sexta-feira, 31 de julho de 2015

Noivo e técnico de Bethe admite que terá de esconder nervosismo sábado

Edelson Silva diz que terá de se dividir entre profissional e ator para controlar a adrenalina e não deixar a emoção influenciar no papel de córner contra Ronda Rousey

Por Rio de Janeiro
Se ser noivo de uma lutadora de MMA não deve ser uma das coisas mais fáceis do mundo, o que dizer de ser noivo e treinador de uma desafiante ao cinturão do maior torneio de MMA do planeta? Pois é exatamente essa a vida de Edelson Silva, noivo e treinador de Bethe "Pitbull" Correia, que enfrentará a campeã Ronda Rousey no próximo sábado, no Rio de Janeiro, pelo título feminino do peso-galo do UFC. Em entrevista ao Combate.com, Edelson falou sobre a dificuldade de conciliar os dois papéis e de ter de se equilibrar entre a vida pessoal e a profissional em um momento decisivo na carreira da lutadora, que também é sua mulher.
Edelson Silva UFC MMA (Foto: Raphael Marinho)Edélson falou sobre comentário polêmico de Bethe, que Ronda acreditou se referir a suicídio do seu pai: "Bethe é a mesma pessoa, não retira o que falou. As vezes sai uma palavra automática que não pensou direito" (Foto: Raphael Marinho)


- Estamos praticamente casados, moramos juntos há um ano e quatro meses, e pretendemos casar futuramente. A parte profissional eu procuro separar. Sou muito profissional, separo muito o papel de namorado, de marido. Sou rígido nos treinamentos e, por conta disso, acabo cobrando mais, pois ela é minha mulher. Quero que ela aprenda mais, que bata mais. Como sou do boxe, cuido e quero que ela explore mais essa parte, mas me controlo no que diz respeito ao relacionamento. Eu e Bethe não brigamos muito, é difícil acontecer. Eu controlo isso de briga, do emocional, porque reflete no treino e na luta, e atrapalharia a carreira dela. Quando vejo que vai estalar alguma coisa, vou pra sala, vejo TV, vou pra piscina e tento evitar. Não que deixe de existir discussão, que todo casal tem, mas nesse período de camp eu fico neutro. Em casa a gente evita falar de luta, e troca a parte de atleta e treinador pra marido e mulher. Não levamos isso pra casa.

O temperamento forte e o jeito espontâneo de Bethe, que lhe renderam não só a chance de disputar o cinturão, como também a ira de Ronda Rousey por conta de um comentário despretensioso da brasileira, aconselhando a campeã a não se matar após uma eventual derrota na luta principal do UFC 190 - e que a americana associou ao suicídio do seu pai, quando era pequena - são vistos por Edelson como características da personalidade da lutadora. Segundo ele, Bethe nunca vai retirar o que disse, e diz que ela foi espontânea e pura ao dizer o que disse.

- Bethe é a mesma pessoa, original, ela não retira o que falou. Tem espírito forte e palavra firme. Isso de dizer que vai ganhar, nocautear, é típico dela, de paraibana, arretada. As vezes sai uma palavra automática que não pensou direito. Isso de provocar acontece no boxe, no MMA e em outros esportes de contato, porque vende a luta. Só que a coisa começou a ficar mais séria, virou pessoal. Mas vejo que mulher é assim, mais que homem. Tem isso de briga de ego de uma com a outra. Vai ser uma luta boa, muito aguerrida, vai ser bom pro público e para as duas. Acredito que quando a Bethe falou algumas coisas, ela foi pura, sem intenção. Mas durante o combate pode haver um momento de raiva, de sair do controle, e tudo pode acabar se virando contra ela. Ela pode procurar mais a luta e perder o controle, parar de pensar, sair do foco, e acabar dando golpes ilegais ou errando golpes por nervosismo, ficar fora de si. Talvez isso mexa com ela. Se ela for forte de espírito e cabeça, pode se controlar bem, mas tem gente que não controla.

Mesmo com experiência em MMA e em lutas de peso, Edelson não esconde a ansiedade pela luta do próximo sábado. Para ele, no momento em que estiver no córner de sua atleta e noiva, o desgaste vai ser dobrado, pois ele terá de ser técnico e ator.

