. Quer sempre ser a melhor, a mais bela, mulher é mais vaidosa. Homem é mais parceirão. Acredito que, quando acabar a luta, ainda não estará tudo resolvido. Quando transmito muita raiva nos treinos pela adversária, não acaba na luta. Demora um pouco mais. Com o tempo isso passa.
Acredita que essa rivalidade entre vocês vá se prolongar por mais lutas?
Não sei como vai ser depois dessa luta, se os ânimos vão se acalmar, se estará tudo resolvido, ela bem comigo, e eu com ela. Não sou uma pessoa de guardar mágoa. Tenho o coração muito bom, mas se continuar mexendo comigo, teremos mais lutas sim. Não levo desaforo pra casa, não engulo sapo, é minha característica, característica do povo brasileiro. Ninguém quer ser mais humilhado, passar por mais dificuldades, já basta a vida ser difícil. Sou aguerrida mesmo. Se me tratar bem, trato bem também
Qual a maior rivalidade da história do MMA feminino? Ronda e Miesha, Ronda e Cris Cyborg ou Ronda e Bethe?
Com certeza sou eu e a Ronda. Nunca teve uma repercussão tão grande como essa. A Cris Cyborg tem essa rivalidade com a Ronda, tem a da Miesha também, mas nenhuma delas chegou na proporção que está, da Ronda ter ódio de mim. É uma novela real que está acontecendo e todos querem ver o final dela, o resultado disso tudo. Até eu quero ver o resultado.
Ronda Rousey e Bethe Correia encarada UFC 190 (Foto: André Durão)Ronda Rousey e Bethe Correia fizeram encarada tensa no "Media Day" do UFC 190 (Foto: André Durão)
Em entrevista ao Combate.com, sua mãe disse que você gostava de fazer dança do ventre e de imitar as coreografias do grupo "É o Tchan". Se ganhar, vai ter dancinha na comemoração?
Dancinha sai instintivamente. Não planejo uma dancinha. Minhas danças fluem na hora. Teve uma vez que dancei um pouquinho de dança do ventre depois da luta. Realmente, quando era adolescente, mudava muito. Por isso demorei a me encontrar, a saber o que queria. Só fui descobrir minha profissão aos 28 anos. Já quis ser veterinária, astronauta, dançarina do ventre, do "É o Tchan", quis ser médica, me formei em contabilidade, quis ser cantora de ópera... Minhas irmãs tampavam os ouvidos. Eu passava o dia inteiro cantando ópera, Pavarotti, era horrível porque não sei cantar. Minha família sofreu com as minhas mutações até eu descobrir o que realmente era. Acho que nasci lutadora, mas demorei a descobrir isso. Tenho as características, mas não tive um parente na luta para eu saber disso.
Combate transmite o evento ao vivo, no sábado, a partir de 19h30 (horário de Brasília), e oCombate.com acompanha em Tempo Real no mesmo horário, com vídeo ao vivo das duas primeiras lutas do card preliminar. Na sexta-feira, site e canal exibem a pesagem oficial ao vivo às 17h30. Os telespectadores podem interagir com a transmissão no Twitter através da hashtag #UFCRionoCombate. Confira o card completo:

UFC 1901 de agosto, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL - a partir de 23h (horário de Brasília)Peso-galo: Ronda Rousey x Bethe Correia
Peso-meio-pesado: Mauricio Shogun x Rogério Minotouro
Final do TUF Brasil 4 peso-leve: Fernando Açougueiro x Glaico França
Final do TUF Brasil 4 peso-galo: Dileno Lopes x Reginaldo Vieira
Peso-pesado: Stefan Struve x Rodrigo Minotauro
Peso-pesado: Antônio Pezão x Soa Palelei
Peso-palha: Cláudia Gadelha x Jessica Aguilar
CARD PRELIMINAR - a partir de 20h (horário de Brasília)Peso-meio-médio: Demian Maia x Neil Magny
Peso-meio-pesado: Rafael Feijão x Patrick Cummins
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Nordine Taleb
Peso-galo: Iuri Marajó x Leandro Issa
Peso-médio: Vitor Miranda x Clint Hester
Peso-galo: Hugo Wolverine x Guido Cannetti

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