- Fico ansioso. Estou acostumado a estar no UFC, a disputar cinturão. Treinei grandes nomes como o Rogério Minotouro, Rodrigo Minotauro e Anderson Silva. Fiz seis defesas de cinturão, fui córner duas vezes do Rodrigo, mas a adrenalina por ela ser minha mulher é maior. Tento controlar, mas sei que na arena vai ser pesado, mais ainda pela responsabilidade de ela não se machucar. Tenho que controlar a ansiedade, porque vou estar com microfone, e para controlar essa parte tem que ser forte, fingir que não estou emocionado. Tenho que ser um artista e um profissional.
Edelson Silva UFC MMA (Foto: Raphael Marinho)Edelson Silva celebra noiva Bethe Correia: "Podem não querer entender, mas a Bethe é um fenômeno, uma 
exceção. Não é todo mundo que consegue lutar pelo cinturão do UFC em três anos." (Foto: Raphael Marinho)


O treinamento para a luta - o primeiro que comandou integralmente com Bethe, por quatro meses - foi completo, segundo Edelson. Após treinar Bethe por dois meses e vê-la nocautear Shayna Baszler, Edelson acredita que o maior tempo de trabalho para o duelo contra Rousey pode ser decisivo para que o cinturão da categoria mude de mãos.

- Treinei Bethe só pra uma luta, contra a Shayna Baszler. Foi a primeira vez que a treinei dois meses, e ela ganhou por nocaute. Não tenho experiência das oito lutas passadas, não sei o que falar delas, porque foi outro treinamento. A partir do momento que botei a mão na Bethe, consegui um nocaute contra a Shayna. Este agora foi um camp longo, durou quatro meses. Exploramos muito a parte física, tentamos explorar a parte de trocação, boxe e muay thai. Fizemos a parte de judô com sparrings específicos e treinamos muito chão. A parte física foi muito forte também, com o professor Mario Novaes. Estamos muito bem pra surpreender. Ela é muito forte, focada, treina com homens, muito profissional. Acredito que temos uma futura campeã, se Deus quiser. 
Edelson Silva e Bethe Correia (Foto: Reprodução / Instagram)Edelson Silva e Bethe Correia estão "quase casados", e moram 
juntos a um ano e quatro meses (Foto: Reprodução / Instagram)
Há apenas três anos no MMA, Bethe Correia é vista como um fenômeno do esporte. Para Edelson Silva, o caminho que ela percorreu até a disputa de cinturão prova que a lutadora é especial. Mas o pouco tempo de estrada no MMA também tem suas armadilhas, como a ansiedade.

- Ela tem essa ansiedade, até porque tem só três anos que está no MMA e já está lutando pelo cinturão. Podem não querer entender, mas a Bethe é um fenômeno, uma exceção. Não é todo mundo que consegue lutar pelo cinturão do UFC em três anos. Ela nunca foi atleta, trabalhava, tinha outra vida, e mudou do nada. Isso se tornou um sonho pra ela, e pra controlar é meio complicado. Bethe fica ansiosa para lutar logo, querendo que chegue o dia da luta e de se livrar do período de camp, privada de tudo, sem comida nem diversões. Temos que controlar essa parte. Dou conselho pra se concentrar na luta, assistir às lutas da Ronda, pensar nos contragolpes, ver o que vai fazer na luta. Também falo para evitar sair muito, estar no povão. Tem que ficar focada. Estou acostumado com isso com outros atletas. Na verdade, a Bethe já está pronta, agora é só manutenção. Ela assistiu a todas as lutas da Ronda, leu sobre a história, está bem focada. Acredito que a Ronda também está, e será uma grande luta.

Para o treinador, cada lutadora irá para o duelo buscando as suas raízes. Na sua opinião, Ronda não lutará em pé com Bethe por muitos rounds, pois buscará sua zona de conforto se sentir que está levando desvantagem.

- A Bethe vem da trocação, do contato. É a sua origem. Ela gosta de porrada, e vai trocar. Não que ela seja leiga de chão, ela sabe lutar ali, sabe quedar, defender quedas, mas a Ronda vai procurar as origens dela. Vai tentar trocar, mas se vir que a Bethe é mais dura, que tem mais punch e está melhor em cima, vai procurar a sua origem, que é o judô, para derrubar e tentar finalizar, como sempre faz. Não acredito que ela vá levar essa luta para o terceiro, quarto ou quinto round sem tentar derrubar. Ela falou que vai trocar com a Bethe, mas acho difícil ela entrar nesse ritmo de porrada sem querer derrubar. Assim que ela tomar uma mão forte, vai voltar pras origens dela, que ela sabe fazer muito bem.
Fisicamente, segundo Edelson, Bethe está preparada para manter o ritmo de luta por cinco rounds, mas o técnico acha muito improvável que a luta vá até o quinto round caso as duas atletas mantenham a disputa em pé. No entanto, se tiver que escolher uma forma de a luta acabar, Edelson não tem dúvidas: nocaute.

- Ela está sobrando para cinco rounds. Tem a mão pesada e muita resistência. Acredito que pode ter um nocaute. Nocaute é consequência da luta, a gente não o procura. Como ela é da trocação, é bem possível que aconteça. Por pontos é difícil, porque são duas lutadoras duras, de nível. Pode ter nocaute ou finalização, porque se forem nessa de trocar 25 minutos de porrada, é muito difícil. Sou do boxe, amo boxe, mas hoje eu estou no MMA, e não no boxe. MMA é o conjunto de artes marciais, mas acredito muito na trocação da Bethe, em como ela usa o cotovelo, o joelho, como chuta e, principalmente, como aplica o boxe. Gostaria que a luta ficasse em cima como a Ronda prometeu. Se ficar em cima e a Bethe ganhar, ela terá cumprido sua palavra. Pro público também será melhor trocação, como a luta entre Minotouro e Shogun no Pride, porque tem mais adrenalina. mas quero um nocaute, lógico (risos).

Edelson Silva também falou sobre a confusão em que se envolveu, ao lado de Bethe e da irmã da lutadora, Suzana, no Rio de Janeiro, com um taxista. Segundo ele, o caso está na Justiça.
Bethe Correia e Edélson brigam com taxista no Rio (Foto: Reprodução/ Youtube)Edélson Silva afirma que caso de briga com taxista foi para Justiça, e diz que a história foi "mal contada" (Foto: Reprodução/ Youtube)
- Ficou na mão da Justiça pra eles tomarem conta. Ainda não está resolvido. Já houve uma audiência, mas não viemos porque estávamos viajando, fazendo mídia do UFC. Mas quem conhece muito bem a mim e a Bethe sabe que aquilo está mal contado. O vídeo só me mostra agredindo, e não mostra o taxista me agredindo, saindo do carro, empurrando... isso não foi mostrado. Só me pegou batendo. Mas estou acostumado com críticas, isso não me abala. A consciência está limpa. Eu não ia pagar um táxi que não andei. Ele queria que eu pagasse um táxi que eu desisti. Queria que pagasse da distância que ele saiu até lá. Isso não existe em lugar nenhum.

O treinador, que afirma ter apenas defendido sua namorada e sua cunhada além de si mesmo, diz que se controlou antes de partir para o confronto, e que poderia ter feito muito mais do que fez, por ser um instrutor de boxe e saber lutar. 

- Eu não errei, me controlei dentro do possível, mas sou homem, tenho espírito de homem. Não é porque sou treinador de boxe que tenho que apanhar dos outros na rua. Estava com minha mulher e minha cunhada, e tinha que defender as mulheres. Sou o homem da casa. Desde que começou a discussão verbal, ele partiu pra cima de mim primeiro. Eu não teria como bater nele se ele não saísse do carro e partisse pra cima de mim. Eu tive que me defender. Depois ele deu a volta e empurrou minha cunhada. Isso não foi mostrado. Tive que tomar uma atitude. Acho que não fiz nada. Pela experiência que eu tenho, poderia fazer mais, mas não fiz. Só fiz o que fiz porque ele ameaçou falando que ia pegar arma no carro. Eu não sabia que arma era. Evitei que ele abrisse a porta. Ele deu a entender que eu o empurrei. Foi quando começou o combate. Eu não ia tocar nele, mas ele me cinturou, tentou me derrubar e eu esgrimei. Isso não foi mostrado. Só evitei que ele pegasse uma arma, porque não sabia se era arma de fogo, facão... - finalizou.
Combate transmite o evento ao vivo, no sábado, a partir de 19h30 (horário de Brasília), e oCombate.com acompanha em Tempo Real no mesmo horário, com vídeo ao vivo das duas primeiras lutas do card preliminar. Na sexta-feira, site e canal exibem a pesagem oficial ao vivo às 17h30. Os telespectadores podem interagir com a transmissão no Twitter através da hashtag #UFCRionoCombate. Confira o card completo:
UFC 1901 de agosto, no Rio de Janeiro
CARD PRINCIPAL - a partir de 23h (horário de Brasília)Peso-galo: Ronda Rousey x Bethe Correia
Peso-meio-pesado: Mauricio Shogun x Rogério Minotouro
Final do TUF Brasil 4 peso-leve: Fernando Açougueiro x Glaico França
Final do TUF Brasil 4 peso-galo: Dileno Lopes x Reginaldo Vieira
Peso-pesado: Stefan Struve x Rodrigo Minotauro
Peso-pesado: Antônio Pezão x Soa Palelei
Peso-palha: Cláudia Gadelha x Jessica Aguilar
CARD PRELIMINAR - a partir de 20h (horário de Brasília)Peso-meio-médio: Demian Maia x Neil Magny
Peso-meio-pesado: Rafael Feijão x Patrick Cummins
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Nordine Taleb
Peso-galo: Iuri Marajó x Leandro Issa
Peso-médio: Vitor Miranda x Clint Hester
Peso-galo: Hugo Wolverine x Guido Cannetti

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